"É a democracia a funcionar". Cotrim e Chega chumbados para vice presidências
É a democracia a funcionar", assumiu esta quinta-feira o líder parlamentar da Iniciativa Liberal, Rodrigo Saraiva, depois de ter sido anunciado que João Cotrim Figueiredo tinha sido chumbado para vice-presidente da Assembleia da República. E a IL ficou por ali confrontada com o facto de os deputados, por oito votos não terem validado o nome do líder do partido para o cargo.
Esta foi a surpresa da eleição dos membros da Mesa da Assembleia da República e até foi comentada nos corredores parlamentares pelos deputados socialistas, que vaticinavam que o "PSD é que tramou o Cotrim". O líder da IL e deputado obteve 108 votos a favor (menos oito dos necessários para ser eleito) e 110 votos brancos e seis nulos.
Rodrigo Saraiva lamentou o resultado e, em jeito de reprimenda aos pares, lembrou que Cotrim foi um deputado com "zero faltas" e lamentou "que esta Casa não tenha reconhecido o trabalho de João Cotrim Figueiredo". Que, recorde-se, na anterior legislatura era deputado único da IL.
Cotrim Figueiredo assumiu a "derrota pessoal", mas advertiu: "O chumbo da candidatura dá-nos mais força para querer mudar as coisas". Quando questionado sobre se o chumbo da sua candidatura poderia colar o partido ao Chega, Cotrim Figueiredo referiu que "o cargo, do ponto de vista da Iniciativa Liberal, não é assim tão importante". "A nossa vontade é de mudar o país e não se muda com cargos mas sim com políticas", rematou.
A deputada socialista Isabel Moreira lamentou o chumbo do deputado da IL e no Twitter escreveu: "Lamento profundamente que Cotrim de Figueiredo não tenha sido eleito. Quem decidiu chumbar a sua eleição talvez não contasse com a não apresentação de novo candidato, o que foi digno e inteligente".
Sem surpresa, mas com protesto, as candidaturas do Chega a vice-presidente da Assembleia da República - primeiro a de Diogo Pacheco de Amorim e depois de Gabriel Mithá Ribeiro - foram chumbadas pelos deputados.
Pacheco de Amorim só obteve 35 votos a favor (com 183 votos brancos e seis nulos). Depois, o Chega insistiu, apresentando Gabriel Mithá Ribeiro (na foto, em baixo), que voltou a ser chumbado: 37 votos a favor, 177 brancos e onze nulos. "É um dia que não é bom para a Democracia", lamentou André Ventura logo no primeiro chumbo a Pacheco de Amorim, embora tenha dito respeitar "a decisão dos pares". No final do segundo "chumbo", André Ventura manifestou em plenário um "sentimento de profunda indignidade e injustiça" pelo resultado, falando em "maiorias de bloqueio parlamentar".
Tal como tinha sido acordado em conferência de líderes, Ventura adiantou que o Chega não ia apresentar no dia nenhuma outra candidatura, "reservando-se para o fazer quando entender apropriado".
Na votação que decorreu na Sala do Senado e que mobilizou 225 deputados dos 230, também foi escolhido o Conselho de Administração da AR e, numa lista única com representantes de todos os partidos com assento parlamentar, Ventura foi eleito membro daquele órgão.
Foram eleitos vice-presidentes logo à primeira tentativa os candidatos do PS e do PSD a vice-presidentes, respetivamente Edite Estrela e Adão Silva.
Edite Estrela obteve 159 votos a favor, 59 brancos e seis nulos. Adão Silva, do PSD, teve uma votação bastante mais forte: 190 votos a favor, 38 brancos e seis nulos.
À saída do plenário, após revelados os resultados, os deputados do PS comentavam o facto de o candidato do PSD ter tido mais votos do que a do PS, que tem maioria absoluta. E Isabel Moreira também no Twitter sintetizou o que refletiam: "O PS votou em peso no candidato do PSD que, aliás, bateu palmas perante a votação esmagadora. O PSD, por seu turno, não fez o mesmo, claro. Portanto o primeiro sinal de arrogância da maioria absoluta do PS é votar em peso no candidato do ... PSD."
Com os chumbos dos candidatos do Chega e do candidato da IL, Augusto Santos Silva (PS) irá dirigir os trabalhos ao longo da legislatura com apenas dois vice-presidentes (quando o Regimento prevê quatro, um por cada um dos quatro maiores partidos).
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