Do arraso do PS ao apagão do CDS: a noite eleitoral em nove apontamentos
Como era de esperar, a noite eleitoral de domingo resultou em mudanças ao panorama político português. Pela primeira vez desde 1975, o CDS perdeu a representação na Assembleia e a CDU não conseguiu reeleger o seu líder parlamentar. Estes são nove apontamentos a registar destas eleições legislativas.
Depois de ter perdido a câmara de Lisboa para a coligação Novos Tempos (PSD/CDS-PP/PPM/MPT e Aliança), o PS conseguiu voltar a ser a força política mais votada na capital. Com 36,43% dos votos no concelho, os socialistas superaram a percentagem total que os tinha remetido para segunda força política em Lisboa nas autárquicas (34,26%). Nas legislativas, a soma dos partidos que formaram a coligação que elegeu Carlos Moedas não foi além de 29,57%.
O PSD perdeu pela primeira vez em eleições o distrito de Leiria para o PS. Num círculo eleitoral que elege dez deputados, os sociais-democratas conseguiram quatro. Em 2019, o distrito tinha repartido os seus mandatos pelo PSD (cinco), PS (quatro), Bloco de Esquerda (um). Desta feita, o cenário mudou. Além do PSD ter perdido um deputado para o PS, o Chega elegeu um deputado do BE, que, aliás, acabou por ser a 5.ª força política no distrito, atrás da IL.
Os concelhos onde o Chega conseguiu melhores resultados em 2019 saíram fortalecidos. Em Moura (Beja), onde teve a maior percentagem em 2019 (4,68%), o partido saltou para os 18,22%. Em 2019, teve 4,52% em Elvas (Portalegre), crescenedo agora para 18,73%. Em Monforte (Portalegre), conseguiu 18,07% nestas eleições - em 2019 tinha conseguido 4,60%. No entanto, não conseguiu eleger deputados em nenhum destes distritos.
A Iniciativa Liberal (IL) conseguiu ser a terceira força política nos dois maiores círculos do país. Em Lisboa, elegeu João Cotrim Figueiredo, Carla Castro, Rodrigo Saraiva e Bernardo Blanco. No Porto foram eleitos, Carlos Guimarães Pinto e Patrícia Gilvaz. Os outros dois deputados confirmados na noite de domingo foram eleitos em Braga (onde a IL foi a quarta força política) e em Setúbal, distrito em que os Liberais foram o sexto partido mais votado.
À entrada para estas eleições, a CDU mantinha-se como principal força política em apenas dois concelhos: Avis e Mora, no Alentejo. Após a noite de domingo, os comunistas perderam votos nas duas autarquias e deixaram de ter concelhos onde foram os mais votados. Em Avis, tiveram 30,80%, perdendo para o PS por apenas 158 votos. Apesar de ter sido segunda força política em 20 concelhos do país, este é o pior resultado da CDU desde 1975. Um dos principais desaires foi sofrido em Évora, onde não conseguiu eleger nenhum deputado. Tal significou que João Oliveira, o líder parlamentar dos comunistas, que chegou a substituir Jerónimo de Sousa durante a campanha, ficasse de fora da Assembleia da República.
O Bloco de Esquerda (BE) foi o partido que mais deputados perdeu - de 19 passou para cinco. Tendo eleito Catarina Martins e José Soeiro pelo Porto, Mariana Mortágua e Pedro Filipe Soares por Lisboa e Joana Mortágua por Setúbal, os bloquistas perderam deputados nos círculos eleitorais de Aveiro (dois), Braga (dois), Coimbra (um), Faro (um), Leiria (um), Lisboa (três), Porto (dois), Santarém (um) e Setúbal (um).
Em 2019, o Pessoas-Animais-Natureza (PAN) elegeu quatro deputados à Assembleia da República, pelos distritos de Lisboa, Porto e Setúbal. O cenário é agora diferente: o PAN passou a ter uma deputada única (a líder Inês Sousa Real). Apesar de ter sido eleita por Lisboa, os concelhos onde o partido teve maior percentagem de votos foram todos no Algarve: Lagos (2,73%), Olhão (2,70%) e Albufeira (2,47%).
Tal como em 2019, o Livre conseguiu eleger um deputado. Depois de Joacine Katar Moreira, é agora o líder Rui Tavares quem entra no Parlamento. Com a melhor votação de sempre numas eleições (1,28%), foi em Lisboa que o partido conseguiu concentrar a maior percentagem (3,83%) e mais votos. Em 2019, o Livre teve 3,26% da votação do concelho. Os votos passaram de 9508 para 11 637 na capital.
Depois de em 2019 terem eleito cinco deputados, os centristas perderam a representação parlamentar. Há três anos, o CDS-PP teve uma percentagem total de 4,25%; em 2022 conseguiu apenas 1,61%. Isto traduz-se numa perda de quase 130 mil votos em todo o país. Além do concelho de Ponte de Lima, o CDS teve as maiores percentagens de votos em Oliveira do Bairro e Albergaria-a-Velha, no distrito de Aveiro.