Dissidente soviético Serguei Kovaliov morre aos 91 anos
Um dos mais famosos defensores dos direitos humanos da Rússia e figura da dissidência na era soviética, Serguei Kovaliov, morreu esta segunda-feira aos 91 anos, anunciou a sua família.
Galardoado em 2009 com o prémio Sakharov do Parlamento Europeu, Serguei Kovaliov foi um dos líderes do movimento pró-democracia na URSS e passou sete anos num campo de trabalho nas décadas de 1970 e 1980 por "atividades antissoviéticas".
Biólogo de formação, em 1968, quando dirigia um laboratório de biologia na Universidade de Moscovo, envolve-se ativamente na dissidência, tornando-se membro do Grupo de Iniciativa para a Defesa dos Direitos Humanos, o primeiro do género na URSS, o que lhe valeu ser imediatamente afastado do seu posto.
Torna-se próximo do académico dissidente Andrei Sakharov e participa durante vários anos na redação da Crónica dos Acontecimentos Atuais, um boletim clandestino datilografado que dá conta das violações dos direitos humanos na URSS: prisões, internamento psiquiátrico de opositores, a situação nos campos de trabalho, entre outras.
Após a dissolução da União Soviética, Serguei Kovaliov foi o primeiro emissário do Presidente russo Boris Ieltsine para os direitos humanos e uma voz crítica da primeira guerra de Moscovo na Chechénia.
Em 1996, demite-se das suas funções acusando Ieltsine de ser responsável pelo conflito checheno e de ter suspendido a sua política de reformas democráticas.
Um dos autores da Constituição russa e também deputado, Kovaliov foi igualmente crítico do autoritarismo crescente do sistema estabelecido por Vladimir Putin a partir dos anos 2000, tendo denunciado nos últimos anos leis promulgadas pelo Presidente russo que considerava liberticidas.
"Estas leis dão possibilidades ilimitadas à arbitrariedade do poder: pode-se condenar quem se quiser à pena que se quiser", comentou.
Em 2014, depois do início do conflito no leste da Ucrânia, apelou, numa carta aberta aos ocidentais, que "parassem a expansão russa" naquele país. Também alertou contra a propensão, segundo ele, do Ocidente fazer "demasiadas concessões à Rússia.
"Pertenço à família dos idealistas da política", admitia.
O seu filho Ivan Kovaliov indicou na rede social Facebook que o pai morrera durante o sono hoje de manhã.
A organização russa de defesa dos direitos humanos Memorial, da qual foi presidente, saudou a memória de um homem que "sempre se bateu (...) a favor dos direitos humanos, contra a guerra na Chechénia, contra a violência e as mentiras".
"Serguei Adamovitch far-nos-á falta em todos os aspetos: enquanto amigo de longa data, companheiro corajoso, intelectual e conselheiro, fiel à ideia dos direitos humanos sempre e em tudo, na guerra e na vida civil, na política e na vida quotidiana", acrescentou a Memorial.