Direito perde Taça Ibérica em Valladolid
Mesmo demonstrando possuir uma equipa mais equilibrada e que pratica um râguebi bem mais expansivo e agradável ao público, os advogados - que eram os detentores do troféu após terem vencido, há um ano no Jamor, o crónico campeão espanhol, o VRAC Quesos Enrepinares também de Valladolid (que não disputou esta final por se encontrar envolvido na Challenge Cup europeia, sendo assim substituído pelo maior rival e vencedor da Taça do Rei) - saíram derrotados do Pepe Rojo fruto de um ensaio sofrido a 5" do final e que inverteu o resultado até aí favorável aos campeões nacionais.
Esta foi a nona final ibérica de Direito - e quinta nos últimos sete anos! - que assim mantém as quatro vitórias conseguidas e deixou fugir o El Salvador, que passa agora a ser o único clube da península a ter conquistado por cinco vezes o troféu nas seis finais que disputou, curiosamente frente a diferentes equipas: Benfica (1991), Técnico (98), Belenenses (2003), Académica (2005) e agora Direito.
Com uma rigorosa arbitragem francesa - e o melhor árbitro de 2016 para a World Rugby, Alhambra Nievas, como auxiliar! - sob tempo frio (no início da manhã a temperatura rondava os 4º negativos!) mas seco e com bonito sol, a totalmente amadora equipa de Francisco Aguiar entrou a mandar no jogo, com grande agressividade e muito mais dinâmica. E o intenso ritmo imposto perante uma equipa espanhola profissional e reforçada por meia dúzia de estrangeiros acabaria por dar os seus frutos, pois aos 13" Nuno Sousa Guedes já convertera duas penalidades denotando as dificuldades adversárias para travar a onda lisboeta que se abatia sobre o quinze da casa (6-0).
Só aí o El Salvador começou a pegar no jogo e depois de uma penalidade do sul-africano Hansie Graaf, numa mêlée a cinco metros ganha pela poderosa formação da casa, a saída de n.º 8 do "armário" Mamea dava a cambalhota no resultado, para 10-6.
Até ao intervalo a partida continuou equilibrada, com os advogados - muito bem nos alinhamentos onde Gonçalo Uva e Luís Sousa dominavam nas alturas - sem mostrar qualquer receio do quinze de Juan Carlos Pérez, muito apoiado pela maioria do público, apesar do contingente português viajado de Lisboa ser, a espaços, bem audível...
Dois pontapés de Sousa Guedes penalizando um muito faltoso adversário (acertou 6 dos 7 que tentou!) e um longo drop de Graaf colocavam "nuestros hermanos" na frente, no final dos primeiros 40 minutos, por apenas um ponto: 13-12.
Mas no recomeço os advogados voltaram com excelente atitude e durante 20 minutos, apenas deu Direito sobre o mal tratado relvado do Pepe Rojo. E logo aos 48" num lance bem construído e após rápida sequência à mão das linhas atrasadas lisboetas, onde o 2.ª linha Luís Sousa, bem intercalado, ganhou muitos metros, surgiria o ensaio do centro Manuel Vilela que virava o marcador (19-13).
Direito continuava a mandar no jogo e logo a seguir o pilar Wozniak via cartão amarelo por não deixar jogar rapidamente uma falta portuguesa a poucos metros da sua área de ensaio. Com um homem a mais a equipa de Monsanto acampava de armas e bagagens no meio-campo rival e aos 61" Sousa Guedes, numa penalidade, alargava para 22-13.
Mas os derradeiros 20 minutos de jogo seriam muito penosos e penalizadores para a equipa campeã nacional (as substituições pouco resultaram e já havia ali gente muito cansada...), pois à custa do seu poderoso pack avançado, o El Salvador iria empurrar os portugueses para o seu extremo reduto - e conseguiria uma impensável reviravolta.
Primeiro graças a um ensaio de penalidade (concedido pelo juiz francês logo à segunda falta sucessiva da mêlée de Direito sempre em grandes dificuldades durante os 80 minutos...) e depois, aos 75", num imparável maul dinâmico em que a avançada espanhola cavalgou mais de 20 metros até Gonzalo marcar o ensaio que proporcionaria o triunfo dos da casa, festejado de forma naturalmente entusiástica pelos seus adeptos, para os definitivos 27-22.
Isto pese embora a derradeira reação final dos campeões nacionais, que tudo fizeram nos últimos sete/oito minutos de jogo para alcançarem o ensaio que lhes poderia dar a vitória, caindo de pé e mostrando ser mais equipa que o seu adversário. Mas num jogo de puro combate como o râguebi, a força voltou a levar a melhor sobre a técnica e a inteligência. E o fraco ritmo e nível da nossa Divisão de Honra também não ajuda nada nestes confrontos internacionais...
Direito alinhou com: Nuno Sousa Guedes (3,3,3,3,3,2); José Maria Vareta, Manuel Vilela (5), José Luís Cabral, Pedro Silvério; Luís Salema, Pedro Leal; Vasco Uva, Vasco Fragoso Mendes, Salvador Palha, Luís Sousa, Gonçalo Uva, Bruno Raposo, Duarte Diniz e Francisco Bruno. Do banco saltaram ainda João Correia (de regresso aos grandes palcos), João Dias, Pedro Rosa e João Silva.
Após 37 edições da Taça Ibérica passam agora a registar-se 21 triunfos espanhóis contra 16 portugueses, estes através de Benfica (1971, 86, 88 e 2001), Direito (99, 2002, 2013 e 2015), Cascais (92, 93 e 96), CDUL (83, 84 e 2012), Académica (97) e Agronomia (2007).
Com esta vitória o clube espanhol torna-se o único a somar cinco troféus ibéricos, sendo seguido por Direito, Benfica - atualmente no segundo escalão do râguebi nacional e que tantas dificuldades vem atravessando na sua mais antiga modalidade a seguir ao futebol - e Santboiana, que conquistaram quatro títulos cada.