Dia de festa em Pyongyang com ração melhorada e desfile militar
O Dia do Partido dos Trabalhadores da Coreia (10 de outubro) é um dos três principais feriados do regime ditatorial, junto com os dias de nascimento do fundador, Kim Il-sung e do filho e sucessor, Kim Jong-il. E como em 2020 o partido atinge a marca de 75 anos, deverá ser dada mais relevância à data, apesar da cada vez menor importância do partido, em detrimento dos militares, ou da ideologia, que tem mudado ao longo dos anos.
Enquanto a população (pelo menos da capital) terá recebido uma ração reforçada, os meios de comunicação da Coreia do Sul avançam com a notícia de que Pyongyang vai ser palco de um desfile militar de grandes dimensões e no qual deve ser desvendado um novo míssil balístico intercontinental (ICBM, sigla em inglês).
No início desta semana, o ministro da Defesa do Sul, Suh Wook, disse esperar uma demonstração de força e a exibição de novas armas estratégicas, em consonância com a promessa de Kim Jong-un, na mensagem de Ano Novo, e que inclui um ICBM e um míssil balístico lançado por submarinos. Por outro lado, o Ministério da Unificação sul-coreano crê que a possível exibição de novo armamento teria como finalidade reforçar a unidade interna em face das crescentes dificuldades económicas.
Ainda de acordo com observadores sul-coreanos, em cada quinto ou décimo aniversário de datas importantes, o regime tende a realizar lançamentos de mísseis e desfiles de tropas e material militar.
No entanto, Seul crê que desta vez Pyongyang não deve proceder ao lançamento de armas estratégicas, apesar de no mês passado a Coreia do Norte ter construído uma estrutura numa ilha desabitada, que se presume vir a ser utilizada como alvo para testes.
O momento não parece ser o melhor para uma demonstração de força. Há duas semanas, em circunstâncias por apurar, soldados norte-coreanos abateram um funcionário do departamento de Pescas sul-coreano que estaria à deriva nas águas do país comunista. Em consequência, Kim Jong-un endereçou uma carta ao homónimo do Sul, Moon Jae-in, na qual lamentou o "caso vergonhoso" em que "desapontou" Moon e o povo sul-coreano. Em 2010, Pyongyang afundou um vaso de guerra sul-coreano, e com isso matou 46 marinheiros. Nessa altura, Kim Jong-il não pediu desculpas.
Noutro gesto de boa vontade, Kim Jong-un enviou ao presidente norte-americano, Donald Trump uma mensagem a desejar a sua recuperação da covid-19. A Coreia do Norte encerrou a fronteira com a China em janeiro para prevenir a propagação da pandemia, e em julho o país elevou o estado de emergência para o nível máximo. Segundo o comandante militar dos EUA na Coreia do Sul, Robert Abrams, Pyongyang instituiu uma zona tampão com o vizinho chinês, e os soldados têm ordens para atirar a matar. A Coreia do Norte partilha com outro Estado autoritário, o Turcomenistão, a duvidosa medalha de ausência de casos do novo coronavírus (além de microestados do Pacífico).
Com as conversações sobre a desnuclearização da Península Coreana entre o Norte e os Estados Unidos em ponto-morto, Moon Jae-in voltou à carga na passada quinta-feira, ao propor que a Coreia do Sul e os Estados Unidos avancem com uma declaração do final formal da guerra da Coreia, que decorreu entre 1950 e 1953, o que "abrirá de facto o caminho para a paz" na península. A guerra terminou com um armistício, mas sem um tratado de paz.
0 casos de covid: oficialmente, o país não registou qualquer caso do novo coronavírus.
34 mil estátuas: o culto da personalidade ao "grande líder" e "presidente eterno" Kim Il-sung reflete-se no número de estátuas.
2 países: a França e a Estónia são os países da União Europeia que não reconhecem a República Democrática Popular da Coreia.
340 removidos: desde que sucedeu ao pai, e até 2017, Jong-un terá feito uma purga de 340 altos funcionários, dos quais 140 executados.