"Sobre este concurso, não é impossível que possa ser impugnado, porque de facto tem muitas fragilidades. Muitas companhias apontam para erros técnicos de avaliação. Por isso nos disponibilizamos [no documento consensualizado com 66 agentes culturais da cidade] para ajudar a rever o sistema", afirmou o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, na reunião camarária pública..O autarca revelou na terça-feira que pretende "falar com o Governo" para que seja elaborado "um novo concurso que corrija os erros" do Programa 2018-2021 da DGArtes, cujos resultados provisórios, a que a Lusa teve acesso na sexta-feira, garantem apoio estatal a 50 candidaturas na área do teatro, deixando de fora 39 estruturas, como o Teatro Experimental do Porto, a Seiva Trupe, o Festival Internacional de Marionetas ou Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica..Na reunião camarária de hoje, o executivo aprovou por unanimidade a moção consensualizada na terça-feira entre Rui Moreira e 66 agentes culturais da cidade com vista a "rever as verbas e o sistema" do programa da DGArtes.."Não vejo muito bem como dar a volta a isto. Se o modelo começa com um 'pecado original' depois é mais difícil de resolver. Não me parece que seja apenas com dinheiro que isto possa ser resolvido", observou Rui Moreira..O vereador do PS Manuel Pizarro apoiou "inteiramente a posição do presidente da Câmara", notando existir no concurso "um problema de subfinanciamento que condiciona toda a avaliação".."Ainda que não houvesse esse problema, o concurso está mal construído em muitos pressupostos, desde logo no equilíbrio regional. Há uma verba para a Área Metropolitana de Lisboa mas depois não há para a do Porto", criticou..Para o socialista, é "difícil perceber que, depois de ano e meio a preparar o concurso, ele apareça até com erros do ponto de vista técnico".."O ideal seria partir do zero. Mas voltar ao início seria uma situação insustentável para a produção cultural", observou o vereador do PS..Pizarro defendeu "manter a pressão porque cabe ao Governo encontrar solução para um problema que criou".."Cabe-nos ajudar a resolver o problema. Passa certamente por mais financiamento, mas não chega colocar mais dinheiro. É preciso também um bocadinho de mais engenho técnico e político", vincou..Para o socialista, "a questão não é só assegurar sobrevivência das companhias, mas uma produção artística plural"..O vereador do PSD Álvaro Almeida disse concordar "no essencial" com o documento, criticando "a referência a 2009, ano em que o país estava na bancarrota".."O ano de 2009 é aquele que, do ponto de vista orçamental, não se deve repetir", observou, destacando a necessidade de a Câmara se "opor muito perentoriamente" à diferenciação por regiões das dotações do concurso..No ponto 1, a moção refere que "as verbas disponibilizadas pela DGArtes são insuficientes e, mesmo com os reforços anunciados nos últimos dias, continuam aquém das de 2009"..Moreira explicou que "a referência a 2009 diz respeito à data do último concurso"..A vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, considerou que o problema de financiamento "é central".."O meu partido [PCP] defendeu no orçamento [do Estado] que a verba subisse de 17 milhões de euros para 25 milhões. Se isso tivesse acontecido certamente não estávamos a viver este problema", afirmou..Para a comunista, "esse valor teria dado cobertura à generalidade das pretensões das associações".."Num momento em que há tanto dinheiro, até para cobrir os défices da banca, não se entende que não haja mais sete milhões de euros para a cultura. A questão do financiamento é de facto central e temos de insistir muito nisso", disse..Ilda Figueiredo referiu que "não se entendem alguns critérios", nomeadamente "a razão de ser de se considerarem inelegíveis grupos de teatro [conhecidos] há dezenas de anos e que têm um papel fundamental na vida da cidade"..Os concursos ao Programa de Apoio Sustentado às Artes 2018-2021 abriram em outubro, com um valor global de 64,5 milhões de euros..No sábado, o Governo anunciou um reforço do montante disponível até 2021, para 72,5 milhões de euros..Na segunda-feira, o ministro da Cultura disse que, na área do teatro, o Programa vai ter um reforço de 900 mil euros por ano, de 2018 a 2021.