Deputados questionam novo diretor do SIED. "Que formação fez para esta função?"

O indigitado diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa, José Pedro Marinho da Costa, passou a um teste tranquilo dos deputados. A sua falta de experiência profissional na área dos serviços de informações foi um dos alvos da audição desta quarta-feira. Prometeu reforçar a ligação às Forças Armadas, o que não será fácil com a saída, em rutura, do ainda diretor adjunto, o único oficial militar num cargo dirigente no SIED.
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A deputada da Iniciativa Liberal (IL), Patrícia Gilvaz, foi quem melhor evidenciou a principal fragilidade do indigitado diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), o braço externo do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP): a falta total de experiência profissional de José Pedro Marinho da Costa no setor das secretas.

"No seu curriculum escasseiam ligações às informações, à segurança e à defesa. A realidade que vai encontrar nas novas funções será muito específica e significará quase uma mudança de carreira. Qual a formação pessoal que fez para assumir estas funções?", questionou Gilvaz.

Esta foi a vulnerabilidade mais aproveitada pelos deputados da oposição à direita - não houve perguntas do PCP, BE, PAN e Livre - durante a audição conjunta, nesta quarta-feira, das comissões de Assuntos Constitucionais e de Defesa Nacional.

Também o deputado do Chega, Pedro Pessanha, sublinhou ter estado "a ver o CV" do indigitado diretor e perguntou "qual é a área", dentro da formação de Marinho da Costa, "mais útil para a nova função e qual a experiência em intelligence?".

O homem escolhido pelo governo para liderar o SIED, recorde-se, é um diplomata de carreira, promovido este ano a ministro plenipotenciário (categoria abaixo de embaixador), foi assessor diplomático do ex-primeiro-ministro José Sócrates, fez todo o seu percurso no MNE, onde desempenhou cargos em várias embaixadas, de acordo com o seu posto, e de direção, entre outros, como Diretor de Serviços dos Assuntos Institucionais, na Direção-Geral dos Assuntos Europeus, Diretor de Serviços do Cerimonial, Deslocações, Dispensas e Privilégios, do Protocolo do Estado e Chefe de Divisão de Relações Bilaterais com os Países da América do Norte e na Direção de Serviços das Américas, da Direção-Geral de Política Externa.

Em sua defesa e respondendo à provocação do Chega sobre o alegado "favorecimento" ao "lobby" diplomático, Marinho da Costa, notoriamente pouco experiente neste tipo de escrutínio, lembrou que "de sete antigos diretores do SIED, cinco eram diplomatas".

O anterior foi o conselheiro de embaixada Carlos Pires (atual secretário de Estado da Defesa) nomeado em 2019 e que, conforme o DN já noticiou, não terá deixado obra feita no SIED, um serviço cada vez mais debilitado de recursos.

A diferença é que até aí, apenas embaixadores tinham ascendido ao topo da hierarquia (o primeiro, em 1997, Monteiro Portugal, seguido de Vasco Bramão Ramos, Caimoto Duarte e João da Câmara).

O diplomata indigitado ainda argumentou que no seu percurso mudou "constantemente de funções, no MNE e em diferentes embaixadas, em áreas estratégicas para o interesse nacional (esteve em Marselha, Marrocos e Cabo Verde)" e que teve "vários contactos" com "elementos do SIED".

Reconheceu que pouco ou nada sabe sobre o funcionamento do serviço, quando inquirido pelos deputados do PSD (Andreia Neto), do Chega e da IL sobre o conteúdo das notícias do DN que deram conta da situação crítica do serviço, da falta de recursos financeiros para cumprir integralmente as missões e da diminuição das chamadas "antenas", oficiais de ligação que o SIED devia ter nas regiões estratégicas.

"Não sei como está organizado o Serviço. Tive alguns contactos. São matérias classificadas e não tenho informação", admitiu.

Fechou-se em copas quando questionado sobre quem será o seu diretor adjunto, cujo nome, que está a ser dado como certo por várias fontes ligadas ao SIED, está a provocar uma nova onda de choque nas secretas (a primeira foi quando foi conhecido o do indigitado diretor).

Conforme o DN noticiou, trata-se de um quadro do SIED, onde entrou em 2010 pela mão do ex-diretor Jorge Silva Carvalho, no mesmo ano em que, como já referido, Marinho da Costa estava com Sócrates.

Com um pai e um irmão embaixadores - este último chefe de gabinete de um secretário de Estado do atual governo - o suposto futuro diretor adjunto faz também parte do "lobby" diplomático, que sairia assim reforçado com esta eventual promoção criticada como "meteórica".

"Tenho algumas ideias, mas apenas falarei com a secretária-geral do SIRP, após a minha tomada de posse", redarguiu.

A concretizar-se, esta escolha para diretor adjunto acentuará ainda mais o desagrado geral no SIED que, por causa da escalada dos diplomatas, vai perder um dos seus mais experientes dirigentes, o ainda número dois, Melo Gomes.

Este oficial general do Exército, ocupa este cargo desde 2012 e foi, pela segunda vez (a primeira foi em 2019 com Carlos Pires) preterido para diretor.

Desta vez decidiu bater com a porta e deixará o SIED logo após a tomada de posse do novo dirigente. Pela primeira vez, o SIED deixa de ter oficiais militares em cargos dirigentes (chegaram a ser oito em funções dirigentes em estações, como "antenas"), o que pode dificultar a ligação às Forças Armadas (os contactos com as Forças Nacionais Destacadas são essenciais), que José Pedro Marinho da Costa realçou querer reforçar, tal como às Forças e Serviços de Segurança.

Na audição, o PSD voltou a reiterar a quebra de confiança em relação aos serviços de informações, sublinhando que "não participou" na escolha do novo diretor do SIED, rompendo um acordo político, não escrito, com o PS, por causa de o primeiro-ministro, António Costa, não ter correspondido ao pedido do partido para demitir a secretária-geral do SIRP, Graça Mira Gomes, pela sua atuação no caso, em investigação judicial, em que o SIS recuperou um computador do Ministério das Infraestruturas.

Foi depois, perante a insistência da deputada da IL, que queria saber qual seria a sua atuação se confrontado com a mesma situação, que Marinho da Costa respondeu: "Atuarei sempre de acordo com as diretrizes do primeiro-ministro e através de um canal hierárquico, nomeadamente a secretária-geral do SIRP. Respondemos perante uma hierarquia", assinalou.

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