Depp chega a Zurique e apela ao desastre
Fãs histéricas, paparazzi e uma comoção louca à porta do Film Podium, um minúsculo cinema no centro de Zurique numa sexta-feira ao começo da tarde. A histeria é devido a Johnny Depp, um senhor de 55 anos, convidado de honra do ZFF - Zurich Film Festival, um dos mais endinheirados festivais do mundo. Depp veio ao festival promover Richard Says Goodbye, um drama "indie" de Wayne Roberts (chegará a Portugal em dezembro) sobre um professor de Literatura a quem diagnosticam um cancro em fase terminal, mas aceitou uma "conversa" na secção do festival dos mestres. Uma conversa com público, neste caso um público composto por adolescentes educadas mas com berros agudos. Raparigas que felizmente não viram Richard Says Goodbye, um dos pontos mais negros da carreira de Depp, prestes a ser lançado perto de Monstros Fantásticos - Os Crimes de Grindelwald, o segundo tomo da saga de J.K. Rowling que precede o universo Harry Potter.
Mas a novidade da aparição de Depp em Zurique foi a excelente forma como se apresentou. Está mais rock n' roll do que nunca: veio de boina, mostrou orgulhosamente as tatuagens, as 4 pulseiras e os cinco anéis. Uma das maiores estrelas de Hollywood recusa-se a crescer e está mais magro do que nas últimas aparições, afastando os rumores que o ligam a um período de dependência com álcool e medo de aparecer perto da imprensa - a grande comitiva de jornalistas de todo o mundo convidada pelo festival esteve presente no Film Podium.
A grande novidade que saiu das palavras do ator passou pela confirmação de que vai voltar ao papel de Grindelwald no terceiro filme da saga da Warner: "Estou muito ansioso de voltar a fazer este feiticeiro. Começamos as filmagens já para o ano! Mas entrar neste universo da J.K. Rowling foi algo mesmo de muito inesperado e aconteceu-me algo raro neste mundo do cinema: ouvir a Jo [Rowling] dizer-me que estava mortinha para saber o que iria fazer desta personagem. Não costumo ouvir isto. Ela deu-me de mão beijada o Grindelwald e isso deixou-me comovido! Adorei interpretá-lo! E parece que resultou bem, a personagem é interessante. Mas é espantosa toda esta experiência do Fantastic Beasts". Depp também confessou estar muito entusiasmado com o seu primeiro encontro com o cineasta colombiano Ciro Guerra, o homem que vai adaptar Waiting for The Barbarians, a partir de J.M. Coetze. O plateau abre no final deste mês e ao lado de Depp vão estar Robert Pattinson e Mark Rylance.
Sem enrolar muito a língua, o ator nomeado ao Óscar afirmou mais uma vez a sua declarada fobia à sua imagem: "Continuo a nunca ver os filmes onde entro. Não me gosto de ver, é desconfortável...Já todas as manhãs, ao fazer a barba, levo comigo...". Boutade ou não, também falou a sua preferência pela música: "o cinema é o meu emprego de dia. A música é o meu hobby. Mas estar num palco com os Hollywood Vampires é uma experiência muito mais imediata".
Nesta conversa cortada pelos aplausos das fãs, surgiu outra novidade; tudo indica que vem aí em breve a 10.ª colaboração com Tim Burton: "Ele é o meu melhor amigo e estamos aí a pensar em avançar em breve com mais um projeto. Já estivemos a falar e há duas coisas na forja. Diria que o Tim é de uma outra raça. E entendemo-nos muito bem. Tal como eu, é um pouco gago e entre nós já temos uma linguagem especial. Ele fala com gestos, com reticências e eu compreendo tudo".
No meio de tudo isto, pega numa garrafa de água e depois de beber provoca gargalhadas na plateia: "Isto era vodca!". Depp a brincar com a perceção que os media fazem dele, sobretudo numa altura em que se escreve muito sobre os excessos desta estrela de cinema e o seu suposto comportamento errático.
Em jeito de masterclass, fala do seu método: "Tento sempre fazer algo diferente para cada papel. Gosto mesmo é de me atirar a uma personagem, mergulhar para dentro dela. Com isso, tento que surja algo que as pessoas não estavam à espera. O Jack Sparrow de Piratas das Caraíbas não era aquilo, estava escrito como um galã, um herói...Mas, claro, todas estas personagens são versões de mim. Um ator tem de explorar todas as possibilidades e não ter medo de falhar, de atingir o potencial desastre. É por isso que os estúdios têm medo de mim".
Mais aplausos no fim e Depp a agradecer com um rocker.