Com a pandemia a aumentar todos os diasos custos em vidas e na economia dos Estados Unidos, Donald Trump e a sua campanha tentam mobilizar o eleitorado com o maior número de comícios protagonizados pelo candidato em aeroportos de estados considerados decisivos, como a Pensilvânia..Na política interna, Trump pode gabar-se, com a nomeação para o Supremo Tribunal da juíza conservadora Amy Coney Barrett, a ser confirmada pelo Senado, de ter indicado um número recorde de três juízes para a mais alta instância judicial, e com isso deixa o Supremo com uma sólida maioria conservadora..Na política externa, a normalização de relações de Israel com os Emirados Árabes Unidos e com o Bahrein, nos chamados Acordos de Abraão, assinados com pompa e circunstância na Casa Branca em agosto, são até agora o feito da administração Trump..Israel e Emirados fazem as pazes de olhos postos no inimigo comum: o Irão.Trump, que se diz a favor do controlo de armas nucleares, chamou o Novo START de defeituoso e desfavorável aos EUA. No ano passado, retirou os EUA do tratado INF (armas nucleares de alcance intermédio) com a Rússia, acusando esta de violações, e esperou até este ano para começar a dialogar com os russos sobre o futuro de Novo START..Com Trump a instar os seus assessores a proporcionarem-lhe êxitos em matéria de política externa para a reta final da campanha presidencial, os Estados Unidos e a Rússia aproximaram-se na terça-feira de um acordo de controlo de armas..Moscovo concordou em fixar o número de ogivas nucleares de cada lado, como era exigido por Washington, e em prorrogar por um ano o acordo conhecido como Novo START, assinado por Barack Obama e Dmitri Medvedev..Após conversas telefónicas entre Trump e Putin, o negociador norte-americano Marshall Billingslea e o russo Sergey Riabkov reuniram-se na semana passada em Helsínquia para aproximar as posições. Mais tarde, Billingslea disse acreditar que as autoridades russas pareciam prontas para um acordo..O progresso foi alcançado dias depois de os dois lados parecerem ter quase desistido de encontrar um compromisso. Na sexta-feira, o conselheiro de segurança nacional dos EUA Robert O'Brien lamentou a oferta russa, afirmando depois: "Esperamos que a Rússia reavalie a sua posição antes que se siga uma dispendiosa corrida às armas.".A proposta do Kremlin na sexta-feira não fazia qualquer menção a um congelamento mútuo das reservas nucleares, sugerindo em alternativa um simples prolongamento do tratado por um ano, sem condições..O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo voltou a apresentar uma proposta na terça-feira, e horas depois o Departamento de Estado expressou gratidão pela oferta e solicitou uma reunião imediata dos negociadores.."Apreciamos a vontade da Federação Russa de fazer progressos na questão do controlo das armas nucleares", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Morgan Ortagus, numa declaração. "Os Estados Unidos estão dispostos a reunir-se imediatamente para finalizar um acordo verificável. Esperamos que a Rússia dê poderes aos seus diplomatas para fazerem o mesmo.".Os negociadores terão de elaborar um sistema de verificação e chegar a acordo sobre a definição de uma ogiva.."Não é de modo algum um avanço extraordinário, mas evita o colapso total do sistema de controlo de armas EUA-Rússia e dá tempo a Washington e Moscovo para continuarem a empenhar-se em mais conversações complexas e prolongadas", comenta Daryl Kimball, diretor da Associação de Controlo de Armas..Hans Kristensen, especialista em armas nucleares da Federação de Cientistas Americanos, disse no Twitter que a oferta do presidente russo Vladimir Putin fica muito aquém das exigências originais da administração Trump, incluindo a sua insistência em que a China se tornasse parte de um novo tratado.."Para Trump, a aceitação da posição russa constituiria um espantoso recuo: sem 'correção' do Novo START, sem verificação melhorada, sem inclusão de armas 'externas', sem China", disse Kristensen..O tratado Novo START, que limita ambos os lados a 1550 ogivas instaladas, vai expirar em fevereiro. Foi assinado em 2010 quando Hillary Clinton era secretária de Estado e quis estabelecer uma política de "reinício" das relações entre as duas potências..Com o tratado das Forças Nucleares Intermédias da era da Guerra Fria (INF), é considerado uma peça central do controlo internacional do armamento..Os EUA querem reformular o acordo para incluir a China e cobrir novos tipos de armas, caso das armas táticas nucleares. A Rússia está disposta a prolongar o acordo por cinco anos sem quaisquer novas condições, e cada um dos lados tem repetidamente bloqueado as propostas do outro..O tratado inclui uma cláusula que permite aos líderes de ambas as nações prorrogar o acordo por cinco anos sem necessidade de ratificação. O candidato presidencial democrata Joe Biden disse que concorda com a extensão de cinco anos se fosse eleito. Putin também disse que concordaria com a prorrogação, e numa entrevista à televisão, disse que a intenção de Biden em prolongar o Novo START "é um sinal sério para a nossa possível interação futura"..Para Moscovo as armas nucleares são um bem estratégico fundamental, contando com 6375 ogivas nucleares no início do ano, incluindo as que não estão instaladas, de acordo com dados do Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI)..A Rússia e os Estados Unidos possuem mais de 90% das armas nucleares do mundo, de acordo com o último relatório do instituto sueco..Desde o início das negociações, as autoridades americanas têm insistido na participação da China nas discussões, tendo alegado que Pequim está a desenvolver o arsenal nuclear em grande velocidade, o que é rejeitado pelo regime comunista..Segundo o SIPRI os EUA têm cerca de 5800 ogivas nucleares, e a China 320..Soube-se entretanto que o Pentágono elevou para 95,8 mil milhões de dólares o custo estimado de colocar em campo um novo arsenal de mísseis nucleares terrestres para substituir o Minuteman 3, a postos há 50 anos..A estimativa é de cerca de mais 10 mil milhões de dólares do que há quatro anos..Os 400 mísseis Minuteman, cada um deles armado com uma única ogiva nuclear, estão instalados em silos subterrâneos em Montana, Dakota do Norte, Colorado, Wyoming e Nebraska. Os seus números são regulados em parte pelo Novo START. Estes mísseis balísticos intercontinentais, ou ICBM, fazem parte do programa de renovação quase total das forças nucleares norte-americana durante as próximas décadas, com um custo total de mais de 1,2 biliões de dólares..Noutra frente diplomática, um tratado internacional de proibição de armas nucleares está prestes a entrar em vigor. O Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares, que proíbe a utilização, desenvolvimento, produção, testes, posicionamento, armazenamento e ameaça de utilização de tais armas, foi adotado pela Assembleia Geral da ONU em julho de 2017 com a aprovação de 122 países..Portugal não é um dos signatários do acordo, escudando-se no facto de pertencer à Aliança Atlântica. "Portugal não pode ser membro da NATO, que é uma aliança nuclear, e ser subscritor de um tratado que declara ilegais as armas nucleares", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, em 2017..Além de Portugal, os Estados com armas nucleares, incluindo os Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia, não assinaram o tratado..Dos 122 países, 84 assinaram o tratado. Mas para este entrar em vigor 50 deles terão de ratificá-lo, entrando em vigor 90 dias depois..O 75.º aniversário dos ataques à bomba nuclear em Nagasáqui e Hiroxima, assinalado em agosto, deu um novo ânimo à ratificação do tratado e vários países fizeram-no nos últimos meses. Nigéria, Malásia, Irlanda, Malta, e mais recentemente Tuvalu, em 12 de outubro, elevaram o número para 47..A Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN) espera que um 48.º país ratifique o tratado nos próximos dias, ao que se seguirão outros dentro de semanas.."Pode ser uma questão de dias. É realmente iminente, pensamos", comentou Beatrice Fihn, diretora executiva da ICAN, associação de organizações não governamentais distinguido com o Prémio Nobel da Paz de 2017 pelo seu papel fundamental na concretização do tratado.."Este será um marco realmente histórico. Este tratado irá completar as proibições de armas de destruição maciça. Ficará ao lado da proibição das armas biológicas e químicas", disse Fihn. Os ativistas esperam que a sua entrada em vigor tenha o mesmo impacto que os anteriores tratados internacionais sobre minas terrestres e munições de fragmentação, trazendo um estigma ao seu armazenamento e utilização, e assim uma mudança de comportamento mesmo em países que não o assinaram.