Júlio César e a ilha do Sena Desde os tempos do Neolítico que se sabe haver junto ao rio Sena um aglomerado populacional, mas é só no livroA Guerra das Gálias que Júlio César pela primeira vez se refere a Lutécia, a cidade numa "ilha do Sena" habitada pela tribo celta dos parisii, que viria a dar-lhe nome. Ora se não é certo a que ilha é que o imperador romano se referia naquele ano de 52, a verdade é que os romanos se instalaram na margem esquerda do rio, onde hoje fica o Quartier Latin, tendo ali desenvolvido uma típica cidade do império depois de duros combates com os parisii. Foi então que, a partir do seu esquema em quadrícula, os romanos reconstruíram a cidade destruída pelos incêndios. Teatros, anfiteatro, arenas, oferecem áreas de lazer aos cerca de dez mil habitantes da cidade, servida ainda por um aqueduto e onde as termas se multiplicam. Em meados do século III, Lutécia ganha as suas fortificações para se proteger das invasões germânicas. É por esta altura que Lutécia passa a ser chamada Paris..Clóvis e a capital dos francos É com Clovis, mais tarde rei dos francos, que em 508 Paris se torna capital do reino merovíngio. Convertido ao catolicismo, o monarca vai promover a construção de igrejas na cidade. Como escreve o historiador Alfred Fierro, "Paris cobre-se de igrejas com os merovíngios." Será Quildeberto, o filho de Clóvis, quem vai mandar edificar a grande catedral no local onde hoje se encontra Notre-Dame..Ragnar e as invasões vikings Em março de 845, uma frota de 120 navios vikings com mais de cinco mil homens liderada por Ragnar Lodbrok subiu o rio Sena e cercou Paris. A cidade ainda tentou resistir, mas acabou por ser saqueada e ocupada pelos nórdicos que, numa oferenda ao deus Odin que serviu também como gesto dissuasor para os restantes homens do exército reunidos por Carlos, o Calvo, enforcaram 111 prisioneiros numa ilha do Sena. Seria preciso uma praga que atacou os vikings para os levar a aceitar as 7000 libras francesas oferecidas pelo rei da França Ocidental para levantarem o cerco e libertarem Paris..O ataque falhado de Joana d"Arc Alojada em Saint-Denis, Joana d"Arc mal pode esperar pela luz verde de Carlos VII para atacar Paris, então sob controlo dos ingleses. Finalmente, a 8 de setembro de 1429, o ataque dá-se junto à porta Saint-Honoré, onde ainda hoje se pode encontrar uma placa alusiva à heroína francesa. Mas as coisas não correm bem a Joana e aos seus homens. Ela é ferida por um dardo de uma besta e obrigada a retirar-se do combate. No dia seguinte, quer voltar ao ataque, mas Carlos VII não autoriza. Muitos aristocratas franceses acabaram por virar-se contra Joana, indiciando um fim que seria trágico para a Virgem de Orleães..O renascimento de Francisco I Será Francisco I a devolver o fausto a Paris. Na primeira metade do século XVI, o monarca inspira-se no Renascimento italiano, tornando-se protetor das artes e das letras. E construtor. Em Paris, além do Hotel de Ville, manda construir a ala ocidental do Louvre. Perdida para Carlos V a eleição para a coroa de imperador do sacro império romano-germânico, o mui católico Francisco não hesita em aliar-se aos otomanos de Suleimão, o Magnífico, para o combater..O brilho de Luís XIV Pode ter-se instalado no sumptuoso palácio de Versalhes, mas Luís XIV não esquece o Louvre, cujo pátio quadrado termina. Com a segurança de volta a Paris, é com o rei-sol que a cidade ganha algumas das que ainda hoje são as suas instituições: os Invalides, o Palais-Royal, a Academia das Ciências ou a Comédie Française. A cidade abre-se e o tempo é de festa, como o espetáculo equestre que o monarca organizou em 1661 entre o Louvre e as Tulherias para marcar o nascimento do seu primeiro filho..A coroação de Napoleão O momento é inédito: a 2 de dezembro de 1804 Napoleão Bonaparte é coroado imperador na Catedral de Notre-Dame, numa cerimónia liderada pelo Papa Pio VII e para sempre imortalizada no quadro de Jacques-Louis David, Um Momento de Glória, que mostra bem a ambição do homem nascido na Córsega e que se destacou no exército dessa Primeira República nascida depois da Revolução de 1789. Chegado ao poder no golpe de 1799, torna-se primeiro cônsul, depois imperador e lançará França à conquista de toda a Europa. Mas a ambição será o seu fim. Após a derrota na batalha de Waterloo, acabará por morrer isolado na ilha de Santa Helena em 1821..A Grande Exposição que deu a Torre Eiffel "Vimos, escritores, pintores, escultores, arquitetos, amantes apaixonados da beleza até agora intacta de Paris, protestar com todas as nossas forças (...) contra a construção no coração da nossa capital, da inútil e monstruosa torre Eiffel." A carta assinada por nomes como Dumas ou Maupassant mostra bem como a torre hoje indissociável de Paris nem sempre foi bem aceite. Obra do arquiteto Gustave Eiffel, o projeto foi o escolhido para ser o centro da Grande Exposição Universal de 1889. E estava previsto ser destruída no final. Não foi. À sua sombra Paris entraria no século XX e dominaria a Belle Époque..Marie Curie troca a Sorbonne pela frente de batalha Foi uma Paris ainda engalanada para as festas do 14 de Julho que recebeu estupefacta a notícia em agosto de 1914 da mobilização das tropas francesas para a guerra. Mas na Gare du Nord jovens que ainda não imaginavam o que seria o horror das trincheiras cantaram A Marselhesa, acompanhada de gritos de "Para Berlim". Enquanto isso, Marie Curie, já vencedora de dois prémios Nobel, professora na Sorbonne e à frente do instituto do Radium, vê na guerra a oportunidade de provar o seu patriotismo depois dos ataques xenófobos de que foi alvo apesar da cidadania francesa que juntou à polaca. Empenhada em levar o seu conhecimento para a frente de batalha, saiu de Paris e ela e as suas Petites Curies, as unidades móveis que permitiam fazer raios-X, tornaram-se um instrumento essencial para os médicos que tentavam salvar os soldados feridos..A entrada triunfal de Leclerc e o discurso de charles De Gaulle Ocupada pelos nazis durante quatro anos, a 24 de agosto de 1944 Paris recebe nos seus céus a mensagem que tanto esperava: "O general Leclerc encarrega-me de vos dizer: aguentem, estamos a chegar." E no dia seguinte a 2ª divisão blindada comandada por Philippe Leclerc entrava na cidade pela Porta de Orleães para libertar Paris. Mas nesses quatro anos em que o marechal Pétain instalou a capital do regime colaboracionista em Vichy, Paris nunca desistiu. Muitos juntaram-se à resistência, participando ativamente num movimento contra os nazis e a França de Vichy, distribuindo panfletos, escondendo judeus perseguidos ou falsificando documentos. "Há minutos, sentimo-lo todos, que ultrapassam cada uma das nossas pobres vidas. Paris, Paris ultrajada, Paris dominada, Paris martirizada, mas Paris libertada!", exclamaria o general De Gaulle no seu primeiro discurso na cidade..A revolta estudantil que proibiu proibir Um jovem baixo de olhos azuis, cabelos ruivos e sorriso provocador a desafiar um polícia de choque. A imagem de Daniel Cohn-Bendit tornou-se símbolo do Maio de 68, revolta estudantil emoldurada pela Guerra do Vietname, a Primavera de Praga, a Revolução Cultural na China e o descontentamento com a liderança de De Gaulle. Danny le Rouge, como lhe chamou a imprensa, foi um dos estudantes que ocuparam a Sorbonne, arrastando com o seu entusiasmo outros setores que acabariam por mergulhar a França na greve geral. Proibido de voltar ao país após uma visita a Berlim por ter nacionalidade alemã, Cohn-Bendit voltaria como herói e símbolo de um protesto sujo slogan diz tudo: é proibido proibir..O Mundial da França Black-Blanc-Beur Num Stade de France lotado e exultante, o capitão Zinedine Zidane levanta a taça de campeão do mundo, rodeado pelos colegas da seleção (entre eles o lusodescendente Robert Pires) que acaba de derrotar o Brasil por 3-0. Era o primeiro campeonato do mundo vencido pela França e logo na sua capital. A festa foi rija e levou 1,5 milhões de pessoas aos Campos Elísios nessa noite de 12 de julho de 1998, unidos na celebração de uma equipa que representava bem a diversidade do país representada por essa geração Black-Blanc-Beur, em que negros, brancos e magrebinos trabalharam em harmonia para derrotar o Brasil de Zagallo..Quando a atacam, ela volta a levantar-se Em janeiro foi o ataque ao Charlie Hedbo, com os terroristas a tomarem como alvo o jornal satírico, fazendo 17 mortos, depois em novembro foi o ataque ao Bataclan a deixar a capital francesa com mais 130 mortos vítimas de islamitas nascidos e radicalizados em França e que agiram em nome do Estado Islâmico. Em choque, a cidade nunca mais esqueceria aquele ano negro da sua história e teria de aprender a lidar com as questões que surgiram sobre a integração destes jovens. Mostrando mais uma vez a sua resiliência, os parisienses habituaram-se à presença de militares na rua e continuaram com as suas vidas. Afinal, já Hemingway dizia que Paris é uma festa.