Era um suspeito vigiado 24 horas por dia, mas ainda assim conseguiu levar a cabo um ataque que as autoridades da Nova Zelândia, sempre prudentes em relação à identificação dos autores e às suas motivações, não tiveram dúvidas em rotular de "inspirado no Estado Islâmico". O homem de 32 anos, natural do Sri Lanka, e há dez anos no país, entrou num supermercado de um centro comercial nos subúrbios de Auckland, muniu-se de uma faca retirada de uma prateleira e atacou seis pessoas em menos de um minuto, o tempo que levou os agentes à paisana intervirem, segundo disse a primeira-ministra Jacinda Ardern..De acordo com a chefe do executivo, o homem era uma conhecida ameaça à segurança e estava sob "constante" vigilância policial. Ao lado de Ardern, na conferência de imprensa, o chefe da polícia Andrew Coster defendeu o desempenho dos seus homens. "A realidade é que, quando se está a vigiar alguém 24 horas por dia, sete dias por semana, não é possível estar imediatamente ao seu lado em todos os momentos. O pessoal interveio o mais rapidamente possível e evitou novos feridos numa situação que era aterradora", comentou. Segundo testemunhas, o atacante gritou "Allahu akbar" e deu início a uma corrida durante a qual feriu com gravidade várias das seis pessoas atingidas até ter sido abatido pela polícia..Ardern, que condenou o ataque "desprezível e odioso", não deu mais pormenores sobre o atacante nem sobre o porquê da vigilância a que estava submetido, alegando ordens do tribunal. Os media neozelandeses explicaram que no ano passado o cingalês tinha sido acusado de urdir um ataque terrorista ao estilo "lobo solitário" com o uso de facas, mas um juiz decidiu não condená-lo com base na legislação existente..O extremista acabou por ser condenado por posse de propaganda do Estado Islâmico e sentenciado a 12 meses de vigilância policial. A primeira-ministra disse que a nova legislação antiterrorismo irá acabar com os buracos na lei e tentou serenar a população ao dizer que há "muito poucas pessoas" na categoria de vigiado por suspeitas de terrorismo..A Nova Zelândia, isolada do terrorismo até 2019, quando um supremacista branco australiano atacou duas mesquitas de Christchurch e matou 51 pessoas, ficou agora também ligada ao terrorismo de inspiração islamista, e ao Estado Islâmico, cujo afiliado afegão mostrou capacidade para infligir muitas baixas, como se viu no ataque suicida perpetrado no aeroporto de Cabul no dia 26..Um dos homens que há sete anos aterrorizou o mundo com as mortes horrendas difundidas como propaganda pelo Estado Islâmico declarou-se culpado pelos crimes de assassínio e rapto num tribunal norte-americano. Alexanda Kotey, de 37 anos, foi conhecido como um dos Beatles, nome dado por alguns media a um quarteto de terroristas de sotaque britânico..No que é o primeiro caso de um membro do EI em tribunal nos EUA, neste caso em Alexandria, Virgínia, Kotey admitiu ter participado nos raptos e mortes dos jornalistas James Foley e Steven Sotloff e dos trabalhadores humanitários Peter Kassig e Kayla Mueller na Síria. Os três homens foram decapitados perante as câmaras em vídeos difundidos online. As circunstâncias da morte de Mueller continuam por aclarar..Kotey enfrenta uma pena de prisão perpétua obrigatória. Em troca da admissão de culpa e da cooperação, os procuradores concordaram que depois de cumprir 15 anos numa prisão dos EUA, Kotey pode procurar cumprir o resto da sentença no Reino Unido, onde nasceu. Se tal acontecer, o terrorista confesso não só concordou que se declararia culpado num processo nas ilhas britânicas e que aí enfrentaria uma sentença de prisão perpétua, mas também que, caso a justiça decidisse de outra forma, seria devolvido aos Estados Unidos..Com Kotey foi também preso na Síria, em 2018, El Shafee Elsheikh, outro terrorista cujo início de julgamento está marcado para outubro..Dos restantes 'Beatles', Aine Davis está preso na Turquia, e o assassino mascarado dos vídeos, Mohammed Emwazi, foi morto num ataque de um drone, em 2015..cesar.avo@dn.pt