De aluna a educadora, como era o Instituto Politécnico de Setúbal entre 1987 e 1990? Fui aluna do primeiro grupo de educadores de infância formados pelo IPS, com entrada em 1987. Nessa época, para mim, o IPS era apenas a Escola Superior de Educação, a funcionar em pequenas instalações e com um sentido muito familiar, embora as aulas do IPS já tivessem começado em 1981, na Escola Superior de Tecnologias..Tínhamos dificuldade em entender o que era o ensino superior, porque estávamos deslocados dessa pequena comunidade já formada no campus da Estefanilha. Só a meio do curso, quando também passámos para a Escola Superior de Tecnologias, começou a nascer uma comunidade académica. Num tempo em que ainda não havia educadores de infância com formação superior e lutava-se pelo reconhecimento da profissão, surgiram também obstáculos. Fomos a primeira fornada de bacharéis da região nesta área e nem sempre aceites para estágio, até porque quem nos ensinava não tinha formação superior. Um caminho longo até nos tornarmos finalistas, em 1990..A presidência do Politécnico de Setúbal sempre foi uma meta? Depois de ser aluna, em 1998 regressei ao IPS como professora. Desde o início da carreira mantive-me ligada à gestão de unidades curriculares, de cursos e, por fim, na direção da Escola Superior de Educação. O caminho e o conhecimento adquirido podiam levar-me à presidência do IPS..Há quatro anos, Pedro Dominguinhos [ex-presidente do IPS] convidou-me para a vice-presidência do politécnico. Durante o tempo do seu último mandato começou a ser espectável que um dia eu passaria pela presidência. Quando a oportunidade surgiu tinha de saber se era capaz. Agora tenho quatro anos para testar..Passados 35 anos desde o seu primeiro dia de aulas no IPS desbravou-se caminho para engenheiros, educadores, professores e gestores chegarem onde? De algumas dezenas de alunos em 1987, passámos para cerca de 8200, em 2022. A relação com a região mantém-se a principal linha do Instituto Politécnico de Setúbal e, à medida que foram constituídas, as escolas foram moldadas às necessidades de talento na região. Hoje não temos só cursos "pronto a vestir", temos cursos "feitos à medida", alguns até voltados para parcerias específicas com empresas como a SONAE e a Deloitte..O Instituto Politécnico de Setúbal chegará a Sines, onde nascerá a nova escola, e já tem presença no centro do país. O curso técnico superior profissional (CTeSP) na área da Aeronáutica coloca ainda o IPS em Ponte de Sor. Na captação de alunos, a Península de Setúbal continua como território principal, seguindo-se o Alentejo, mas já há quem venha dos concelhos do norte da Área Metropolitana de Lisboa, assim como do Algarve..Em 2026, no final do seu primeiro mandato, o IPS será vizinho da Cidade do Conhecimento, um projeto futurista voltado para a captação desse talento formado de Sines a Tomar....A Cidade do Conhecimento é um projeto muito ambicioso, mas tem todas as condições para sair do papel. O Politécnico de Setúbal é parceiro e espera que nesse espaço futurista a vivência seja muito voltada para os profissionais formados nas suas escolas. Um caminho que começámos a preparar muito antes das ideias fomentadas pela pandemia, quando implementámos formações b-learning, de regime presencial na prática em ambiente de trabalho e regime online nas aulas. Para concretizar o sonho da Cidade do Conhecimento, Setúbal tem de se abrir à área das Tecnologias da Informação e às novas gerações de trabalhadores. Assim como às inúmeras capacidades da frente ribeirinha. Uma mudança necessária, porque se enfiarmos investidores e profissionais no tecido industrial que temos hoje eles não permanecem..Se tiver essa visão, a Cidade do Conhecimento será implementada com todo o apoio do IPS. Não se concretiza na totalidade até 2026, mas em 2030 estará a funcionar plenamente, com toda a certeza..Para acompanhar este sonho, que licenciaturas e mestrados faltam Levar a cabo? Precisamos de mais professores para implementar novos cursos, o país já está a ter problemas de recrutamento de professores. Para acompanhar esse mercado nacional e a nossa região vamos abrir mestrados para professores do 1.º e 2.º ciclo em Ciências e Matemáticas e em História e Geografia de Portugal..O Plano de Recuperação e Resiliência tem um papel fundamental na reformulação académica, com financiamento para ajudar a implementar essas novas formações e outras já aprovadas, como o mestrado em Práticas Artísticas..Com as escolas cheias temos ainda de repensar a nossa capacidade, o que pode passar por extinguir ou reformular alguns cursos..Até porque indústrias como a de conversão de lítio, com um investimento de 700 milhões anunciado para Setúbal, também exigem essa adaptação..E para quando uma renovação do campus? No campus de Setúbal do IPS a novidade é a construção da Escola Superior de Saúde esperada há 20 anos e a funcionar sempre temporariamente no edifício da Escola Superior de Ciências Empresariais. Inscrita no Plano de Recuperação e Resiliência tem um financiamento de 4,5 milhões de euros. Está ainda prevista a construção de um edifício para empresas start-up, um laboratório de Desporto e outro de Audiovisual..Fora de Setúbal, a Escola Superior de Sines é o maior investimento, com aprovação prevista ainda em 2022 e acesso a financiamento comunitário. Uma escola voltada para a tecnologia, engenharia, logística e energias renováveis que envolvem o porto de Sines e o litoral alentejano..A nova escola será concretizável mesmo com a Península de Setúbal limitada no acesso a fundos comunitários? Parte da Escola Superior de Sines será financiada por fundos do POR [Plano Operacional Regional] Alentejo, captados pela Câmara de Sines. Mas, a componente científica da nova escola depende de fundos comunitários captados por Setúbal. Por isso dizemos que o nascimento da Escola Superior de Sines também está pendente da alteração da NUTS [Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos] II e III em que a Península de Setúbal está inserida, para um modelo independente de Lisboa. Essa alteração permitirá acesso a maior financiamento comunitário. Uma promessa de António Costa que, a concretizar-se com o aval da Comissão Europeia, trará resultados a partir de 2027..Nesse caso fica comprometida a candidatura ao quadro comunitário 2027-2034?.Para entrar nas negociações do Quadro Comunitário 2027-2034, que começam em já em 2024, temos de alterar a NUTS II e III no máximo nos próximos dois anos. Aguardamos resposta em contacto permanente com a Associação da Indústria da Península de Setúbal e com a ministra Ana Mendes Godinho, que tem apoiado muito esta causa..dnot@dn.pt