Dalai Lama: "Já vivi diversas vidas anteriores como mulher"
A ideia inicial de Ricardo de Saavedra era publicar um livro no dia da chegada de Sua Santidade o Dalai Lama a Portugal em 2001. Não o conseguiu, mas a vontade de finalizar o trabalho prevaleceu e é apresentado esta quarta-feira. Intitulado Peregrino da Liberdade - Dalai Lama XIV, o autor biografa o líder religioso minuciosamente.
O capítulo que se destaca é o da entrevista que fez ao Dalai Lama, a primeira vez que um jornalista português se deslocou a Dharamsala, mas as restantes trezentas e muitas páginas biografam o Buda vivo do princípio até aos dias mais recentes e em todos os ângulos possíveis. Na altura, por várias razões, o projeto "ficou na gaveta" mas, diz o autor, que jamais deixou de se interessar pelo tema: "Fui lendo tudo o que saía relacionado com o Dalai Lama e o Tibete, recolhendo material e tomando notas."
A obsessão era tanta que em 2005 foi a Paris e passou muito tempo a "vasculhar livrarias e alfarrabistas", tendo sido obrigado a comprar uma mala para "carregar a quantidade de livros que sobre o Dalai Lama". Em 2016, aconteceria o mesmo numa ida a Londres "fechado durante horas na British Library" e ficou decidido que 2019 seria o ano ideal para publicar o livro sobre o Dalai Lama: "Neste ano, quando se perfazem 60 anos da fuga do Tibete e 30 da atribuição do Prémio Nobel da Paz tinha de ser."
Fazer esta investigação, que é também religiosa, colidiu em algum momento com a sua própria crença espiritual ou isso nunca foi um obstáculo?
De início, surgiram algumas dúvidas. Mas é o próprio Dalai Lama quem diz que "a espiritualidade ultrapassa todas as dúvidas e, consequentemente, nessa medida ajuda todas as pessoas." O budismo é por muitos cientistas e eruditos considerado como uma ciência do espírito. O budismo não acredita num Deus criador, daí que possa até não ser considerado uma religião, o que leva Tenzin Gyatso (o Dalai Lama) a declarar que "a minha verdadeira religião é a bondade. O nosso próprio coração e o nosso próprio cérebro são o nosso templo; a filosofia que nos move é a bondade." Perante a firmeza destas palavras, todas as dúvidas desapareciam e não se levantaram obstáculos. Os princípios são os mesmos do cristianismo, daí que o Dalai Lama tenha criado profunda amizade com diferentes Papas (com João Paulo II, por exemplo, encontrou-se oito vezes no Vaticano), além de famosos teólogos como o monge trapista Thomas Merton, o Deão de Westminster Edward Carpenter, cuja mulher o tratava por "meu rapaz" e ele lhe chamava "minha mamã inglesa", e ainda com os arcebispos de Cantuária ou o sul-africano Desmond Tutu, tendo com este escrito um livro a meias.
O livro nasce de um encontro casual de terceiros com uma manifestação a favor do Tibete e dos ideais do Dalai Lama e, posteriormente, do convite para entrevistar o líder religioso. Receou não estar à altura?
Quem primeiro me falou na possibilidade de entrevista foi o professor Paulo de Morais. Não achei que fosse fácil conseguir uma entrevista em exclusivo, pelo que de início não me preocupei demasiado. O professor entregou-me a primeira autobiografia de Sua Santidade que fui lendo com interesse e trocando ao mesmo tempo impressões com o meu amigo budista Dr. Balkrishna, para quem tudo era muito simples, naquele sábio conselho de "deixa o coração falar". Mas quando a confirmação da entrevista chegou com data marcada, aí assustei-me a sério. Valeu-me o cientista Mathieu Riccard, o monge especialista em biologia molecular do mosteiro de Sechen, no Nepal, que por milagre se encontrava no Porto e, nas vésperas da minha partida para a Índia, me concedeu mais de três horas de conversa no seu hotel. Na longa viagem de quase três dias para Dharamsala escrevi e reescrevi perguntas, de forma a aproveitar sem desperdício o pouco tempo de que dispunha.
Faz questão de recordar que a unanimidade de vontades para a vinda do Dalai Lama só teve uma excepção: num governo que "se encolheu". Realidade que se mantém?
Pelos vistos, sim, a realidade mais do que a manter-se, acentua-se. No passado dia 10 de março, ao meio-dia, frente à Embaixada da China em Lisboa reuniu-se um grupo de manifestantes com cartazes e bandeiras do Tibete, assinalando o 60.º aniversário da Revolta Nacional em Lhasa. O Tibete está classificado pela ONG Freedom House como "o segundo pior lugar do mundo em termos de liberdade e direitos humanos, logo a seguir à Síria." Nessa manifestação participou o deputado do PAN, que depois, no dia 13, pretendeu ler um voto de pesar e solidariedade no Parlamento, o que, após um silêncio embaraçoso, o Parlamento chumbou. Apenas foi lida a última frase que reza assim: "A Assembleia da República expressa o seu pesar por todos os que morreram na defesa da autodeterminação Tibetana e a sua solidariedade ao povo Tibetano que, apesar da dura repressão e da ameaça de prisão, desaparecimentos, tortura e assassinatos, continua até hoje forte e a encontrar outras formas de se defender por meio de ações de resistência cultural, afirmações de identidade nacional e defesa ambiental." Será que o governo "encolhido" ainda se mantém o mesmo de 2001 e nem sequer os deputados mudaram?
Qual a recordação mais clara que ainda tem do dia 22 do quarto mês de 2128?
Quando cheguei ao Phodrang (o Palácio) e me disseram que aquele era o vigésimo segundo dia do quarto mês de 2128 deitei contas à vida e foi como se de repente tivesse recuado no futuro. As salas de cores brilhantes debruadas a ouro vivo, as memórias de outros tempos e civilizações, a magnitude do silêncio, onde repercutiam vibrações de címbalos que vinham do lado de lá dos séculos, todo aquele misticismo palpável que escorria da horripilante máscara de Mahakala, a divindade tutelar com a sua coroa de cinco caveiras e o vigilante terceiro olho na testa, quase me paralisou. Foi quando Tenzin Gyatso, o Precioso Soberano, apareceu suavemente do lado de um altar e com um sereno sorriso segurou-me as mãos. Titubeante, comecei por explicar que o fotógrafo que me acompanhava, o Carlos Alberto, era um mero amador, homem de negócios, e meu irmão. Insistira tanto em ir comigo, ameaçara zangar-se, e após muita teimosia lembrei-me de o promover a fotógrafo. Mas não era. Sua Santidade ouviu-me com ar de quem não percebia o meu gaguejado inglês. O meu irmão, de Nikon dependurada, que não falava inglês, parecia atrapalhado. E quando eu ia recomeçar as explicações, o Kundun quebrou o silêncio com uma das suas cristalinas gargalhadas que descongestionou por completo o ambiente, propondo então que o Carlos passasse a fazer parte do seu núcleo de fotógrafos preferidos, entre os quais se conta o ator Richard Gere. E quis que eu lhe explicasse a decisão antes de prosseguirmos a conversa. Sem intervenção de intérpretes, sem quebras, sem pressas, como se de há muito nos conhecêssemos. Aquela gargalhada, cristalina e espontânea, foi e é sem dúvida a recordação mais clara que ainda hoje mantenho desse histórico dia 22 do quarto mês do ano 2128. Seria uma hora e pouco da tarde de 13 de junho do calendário gregoriano. Em Lisboa, a cidade acordava no festivo dia de Santo António, seu patrono.
Foi capaz de ultrapassar o fascínio do entrevistado ou sentiu-se inibido em alguma pergunta que tinha pensado fazer?
Tudo correu bem, felizmente, num ambiente descontraído, exceto perto do final, quando lhe falei de uma das suas paixões, os relógios, e perguntei qual era, para ele, o conceito de Tempo. Olhou-me inquisitivo, consultou em tibetano os secretários, e eu receei ter sido indiscreto ao mencionar o seu particular interesse por relógios de marca, desde os Patek Philippe aos Rolex ou Omega. Mais tarde aprendi que, em tibetano, tempo e demónio se pronunciam da mesma maneira e que, na filosofia budista, o conceito de tempo varia conforme as diferentes escolas. Depois desses instantes deu-me a sua definição de tempo com toda a serenidade e o mesmo sorriso de sempre. E isso foi antes de surpreendentemente nos convidar para um novo encontro na sexta-feira seguinte.
Portugal era dos poucos países europeus onde o Dalai Lama não estivera. Havia alguma razão?
Não. O próprio Dalai Lama confessa que não encontrava qualquer explicação para não ter vindo antes a Portugal: «Simplesmente não aconteceu», disse, mas foi acrescentando que, depois de aprovar o programa da visita, se sentia cada vez mais ansioso por conhecer o nosso país.
Dalai Lama refere-se a si próprio como um "peregrino". No título, acrescenta-lhe "da liberdade". Só podia ser esse o nome do livro?
Claro que um personagem como o Dalai Lama dá azo à escolha de infindável variedade de títulos. Mas foi inspirado naquele que será talvez o seu livro mais conhecido, a segunda autobiografia Liberdade no Exílio, que optei pela palavra Liberdade. Poderia ser a Paz, a Não-Violência, a Compaixão, a Justiça, ou apenas Peregrino do Lótus Branco. Sua Santidade escreveu que «o principal problema grave é a Liberdade. Quer como Dalai Lama, quer como Tenzin Gyatso, quero ter liberdade para contribuir com tudo o que puder para bem dos tibetanos e dos outros povos». E tem sido essa a grande razão da sua peregrinação pelo mundo, especialmente a partir de 1973, quando pela primeira vez se deslocou à Europa e depois aos Estados Unidos da América e ao resto do mundo, lutando sempre pela liberdade do seu povo, subjugado pelas garras vermelhas de sangue e impregnadas de ódio da Revolução Cultural Chinesa. Por outro lado, o tema da liberdade sempre me cativou e, por mero acaso ou não, faz parte dos títulos de várias obras que ao longo da vida tenho publicado.
Entre os vários passos da peregrinação em Portugal esteve a ida a Fátima. Pareceu-lhe normal esse destino?
Sem dúvida. Fátima é um destino por excelência dos peregrinos de todo o mundo. E o Dalai Lama não podia deixar de ir a Fátima, ser exceção. Iniciou a vida de peregrino na Índia, nas celebrações do Buda Jayanti, que assinalavam o nascimento espiritual do Supremo Buda. A peregrinação, então, começou na visita ao memorial de mármore negro do Mahatma Gandhi, onde ganhou força para a «campanha pacífica pela liberdade do povo tibetano». A seguir percorreu os lugares sagrados da Índia, desde as ruínas de Nalanda, a Benares e Bodhgaya, onde Siddaharta Gautama atingira a Iluminação 2500 anos antes. Depois de fugir do Tibete, Sua Santidade empreendeu peregrinações a diversos destinos religiosos do planeta, de Jerusalém a Lourdes, de Assis em Itália a Shizuoka no Japão. Em Fátima foi recebido pelo então bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim Ferreira da Silva, e com ele orou na basílica e depois na Capelinha das Aparições, tendo feito questão de levar uma flor para a Senhora. À saída da Cova da Iria manifestou-se muito feliz e teve esta frase sintomática: «Senti as vibrações deste lugar».
O tempo da entrevista era o de uma época em que se começava a promover o diálogo inter-religioso como resposta aos choques civilizacionais. Um diálogo que entretanto se desfez. Dalai Lama antevia essa realidade?
No caso de Sua Santidade, não obstante o passado histórico, ele deixara entretanto de lutar pela independência ou pela separação da China. A partir de certa altura passou a acreditar que a autonomia do Tibete passava por uma solução mútua. Recorreu a vários governos e a diversas individualidades pedindo ajuda para que se materializasse um diálogo construtivo com Pequim, tendo sobretudo em conta a comunidade religiosa, a educação e a saúde, o que efetivamente nunca aconteceu. Até que em 1987, primeiro em Washington, e depois, em 1988, no Parlamento Europeu, propôs um Plano de Paz em Cinco Pontos, que ainda hoje se mantém, e que começa por sugerir a "transformação de todo o Tibete numa zona de paz", que se chamaria Zona Ahimsa, palavra hindi que significa não-violência. Seria um Templo de Paz Universal, uma nação budista, neutra e pacífica e também serviria de Estado-tampão entre as grandes potências da Ásia. Agora pergunta se o Dalai Lama conhecia essa realidade? Acho que sim, e suponho que ainda não deixou de a antever, tanto mais que o Plano de Cinco Pontos continua de pé, inalterado e recusado por Pequim.
Era um tempo também em que os acontecimentos de Tiananmen alteravam a esperança de Dalai Lama numa "negociação" com a China?
É certo que os acontecimentos de Tiananmen arruinaram por completo as conversações tidas até então. Em 1981 os chineses tinham chegado a aceitar quase tudo, desde que Tenzin Gyatso fixasse residência em Pequim. Queriam um Dalai Lama subjugado, que aceitasse ser manipulado. E até chegaram a abrir as portas do Tibete aos visitantes estrangeiros. Na sua intervenção no Parlamento Europeu, o Dalai Lama proporia então que o Tibete continuasse «a ser parte da República Popular da China, com a condição de a parte chinesa respeitar a nossa cultura, concedendo-nos a liberdade de manter a nossa herança.» Mas o ano de 1989 estrangulou as mais ousadas perspetivas quando, na noite de 3 para 4 de junho, os blindados chineses entraram na Praça da Paz Celestial, em Pequim, onde cem mil estudantes se manifestavam, e dizimaram à volta de dez mil jovens, segundo números na altura divulgados. Também já antes os tibetanos se haviam revoltado, sofrendo sete meses de desgraça e tragédia, ao testemunhar um verdadeiro genocídio, até que Pequim lhes impôs a lei marcial em março de 1989. E foi nesse ano que, a 5 de outubro, o Prémio Nobel da Paz foi atribuído a Sua Santidade o Dalai Lama XIV. Claro que os chineses reagiram, espalhando que o laureado e os tibetanos eram «separatistas da pátria». E reforçaram as perseguições e prisões, mas nunca mataram a esperança do Precioso Soberano.
Acreditou quando ele lhe disse "temos de encontrar uma maneira de purificar a política" ou achou que era uma resposta zen?
Entendi-a como uma resposta dada no sentido budista da palavra. Sua Santidade disse que «muitas pessoas conservam uma ideia suja de política. E alguns que andam na política agem nessa conformidade. Mas não está correto. É um conceito errado». Partindo do princípio de que a política faz parte da comunidade em que vivemos, às vezes há quem ande nela e tenha falta de princípios morais ou de visão a longo prazo. Ora, Tenzin Gyatso acha que, perante tal infelicidade, não podemos abandonar essas pessoas nem abolir a política. Há, por conseguinte, que ajudá-las a regressar ao bom caminho, a fim de purificar a política. Claro que, quando disse isso, o entrevistado deu uma das suas cantantes gargalhadas, talvez porque a palavra "purificar" não fosse a mais correta, já que o expurgo dos maus políticos não é, realmente, tarefa fácil nem definitiva.
O momento mais inesperado é a sua pergunta "Admite que o próximo Dalai Lama possa ser uma mulher?" e a resposta foi imediata. Concorda?
Era de facto uma das perguntas de algibeira. Eu sabia que Tenzin Gyatso já havia escrito que, como budista e crente na teoria dos renascimentos, "já vivi certamente diversas vidas anteriores como mulher. Sucederá o mesmo nas minhas vidas futuras. (...) As capacidades de atingir o nirvana são idênticas." Por isso, quando coloquei a questão diretamente, a resposta imediata foi "Oh, sim! (...) No futuro, se um Dalai Lama feminino for considerado mais útil e eficaz, penso que então será uma mulher." E adiantou-se a esclarecer que a Instituição da Reencarnação terá começado há 800-700 anos. Nesse período houve um Lama feminino muito célebre em destacada posição hierárquica. Mas os Dalai Lamas foram sempre homens. E a mudança pode realmente acontecer.
Acompanhou a vida do Dalai Lama durante os anos que separam a entrevista e a reportagem ou só o voltou a fazer antes de finalizar este projecto?
Como já referi acompanhei sempre a vida do Dalai Lama e tive amigos a fornecer-me informação do que ia acontecendo. Os amigos mais próximos acreditavam que o livro havia de sair, nem que fosse o meu último trabalho jornalístico. E é por isso que me sinto honrado. Falta-me voltar um dia destes a Dhasa, para entregar em mão ao Kundun o livro que na altura da entrevista lhe prometi. Sinto saudades de reviver as suas gargalhadas e de apertar novamente aquelas mãos que tanta serenidade transmitem.
Curiosidade: alguma vez referiu a presença do jesuíta António de Andrade no Tibete ao líder budista?
Claro que sim. Antes de iniciarmos propriamente a entrevista falámos um pouco sobre Portugal e eu, que estudara a lição, referi o jesuíta António de Andrade, nascido em Oleiros, Castelo Branco, e que, em 1624, com o padre Manuel Marques, terão sido os primeiros europeus a visitar o Tecto do Mundo, chegando a Chaparangue, no Reino Gunge do Tibete Oriental. O rei e a rainha abriram-lhes as portas do palácio e da alma, convertendo-se ao cristianismo. Ali fundariam uma missão e ergueriam uma pequena igreja. Em 1630 já António de Almeida vivia em Goa, sendo nomeado Provincial dos Jesuítas depois de, em 1626, ter publicado em Lisboa o livro Novo Descobrimento do Gram Cathayo, ou Reinos do Tibete, a relatar os mistérios do País das Neves Eternas, que de imediato se torna conhecido nos mais desenvolvidos países da Europa. Ainda durante a entrevista falaríamos de outros portugueses que Sua Santidade houvera conhecido na sua vida de peregrino pelo mundo. Lembrava-se muito bem dos timorenses e prémios Nobel da Paz José Ramos-Horta, que o visitou em Dharamsala, e D. Ximenes Belo, tal como do presidente Mário Soares. Disse não se lembrar de mais ninguém. E nós também não referimos o professor António Damásio, que com ele participava na 2.ª Conferência sobre Espírito e Vida em Newport Beach, na Califórnia, em outubro de 1989, no dia em que foi conhecida a atribuição do prémio Nobel da Paz. Certamente Tenzin Gyatso terá julgado que Damásio era sul-americano, tal como o neurocientista chileno Francisco Varela, fundador do Mind & Life Institute. E nessa altura, admito, eu também ainda não sabia que António Damásio fazia parte do grupo de cientistas que promoviam tais conferências destinadas a aliviar o sofrimento e a promover a integração da Ciência nas práticas contemplativas.
Quantas perguntas ficaram por fazer em Dharamsala?
A partir de certa altura, com o desenrolar da conversa, as perguntas que levava foram-se diluindo entre as respostas colhidas na conversa quase informal. Mas, sim, faltou sobretudo abordar questões de âmbito religioso, científico, filosófico, e até humano. O projeto, porém, era apenas explorar alguns pormenores da vida exemplar desse homem notável e cativante, que abandonou uma fabulosa fortuna e um reino de maravilhas para se dedicar de corpo e alma à defesa do seu país e do seu povo, sem deixar de ser ao mesmo tempo o mais humilde dos monges. E é isso o que a editora Quetzal oferece agora aos seus leitores: um livro onde se descreve em termos simples a vida de um monge vulgar, pois é assim que ele gosta de ser tratado e a todos agrada. Menos aos chineses opressores, é claro.
Ricardo de Saavedra
Editora Quetzal, 407 páginas
Lançamento esta quarta-feira, no El Corte Inglés de Lisboa, pelas 18.30.
Apresentação de Paulo de Morais e participação de Balkrishna Maganlal e de Alexandra Correia