Da solidão em Veneza ao nascimento de um filho. Natais que marcaram os nossos atletas

Ricardinho, Miguel Oliveira, Patrícia Mamona, Madjer e Fernando Pimenta contam ao DN na primeira pessoa as quadras festivas que mais os marcaram e explicam porquê.
Publicado a
Atualizado a

Ídolos de muitas crianças, Ricardinho (futsal), Miguel Oliveira (motociclismo), Patrícia Mamona (atletismo), Madjer (futebol de praia) e Fernando Pimenta (canoagem) são alguns dos maiores atletas portugueses. Estão habituados aos aplausos e a levar a bandeira portuguesa bem alto... mas não deixam de ser pessoas como as outras, que festejam o Natal e vivem a quadra de forma tradicional. Os atletas já foram crianças e admitem que agora vivem a festividade de maneira diferente e dão mais valor ao tempo em família.

A pedido do DN, os cinco atletas recordam natais que os marcaram. Ricardinho tem uma história triste em Veneza que decidiu gravar para sempre numa tatuagem, Patrícia Mamona não esquece o dia em que lhe ofereceram uma câmara de filmar, Madjer recebeu a melhor prenda de todos com o nascimento do filho Bernardo, Miguel Oliveira não esquece o dia em que lhe deram uma moto-quatro e Fernando Pimenta destaca a parte humana do Natal com o convívio em família.

Pesadelo em Veneza ficou tatuado

Ricardinho - Melhor jogador do mundo de fustal

"Estávamos no ano de 2014 e decidi passar o Natal fora de Portugal, porque não tinha oportunidade de estar com os meus filhos, uma vez que cada um estava com a sua mãe. Um em Lisboa e outro no Porto. Para tentar não pensar muito na situação e não sofrer muito, decidi viajar... até Veneza, cidade do amor, para ver se me contagiava com esse sentimento...

Comprei a viagem, marquei hotel, tudo como no filme The Tourist (O Turista) com a Angelina Jolie e fui eu viver essa aventura. A verdade é que foi um pesadelo. Tudo me fazia lembrar os meus filhos! Via as famílias a passear com os filhos, sorrisos por aqui e por ali, a comprarem presentes, e eu, ali, sozinho, sem os meus filhos, sem um sorriso! Decidi ouvir ópera para desconectar desse sofrimento, e nada. Fui andar de gôndola, e nada. Não consegui desconectar...

Na verdade, foram os três dias mais duros de supostas férias que tive. Ficou a experiência de conhecer uma nova cidade, uma aventura, e perceber que não existe nada mais importante do que a família, os filhos, os sorrisos de quem amamos e tentar nunca estar sozinho!

Como se não tivesse sofrido o suficiente e tivesse essa imagem na cabeça, decidi tatuar esse momento marcante, para não acontecer outra vez e servir como lição de vida! E este foi um dos natais mais duros da minha vida, sem ninguém ao lado, principalmente os meus filhos."

Acreditar no Pai Natal até aos 12 anos

Patrícia Mamona - campeã da Europa do triplo salto em 2016

"Lembro-me de um Natal em que eu queria muito, muito, muito uma câmara de filmar. Foi numa altura em que começaram a aparecer as máquinas mais pequenas e a cores... O meu pai para me enganar deu-me uma caixa de chocolates e eu fiquei toda triste. Todos tinham os presentes que queriam, espetaculares... a minha irmã tinha recebido uma PlayStation, o meu irmão recebeu outra coisa qualquer top e eu uns chocolates. Fiquei superchateada, pensei que era de facto o meu presente. No final de todos trocarem as prendas, o meu pai disse que ainda havia mais um...para mim. Era a máquina de filmar que eu tanto queria.

Foi a primeira vez que tive contacto com a imagem a esse nível. Logo nesse dia fiz um monte de filmes que ainda hoje são vistos lá em casa. Eu quando olho para aquilo é muito nostálgico e faz-me lembrar as palhaçadas que eu fazia quando era mais nova. O Natal tem mais impacto quando somos mais novos. Quando chegava dezembro vivia numa ansiedade à espera de escrever ao Pai Natal.

Eu acreditei no Pai Natal até aos 12 anos. Como era miúda e não sabia como funcionavam os correios, escrevia uma carta ao Pai Natal e metia na minha caixa de correio na inocência de que o carteiro a ia buscar e levar a quem de direito. Depois descobri que era o meu pai que ia buscar a carta e por isso acertava sempre nas prendas que eu queria. É tão bom recordar isso! Como é que eu com 12 anos ainda acreditava no Pai Natal?

Neste ano como estou a treinar para os Jogos Olímpicos (vou treinar a 24 e a 26) não posso tirar férias para ir ter com a minha família a Londres e vou passar com a família do meu namorado. Estou ansiosa porque sou daquelas pessoas que gosta de estar em família, em alegria, fazer os bolinhos, cozer o bacalhau, comer coisas boas... é tradição."

O melhor presente: um filho

Madjer - melhor jogador de futebol de praia de todos os tempos

"A minha mãe era uma guerreira e sempre me ensinou a mim e aos meus irmãos a lutar por aquilo que queríamos. Era ela que fazia de Pai Natal. Era a mãe Natal! Nós sabíamos e gostávamos que fosse assim. Eu gosto do Natal e para mim todos os anos são especiais, mas há um que foi mais especial do que os outros porque tive uma prenda que nunca tinha recebido antes. Foi o primeiro Natal depois de ter sido pai e foi especial.

Foi quando entendi o verdadeiro sentido da palavra 'Natal das crianças', foi um dos melhores natais, pela novidade, eu tinha recebido a melhor prenda do mundo, um filho, o Bernardo. Jamais esquecerei a forma como olhei para ele. Ele era muito pequenino e nem tinha consciência das prendas ou das palavras, mas o meu olhar embevecido perante o melhor presente que podemos ter na vida deve ter dado nas vistas. Só quem é pai sabe o quanto é um motivo de felicidade o nascimento de um filho. Não são apenas palavras, é um sentimento sem igual. Um orgulho enorme.

Hoje com 14 anos será o Bernardo a perpetuar a tradição de família e vestir-se de Pai Natal. E eu além do Bernardo, já tenho a Kyara e a Eva na minha vida. Um amor que às vezes é descontrolado por ser tão diferente daqueles amores que nós vivemos ao longo das nossas vidas. Tudo o que faço e continuo a fazer é em prol da minha família. Eles sabem disso. As minhas ausências foram a pensar em lhes dar qualidade de vida."

A moto-quatro que lhe mudou a vida

Miguel Oliveira - piloto do Moto GP

"Tinha uns 3/4 anos. Quando entrei na sala de jantar tinha uma palete com algo em cima e tapada com um lençol. Fiquei intrigado com o que seria aquilo. Sabia que era para mim, mas não sabia que aquilo ia mudar a minha vida. Quando me deixaram destapar o presente vi que era uma moto-quatro. Fiquei feliz da vida!

A mota veio com um aviso. Para sair da palete eu tinha de prometer que não ia baixar as notas na escola. Eu portei-me bem, mas ainda dei algumas quedas e o meu pai ameaçou tirar-ma. Ainda bem que não o fez. A mota mudou a minha vida.

Hoje, sou piloto de Moto GP e cada vez que é Natal recordo-me daquele especial em que recebi uma moto de prenda. Foi o Natal dos natais...

Com o passar do tempo vamos vivendo o Natal de maneira diferente, ligamos mais aos momentos em família e às coisas que vamos comer do que às prendas. Agora que passo o ano todo fora a andar de pista em pista sabe bem voltar a casa para passar o Natal, mas acaba por ser mais um dia em família."

O Benfica nunca foi campeão a 24 de dezembro

Fernando Pimenta - campeão do mundo de canoagem

"As minhas recordações de Natal são sempre da família reunida em casa, em volta da mesa, a colocar as conversas em dia, a fazer os nossos 'debates' internos e troca de opiniões. Isso, para mim, sem dúvida que são as melhores recordações que tenho do Natal. Não sou de pedir presentes, nem sou muito de bens materiais, prefiro a parte mais humana do Natal. O de estar em família.

Como atleta de alta competição que passa o ano todo em treinos e muitas vezes em estágios e provas fora, sabe bem voltar a casa e ter um dia ou uma noite em família. Não tenho um Natal que me tenha marcado mais do que os outros, até porque o Benfica não ganhou nenhum campeonato no dia 24 de dezembro (risos). Todos os natais em que estou em família são especiais."

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt