As primeiras doses de vacinas contra a covid-19 chegaram ao país, após a Agência Europeia de Medicamentos e a União Europeia terem aprovado no dia 21 a vacina da Pfizer. A Portugal chegaram 9750 doses, o que representa a vacinação de 4725 profissionais (a vacina é composta por duas doses administradas com um intervalo de 21 dias) de cinco centros hospitalares universitários - dois do Porto (São João e Santo António), o Universitário de Coimbra e dois da capital, Lisboa Central e Lisboa Norte. Mas antes do Natal chegou a notícia de que até ao final do ano chegarão mais 70 200 doses. Ao todo, o Governo português estima adquirir 22 milhões de doses, gastando mais de 200 milhões de euros..O processo que agora se inicia e que marca mais uma fase no combate ao vírus SARS-CoV-2, que invadiu o mundo há um ano, quando foi identificado pela primeira vez na província de Wuhan (China), vai ser longo e gradual, tal como faz questão de referir o coordenador da task force para o Plano de Vacinação contra a covid-19, Francisco Ramos..Um plano que está delineado, mas que Francisco Ramos diz também que nunca estará fechado e que terá sempre de ser avaliado e adaptado à realidade do momento. Até porque depende sempre da produção de vacinas e da sua distribuição..Os utentes, os que fazem parte dos grupos prioritários incluídos nas três fases em que este plano se divide, serão contactados por SMS para dizerem se querem ou não ser vacinados, e que tanto o transporte das vacinas como a sua administração obedecerão a regras de segurança. Francisco Ramos já anunciou que o país está preparado para vacinar cerca de 75 mil pessoas por dia..Quando a 10 de janeiro de 2020, as autoridades chinesas revelaram a sequência genética do SARS-CoV-2 ninguém imaginava, nem mesmo a ciência, que fosse possível ter uma vacina em menos de um ano. Mas, na altura, dois laboratórios americanos - Pfizer e Moderna - começaram logo a trabalhar. Na altura, os EUA ainda não registavam casos, mas a informação genética passada pelas autoridades chinesas bastava para iniciarem o desenvolvimento de uma vacina, à base de uma tecnologia até aqui nunca usada em vacinas - RNA (sigla inglesa) em português ARN (ácido ribonucleico) -, contra o vírus..Chegados ao verão, as empresas anunciaram que os resultados obtidos nos primeiros ensaios eram significativos e iriam começar a produção por sua conta e risco - ou seja, ainda mesmo sem autorização de qualquer entidade reguladora para os medicamentos. Foi assim que se adiantaram em relação aos outros candidatos com projetos de vacinas..Neste momento a vacina da Pfizer e da BioNTech, parceiro alemão do laboratório americano, a primeira a ser aprovada, já está a ser administrada no Reino Unido r nos Estados Unidos, e vai agora começar a ser usada nos 27 Estados membros da UE..Portugal definiu três fases para a vacinação, com grupos prioritários, mas o cumprimento destas está dependente da capacidade de produção dos laboratórios e da sua capacidade de entrega. A logística da produção ao armazenamento e à distribuição tem muitas restrições e impõe condições em relação a quem vai ser vacinado e onde..Os resultados dos dois primeiros ensaios clínicos foram de tal forma relevantes que os dois laboratórios - Pfizer e Moderna - decidiram avançar com a produção, mesmo sem terem dado ainda entrada ao processo de autorização e de comercialização..Em outubro, a fábrica da Pfizer, no Michigan (EUA), já estava a produzir a vacina que agora está a ser distribuída nos 50 estados, e as fábricas da Pfizer (Bélgica) e da BioNTech (Alemanha) já começavam a produzir as vacinas que agora serão distribuídas na Europa..Mas, mesmo assim, não parece ter sido o suficiente para satisfazer todos os acordos já assinados pela empresa. De tal forma que já comunicou à UE que terá de entregar menos 236 milhões de doses no primeiro trimestre, que tentará repor no segundo. Há tecnologia, mas para tudo há um limite, e esse pode ser o limite humano. A situação já fez que o plano de vacinação português e os de outros países tivessem de ser ajustados..Ou seja, e como tem referido o coordenador da task force, "o processo vai ser longo e progressivo. Estamos dependentes das empresas e da chegada das vacinas". Vamos ver o que acontece depois com as vacinas da Moderna..A vacina da Pfizer tem requisitos muito específicos, exige a manutenção abaixo dos 70 graus, o que é já de si uma dificuldade em termos de transporte, distribuição e armazenamento. Nas fábricas, as doses são acondicionadas em caixas, cada uma podendo levar até 4875 vacinas, no meio de gelo para as manter à temperatura indicada. São embaladas e colocadas nos camiões que as vão transportar até aos países de destino..A Pfizer comprometeu-se a entregar as vacinas em cada Estado membro e nos locais indicados pelas autoridades de saúde - em Portugal foi no continente e nas ilhas ao mesmo tempo. As vacinas chegarão de avião ou por via terrestre, em camiões, e serão direcionadas para um primeiro lugar, um armazém central, de onde seguirão depois para os vários locais de vacinação, como hospitais, lares, unidades de cuidados continuados, e para os 1200 postos definidos no Plano Nacional de Vacinação, sobretudo centros de saúde e onde serão administradas as vacinas durante a primeira e a segunda fase..Na terceira fase e depois durante a vacinação maciça ao resto da população, podem ser distribuídas ainda em outros locais que venham a ser indicados, como farmácias e espaços cedidos pelas autarquias, escolas e pavilhões..Cada utente será contactado pelos serviços de saúde através de um SMS para declarar se quer ser vacinado ou não, já que a vacina é voluntária e gratuita. Se disser que sim será feito o agendamento para um local de vacinação, que poderá ser o seu centro de saúde ou uma outra unidade próxima da sua residência..A vacina da Pfizer impõe restrições logísticas, devido à sua conservação, mas também que os profissionais de saúde que a vão manusear e administrar o saibam fazer e tenham formação para tal. Após entregues no armazém central e em caixa fechada, a validade da vacina vai até aos seis meses. Quando uma das caixas é aberta para se começar a vacinar, a validade reduz para quatro a cinco dias. O que significa que utentes de centros de saúde que servem populações menores do que esta quantidade terão de ser distribuídos por outros pontos de vacinação, "mas ficarão igualmente próximos da sua residência", pois não se pode correr o risco de as vacinas perderem a validade se não forem aplicadas naquele período..As vacinas vão chegar congeladas a todos os países e o processo de descongelamento só pode ser feito no momento em que estão para ser administradas, o que diminui de imediato o seu prazo de validade. De acordo com as indicações da empresa, devem ser descongeladas e armazenados os frascos não reconstituídos em frigorífico (de 2.º C a 8.º C) até cinco dias (120 horas). Uma embalagem secundária de 195 frascos pode levar até duas ou três horas a descongelar no frigorífico, enquanto uma com número menor de frascos descongela em menos tempo..Para uso imediato, deve descongelar-se os frascos à temperatura ambiente até 25.º C por 30 minutos. Os frascos descongelados podem ser manuseados em condições de luz ambiente. Os frascos injetáveis não reconstituídos podem ser armazenados à temperatura ambiente mas não mais de duas horas..Após reconstituição, os frascos devem ser armazenados entre 2.º C e 25.º C para serem usados dentro de seis horas a partir do momento da reconstituição. Durante o armazenamento, deve ser minimizada a exposição à luz ambiente e evitar-se a exposição à luz solar direta e à luz ultravioleta. Qualquer vacina remanescente nos frascos deve ser descartada após seis horas e não deve ser congelada novamente..Os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde estão a fazer a listagem dos utentes a vacinar, tendo por base os critérios definidos pela DGS, por fase e unidade de saúde. Esta listagem terá depois de ser disponibilizada aos agrupamentos de centros de saúde para que estes contactem os utentes. Se a resposta for sim, o utente receberá uma proposta de data para agendamento da sua vacinação. Se for não, já que a vacina é voluntária, não será convocado para a vacinação..Para se ter a certeza de que serão vacinadas todas as pessoas que estão incluídas nos grupos prioritários está a ser desenvolvido um sistema de monitorização da administração das vacinas que ficará ligado ao sistema de distribuição de stocks e agendamento. Um sistema que pretende garantir o acompanhamento de processo de vacinação e a sua aplicação por região, local, tipo de vacina - a que laboratório pertencem -, etc..O processo de vacinação impõe também o acompanhamento ou a monitorização de todos os utentes vacinados e não vacinados para se poder perceber melhor também o impacto da eficácia da vacina na população. Impõe igualmente que seja estimada a efetividade da vacina na população por idade, sexo e até por patologias associadas. Impõe ainda que seja feita a monitorização de possíveis reações adversas..Mas a logística implica também que seja dada formação aos profissionais que vão estar destacados para a vacinação. Uma formação que tem de ter por base os requisitos da vacina e também a sensibilização dos profissionais para poderem prestar informações e esclarecerem as dúvidas dos utentes. Quanto ao campo da comunicação, e para que a população possa estar cada vez mais informada sobre a vacinação, o plano de logística envolve a construção de campanhas de informação em vários meios, através de plataformas próprias e ainda de uma linha de apoio..Um dos aspetos mais importantes deste plano logístico é sem dúvida a operação de segurança às vacinas, que vai desde o transporte ao armazenamento, dos centros de vacinação às pessoas. Os locais de armazenamento estarão sujeitos à vigilância policial, segurança área e segurança nas instalações. A eles só terão acesso pessoas acreditadas e só quando for mesmo necessário, estando também pensadas medidas de isolamento destes locais sempre que for necessário..Para facilitar o transporte das vacinas será criado um dispositivo de desembaraçamento de trânsito, um dispositivo de segurança para acompanhar este transporte e, se necessário, ainda apoio aéreo. Os locais de carga e descarga de vacinas estarão sujeitos também a forte vigilância policial. Aliás, ao transporte de vacinas será também aplicado o princípio de transporte crítico, fazendo que seja controlado por um sistema de georreferenciação.