Da liderança dividida do Brasileirão à vida difícil de Paulo Sousa no Flamengo

Abel lidera a armada dos treinadores portugueses no futebol brasileiro, com um Palmeiras mais forte, que lidera o campeonato, juntamente com o Corinthians de Vítor Pereira.
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A armada dos quatro treinadores portugueses no Brasil vive realidades diferentes. O Palmeiras de Abel e o Corinthians de Vítor Pereira dividem a liderança do Brasileirão e têm a companhia do Flamengo de Paulo Sousa nos oitavos de final da Libertadores, prova que nas últimas três épocas foi ganha por um treinador português (Jorge Jesus em 2019 e Abel em 2020 e 2021). O mengão tem desiludido no campeonato brasileiro, onde Luís Castro tem dado nas vistas com o 7.º lugar do Botafogo.

E se Abel "tem muita moral e uma equipa fortíssima", Vítor Pereira é "aclamado pelos adeptos" e Luís Castro tem dado "algumas lições de moral" no Botafogo, Paulo Sousa tem sido "muito criticado" no Flamengo. Quem o diz é Paulo Morgado, o português que treina no Brasil há mais de dez anos - vai orientar o Alvorada para tentar a terceira subida à Série A do campeonato amazonense.

"O Flamengo é um clube muito complicado para trabalhar. Os adeptos estão mal habituados com os bons resultados, sempre à espera do próximo Jorge Jesus, mas o Jesus tinha um plantel que o Paulo não tem e por isso o início de época não está a ser fácil, desacreditado por adeptos e adversários. O grande desafio é conquistar o povo com resultados e boas exibições. No Fla ganhar por um não chega, tens de ganhar por muitos. Acredito que ele se mantenha no clube nos próximos meses, mas não vejo um futuro muito risonho", disse ao DN o ex-jogador do Belenenses.

Nos primeiros jogos "notou-se muito pouco a mão" de Sousa no estilo de jogo da equipa. Além de não ter Gerson, todas as semanas tem de trocar o onze com "o problema acrescido de ter alguns jogadores que só jogam com bola, casos de Bruno Henrique, o Gabigol e o Arrascaeta": "Ele quer dar intensidade em termos defensivos, mas não consegue com esses jogadores. E se não jogam até os adeptos torcem contra".

O modesto oitavo lugar no campeonato reflete essa inconstância. Com 30 jogos pelos rubro-negros, em cinco provas, Sousa soma no Brasileirão três vitórias, três empates e duas derrotas. Na Libertadores são cinco vitórias e um empate. E depois há ainda dois triunfos na Copa do Brasil, nove vitórias, dois empates e duas derrotas no Campeonato Carioca e ainda um empate na SuperCopa do Brasil.

Já o Palmeiras "vive num sonho" desde a chegada de Abel, que tem batido recordes atrás de recordes: "É o treinador com mais moral no Brasil e cobiçado por quase todos. Este ano está mais forte e penso que vai inverter a estratégia e investir tudo no Brasileirão. Nos outros anos teve de abdicar do campeonato para apostar na Libertadores, mas este ano tem um plantel melhor e maior e dá para isso."

Para Paulo Morgado, a forma de jogar do verdão continua idêntica, com linhas recuadas e em transição, mas está mais mandão e com mais posse de bola. O problema é que alguns jogadores podem não aguentar três/quatro jogos seguidos com o mesmo rendimento. Já com 34 jogos em 2022, Abel só perdeu dois (um no Campeonato Paulista e outro na Libertadores). Tem 25 vitórias e sete empates. Lidera o Brasileirão, com 15 pontos, os mesmos de At. Mineiro e Corinthians.

Nos 22 jogos em que orientou o timão, deu para perceber que Vítor Pereira tem um problema grave para resolve: "O Vítor é um dos melhores técnicos portugueses. Infelizmente caiu num Corinthians em idade avançada e como não tem um plantel extenso também vai ter de fazer opções. Mais do que os outros, ele terá de saber gerir o plantel." Tem uma equipa "forte, mas se tirar aqueles 11, não tem peças tão boas para os mudar - caso de Willian". "Por isso, a determinada altura da época terá de decidir se vai lutar pela Libertadores ou pelo Brasileirão".

Segundo Paulo Morgado, o compatriota do Corinthians "vai andar a ganhar pela margem mínima" em muitos jogos, mas "está a fazer um excelente trabalho e os adeptos gostam muito dele e apreciam bastante a postura e o discurso". Vítor Pereira soma três derrotas em seis jogos no Paulista, mais uma no Brasileirão (em oito jogos) e uma na Libertadores (em três jogos), prova onde poderá ter um confronto com Paulo Sousa nos quartos de final. Mas primeiro tem de passar os oitavos de final da competição e o adversário é o Boca Juniors da Argentina. Já o Flamengo terá de eliminar o Tolima (Colômbia) e o bicampeão Palmeiras bater o Cerro Porteño (Paraguai).

Por fim, a missão de Luís Castro no Botafogo, clube que sobe e desce de divisão há anos. Paulo Morgado acredita que o português "vai acabar em sétimo ou oitavo do Brasileirão". Nesta altura está em sétimo, à frente do Flamengo. E isso já diz muito do feito do ex-técnico do FC Porto: "O último jogo não foi muito bom, mas nota-se que tem melhorado e se quiser ir longe na Copa do Brasil tem de sacrificar alguns jogos do campeonato."

Mais do que mudanças táticas e estruturais ao nível do treino, o dedo de Luís Castro nota-se na sala de imprensa: "A forma de comunicar e a eloquência com que responde a questões por vezes maldosas sobre porque joga este e não aquele. Tem dado algumas lições de moral." Os adeptos gostam dele, talvez porque nos nove jogos em que já orientou a equipa só perdeu um para o campeonato. Um dos três triunfos foi frente ao Flamengo. Tem ainda três empates.

A armada portuguesa no Brasil, entretanto, cresceu esta semana - António Oliveira vai treinar o Cuiabá -, uma "moda" que "vai manter-se mais uns cinco anos", mas, segundo Paulo Morgado, "assim que deixarem de vencer, os portugueses voltam a ser os burros de sempre e os brasileiros os melhores do mundo". E "não é por acaso que quando discutes futebol com um brasileiro a conversa termina sempre com a pergunta: "Eu fui pentacampeão do mundo e tu?""

isaura.almeida@dn.pt

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