Cristas "em pelota". Ultraconservadores do CDS não gostaram
A Tendência Esperança em Movimento (TEM) do CDS-PP, única tendência oficialmente reconhecida na orgânica interna do CDS-PP, não gostou da presença da líder do partido no 5 para a Meia-Noite que a RTP 1 emitiu em 13 de setembro passado.
No programa, apresentado pela atriz Filomena Cautela, Assunção Cristas confessou ter uma vez tomado um banho público "em pelota". Foi numa viagem ao Japão, num banho de águas vulcânicas, num grupo de mulheres (os homens estavam noutro grupo). No mesmo programa, também leu um pequeno excerto do livro de contos eróticos Mulheres, Sexo & Manias , de autoria da ex-vocalista dos Buraka Som Sistema, Blaya. Questionada sobre se preferia participar numa marcha de orgulho gay ou em defesa da legalização da marijuana, Cristas respondeu: "Numa marcha pelo orgulho gay."
Os conservadores do CDS-PP não gostaram. No site da tendência, um seu dirigente, Mário Cunha Reis, escreveu um artigo, intitulado "A casa dos degredos", em que considerou que a prestação de Assunção Cristas no 5 para a Meia-Noite foi para si "motivo de perplexidade".
Também dirigente nacional do CDS - é membro do conselho nacional do partido -, Cunha Reis considerou: "No programa de 13 de setembro, o convidado foi a presidente daquele que é o partido mais conservador com assento parlamentar em Portugal. As respostas dadas pela convidada foram motivo de destaque em vários jornais e revistas cor-de-rosa. E não foi por acaso."
Significativamente ilustrado com o quadro Os Bêbados, de José Malhoa, o dirigente centrista prosseguiu: "Todos compreenderam que há algo que 'não bate certo', a menos que o partido que representa já não seja o mesmo, um partido democrata-cristão. Foi por isso motivo de perplexidade. E, certamente, foi recebido com a satisfação da esquerda dita progressista e do lóbi LGBTQx".
"A mim também causou perplexidade! Porque não quero, nem aceito, que a minha casa política se transforme numa futura casa dos degredos, recomendo aos dirigentes nacionais, simplesmente, pudor e recato, virtudes bem cristãs, evitando todo e qualquer escândalo público, porque os valores que defendemos são perenes e intemporais e não se compadecem com modas, pragmatismo político-tático e menos ainda com a aceitação da ditadura do politicamente correto", concluiu.
No artigo, Mário Cunha Reis começou por expor as suas ideias sobre o que são reality shows (daí intitular o artigo "Casa dos degredos", uma referência à Casa dos Segredos , da TVI): "Foi um programa de experimentalismo social, muito ao gosto marxista, criado na Holanda em 1997, sob a forma de 'programação' de entretenimento, que passou nas televisões de todo o mundo, mostrando a todos, numa dialética exibicionista e voyeurista (tenha-se presente que ambas são psicopatologias) - 'a vida como (supostamente) ela é' -, numa campanha deliberada de normalização de muito do pior que a sociedade pós-moderna produziu."
Isto para a seguir considerar que o 5 para a Meia-Noite é um talk show em que "aparecem regularmente figuras públicas, entre as quais dirigentes políticos" que se insere na "mesma lógica de exposição pública". "Por lá passaram várias personalidades da vida política, sendo que, com habilidade e muita cautela, souberam sempre evitar as perguntas mais inconvenientes ou impertinentes da apresentadora", conclui este dirigente centrista, insinuando assim que a líder do seu partido não teve essa capacidade.
A Tendência Esperança em Movimento pugna pelo regresso de Manuel Monteiro ao CDS e está a organizar para o próximo dia 20, em Lisboa, uma conferência, intitulada Pensar Portugal 2018, em que o ex-líder será um dos oradores. Assunção Cristas irá encerrar o encontro.