Cristãos e marxistas à mesma mesa. Um encontro com inimigos
Quando hoje, em Ermoupoli, na Grécia, cristãos e marxistas se sentarem à mesma mesa para discutir durante oito dias a "Europa como uma casa comum", haverá quem torça o nariz. "Na verdade, este processo de diálogo tem inimigos e estes são externos e internos", aponta ao DN José Manuel Pureza, deputado do BE e católico, que está na Grécia para participar na escola de verão do Dialop (Projeto de Diálogo entre Cristãos e Marxistas). "Nem todos os cristãos simpatizarão com isto, como nem todos os marxistas..."
De um encontro no Vaticano entre o então líder da oposição grega, Alexis Tsipras, e o Papa Francisco "nasceram pistas de aproximação e convergência muito estimulantes" traduzidas nesta plataforma de diálogo, que procura esses "pontos de convergência, a partir da diversidade, de pressupostos que são marxistas e católicos", aponta Pureza.
"Não há proselitismo de parte a parte, há áreas que desafiam à convergência", regista, recordando os tempos conturbados que se vivem - também na Igreja. "Hoje, na Europa, as tensões exigem escolhas, onde cristãos e marxistas estão comprometidos", indica o deputado bloquista. Que enumera a pobreza e as desigualdades, os refugiados e os migrantes, a xenofobia e o racismo como áreas onde está presente esse compromisso. São questões que "desafiam quem, como cristão e como marxista, se bate pelos direitos das pessoas".
José Manuel Pureza chegou a estes encontros "pelo lado da esquerda". "Mas", diz, "faria com o mesmo entusiasmo se fosse desafiado pelo lado católico". "Há grande sintonia de preocupações e perspetivas", nota.
Na abertura da escola, que decorre neste domingo à tarde, será possível escutar o arcebispo Vincenzo Zani, secretário da Congregação da Educação Católica, e na quarta-feira um dos oradores será Michael Löwy, pensador marxista brasileiro radicado em França, que dirige as Ciências Sociais no Centre National de la Recherche Scientifique, de França.