Crescentes tensões em Jerusalém põem governo israelita à prova

O primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, tenta manter a sua coligação no poder, enfrentando uma rebelião de deputados conservadores e com os parlamentares árabes a ameaçar retirar o seu apoio, devido à escalada de tensões em Jerusalém.
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Ex-empresário do setor de tecnologia e um firme defensor do movimento dos colonos, Naftali Bennett pôs fim ao governo de 12 anos de Benjamin Netanyahu em junho passado, formando uma coligação heterogénea de deputados de direita, da esquerda, do centro e - pela primeira vez na história de Israel - de um partido da minoria árabe.

Bennett alcançou a maioria dos 61 deputados necessários para governar no Knesset, o Parlamento israelita.

No início de abril, porém, a coligação perdeu a maioria, com a saída do parlamentar da direita radical Idit Silman, enquanto outro parlamentar conservador, Amichai Chikli, ameaçou retirar o seu apoio do governo.

No domingo à noite (17), o partido árabe-israelita Raam "suspendeu" a sua participação na coligação, devido ao aumento das tensões na Esplanada das Mesquitas - "Monte do Templo" para os judeus -, o terceiro lugar sagrado do Islão e o lugar mais sagrado do judaísmo.

"Se o governo continuar com as suas medidas arbitrárias" na Esplanada das Mesquitas, onde os confrontos entre policiais israelitas e manifestantes palestinianos deixaram mais de 170 feridos, "apresentaremos uma demissão coletiva", ameaçou o partido dirigido por Mansur Abas e que tem quatro dos seus deputados na coligação.

"Está claro que a questão do Monte do Templo testa os limites de uma coligação tão heterogénea que reúne partidos de direita e um partido islâmico", disse à AFP Emmanuel Navon, professor de Ciência Política da Universidade de Tel Aviv.

Por um lado, o governo quer aplicar "lei e ordem" para satisfazer o flanco direito da aliança; por outro, as suas medidas contundentes - com a implantação da polícia israelita num lugar sagrado do Islão - provocaram reações de indignação no mundo muçulmano, assim como entre os deputados árabes da coligação.

Apesar disso, o especialista mostra-se otimista quanto à sobrevivência do Executivo de Bennett, porque "Mansur Abas não está interessado em sair [do governo]. Assumiu um risco político enorme [ao participar da administração atual] e precisa de tempo para mostrar ao seu eleitorado que o risco valeu a pena".

Se o partido Raam deixar a coligação, esta ficaria com apenas 56 deputados. Para o governo, isso significaria ter de negociar cada projeto de lei.

A oposição tão pouco teria uma maioria de facto capaz de derrubar o governo, já que os parlamentares árabes estão relutantes em juntar-se a um "bloco de direita" de Benjamin Netanyahu, que é apoiado por judeus ortodoxos e parlamentares de extrema-direita (53 deputados no total).

"Mesmo que Netanyahu tenha conseguido reunir uma maioria para derrubar o governo, não está claro se conseguirá reunir uma maioria para propor um novo", destacou Shmuel Sandler, professor emérito de Ciência Política na Universidade Bar Ilan, perto de Tel Aviv.

"Também não poderá acrescentar o Raam, já que os nacionalistas religiosos são contra isso", acrescentou.

Segundo Sandler, a única possibilidade seria a oposição reunir votos suficientes para dissolver a Câmara e provocar a convocação de novas eleições. Seria a quinta vez em três anos.

Já se Benjamin Netanyahu decidir aposentar-se da política, a situação pode ser muito diferente.

Vários deputados da coligação recusam-se a participar de um governo liderado por "Bibi", devido às acusações de corrupção que pesam sobre ele, mas, se o ex-PM decidisse dar um passo atrás, "seria possível formar um governo sem organizar novas eleições", destacou Sandler.

"O governo cairia em cinco minutos", reforçou Navon.

Ainda assim, há poucas chances de que isso aconteça, observa a analista Dhalia Scheindlin, porque Netanyahu "não é conhecido por ser alguém que vai embora".

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