Covid-19: "Se a situação escalar muito, colocaremos todos os meios do INEM ao serviço"
Desde o final de janeiro até agora, o INEM já transportou 75 doentes suspeitos de poderem estar infetados com o covid-19. Todos os casos foram referenciados pela Linha de Apoio ao Médico (LAM), que neste momento é o elo de contacto com as entidades envolvidas na task force para a identificação e o tratamento de casos com coronavírus.
O sistema em que atua o INEM é simples. "Quando os nossos colegas da LAM identificam um caso que se configura suspeito com base no que está definido nas orientações nacionais e internacionais - ou seja, havendo sintomas clínicos e um link epidemiológico que o justifique -, contactam-nos para acionarmos o transporte de emergência especializada e indicam-nos logo para que unidade é que temos de o transportar. Depois, já na unidade, temos sempre um colega de referência que recebe e encaminha o doente", explica a diretora de emergência médica do INEM, Fátima Rato.
O doente contacta a Linha SNS 24, relata os sintomas que tem, se esteve em viagem ou não em zonas afetadas e há quanto tempo. A situação é avaliada pelos profissionais da Linha de Apoio ao Médico, que decidem se é necessário a pessoa ser avaliada clinicamente numa unidade de saúde. É nesta fase que contactam o INEM e solicitam o transporte de emergência especializado e indicam a unidade para onde devem levar o doente.
Neste momento, estão dedicadas a este tipo de transporte quatro ambulâncias do INEM, cada uma com dois técnicos, que rodam por turnos de oito horas ou de 12. Para já, "os meios são adequados para as situações solicitadas. Na zona do Porto, onde tem havido mais casos - até esta quinta-feira dia 5 foram identificados nove em Portugal (quatro no Porto, três em Lisboa e um em Coimbra) -, já tivemos o apoio de mais uma ambulância da Cruz Vermelha, entidade que está a articular este tipo de cuidado connosco".
Na verdade, há sete ambulâncias a responder a estes pedidos de transporte, quatro são do INEM e três da Cruz Vermelha, embora haja uma quarta que deverá começar a funcionar amanhã, sexta-feira, na zona entre Coimbra e Porto. Ao todo, e até ao final da semana, devem estar sempre disponíveis oito ambulâncias em todo o país para este serviço, mas se forem necessários mais meios a dirigente do INEM garante estarem preparados.
"A resposta à situação está a ser equacionada diariamente e o princípio que tem presidido à disponibilização de meios tem sido o de responder às necessidades, ir adaptando a resposta ao evoluir da situação. Para já, não fazia sentido disponibilizarmos dez ambulâncias só para este serviço quando ainda não há casos que o justifiquem."
Fátima Rato sublinhou que os meios disponibilizados "são suplementares, não houve necessidade de desviar ou de interferir na atuação de socorro diária porque a vida continua e temos de responder a situações de doença, acidentes e outras".
No entanto, se a situação escalar muito e se houver necessidade, a médica diz estarem preparados. "Se a situação escalar, teremos de pensar a reposta a dar. Se for preciso, teremos de pôr todos os nossos meios a fazer este tipo de transporte e mais a atividade diária."
Fátima Rato explicou ao DN que há quatro equipas do INEM disponíveis para este trabalho, mas que nem sempre é necessário estarem ao serviço. Ou seja, "durante a noite não tem sido necessário fazer-se transporte de doentes, mas se for necessário contactamos os elementos da zona indicada para o fazerem, há sempre alguém de prevenção".
As ambulâncias para este tipo de transporte são consideradas especializadas, com material e equipamento adequados. "Todos os profissionais têm o material de proteção indicado para se proteger e lidar com o doente. Depois da entrega do doente, todas as viaturas são sujeitas a desinfeção, embora se trate de um procedimento simples. Os técnicos estão todos preparados para lidar com este tipo de vírus. Se fosse o ébola seria muito mais complicado", refere Fátima Rato.
"A situação impõe a limpeza da sala de transporte do doente e as superfícies planas com as quais pode ter estado em contacto com uma solução de cloreto de sódio, que basicamente é lixívia, ou com álcool, embora esta substância seja mais usada para manuseamento das pessoas."
No dia em que ficámos a saber que Portugal tinha nove casos confirmados (sete homens e duas mulheres), soube-se, como o DN noticiou, que na semana passada os hospitais portugueses tiveram dificuldade em conseguir kits de testes para despiste de doentes, que várias entidades, como a Associação Industrial Portuguesa, adiavam a Feira Internacional de Turismo BTL da próxima semana para abril, que a TAP cancelava mais de mil voos devido ao coronavírus e que tanto a Linha de Apoio ao Médico como a Linha SNS 24 estavam a ter dificuldade em responder às chamadas de profissionais e de utentes.
O DN contactou a Direção-Geral da Saúde, que gere a LAM, para saber se iria haver reforço de técnicos para responderem a todas as solicitações, mas a resposta não chegou. O mesmo aconteceu com os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), que gere a Linha SNS 24, que não respondeu à questão de saber como estão a funcionar e o que vai ser feito.
Nesta quinta-feira, dia 5 de março, também ficámos a saber que no mundo há mais 96 mil infetados, que destes mais de 53 mil recuperaram e que morreram mais de 3300 doentes. A China continua a ser o país mais afetado, onde o foco da epidemia do covid-19 teve início, depois segue-se a Coreia do Sul, a Itália e o Irão.