Covid-19 preocupa a Europa. Itália já regista 12 mortos

Em Portugal, dos 17 casos suspeitos que foram submetidos a teste, todos deram negativo. O Brasil e a Grécia confirmaram esta quarta-feira os primeiros casos de covid-19.
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O novo coronavírus já afetou mais de 80 mil pessoas em todo o mundo e se a esmagadora maioria dos casos continua a localizar-se na China, o surto do covid-19 em Itália está a deixar a Europa em estado de alerta.

A Itália regista agora mais de 370 casos confirmados e 12 mortes em resultado do coronavírus. Mas Espanha também regista um aumento do número de casos que deram positivo - são agora oito, com três novos casos conhecidos ao longo de terça-feira, primeiro na Catalunha, depois em Valência e, já à noite, um novo infetado em Madrid. Na quarta-feira foi anunciado um novo caso na capital espanhola.

Não é conhecida a situação do paciente internado na Comunidade Valenciana, mas nos outros dois casos trata-se de pessoas que chegaram recentemente de Milão.

Em Portugal não há casos identificados de coronavírus. Entre os 17 casos suspeitos, todos deram negativo - as últimas situações suspeitas dizem respeito a doentes que foram hospitalizados depois de viajarem de Milão para Portugal.

Nesta altura só é conhecido o caso de um português infetado com o covid-19. Adriano Maranhão, que estava no navio de cruzeiros Diamond Princess, atracado há vários dias no porto japonês de Yokohama, chegou ao hospital da cidade de Okazaki, no Japão, depois de uma viagem de autocarro de sete horas. Segundo a mulher, Emanuelle Maranhão, em declarações à Lusa, o português estava então sem febre e aguarda a realização de novos exames.

Já entre os cerca de mil turistas que estão retidos num hotel em Tenerife, nas ilhas Canárias, não há portugueses, garantiu à Lusa fonte oficial do governo português. A unidade hoteleira foi colocada em isolamento depois de um hóspede italiano proveniente da região da Lombardia ter dado positivo nas análises ao coronavírus.

Ao longo do dia de ontem, mais quatro países registaram pela primeira vez casos de infeção pelo covid-19: Suíça, Áustria, Croácia e Argélia.

Já em França, morreu na madrugada de quarta-feira um homem de 60 anos, diagnosticado com covid-19. É a segunda vítima mortal em França e a primeira de nacionalidade francesa. O país tem há 17 casos de pessoas infetadas.

O diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, admitiu esta quarta-feira que o aumento súbito de casos de covid-19 em Itália, Irão e Coreia do Sul é "profundamente preocupante". Ainda assim, o responsável afirmou em Genebra que o vírus ainda pode ser contido e que não estamos perante uma pandemia.

Em Itália refira-se, já existem mais de 370 pessoas infetadas e há 12 mortos confirmados. No Irão, são 19 as vítimas mortais, de acordo com as autoridades do país, que detetaram 139 casos de infeção. A Coreia do Sul regista mais de 1200 casos de covid-19, sendo que 12 pessoas não resistiram à infeção.

A (OMS) afirmou ainda que já existem mais novos casos diários de coronavírus fora da China do que dentro do país onde tudo começou, o que significa uma alteração desde que começou a epidemia.

"Ontem [terça-feira], o número de novos casos notificados fora da China excedeu o número de novos casos na China pela primeira vez", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

Na terça-feira, segundo a OMS, o número de novos casos de infetados na China foi de 411, enquanto os registados fora do país chegaram aos 427.

Apesar do aumento de casos fora da China, Hans Kluge, responsável da OMS para a Europa, diz que não há "necessidade de pânico".

Em conferência de imprensa em Roma, Hans Kluge afirmou que a taxa de mortalidade é de cerca de 2% a nível global e agora é de 1% na China, que tem 96,5% dos casos.

Fechar fronteiras? "É impossível"

Marcelo Rebelo de Sousa admitiu ontem que o novo coronavírus pode transformar-se num "problema europeu", dado o aumento de casos em Itália.

"Temos noção de que há aqui um problema que pode converter-se num problema europeu, porque a Itália não descobriu ainda a fonte, a origem, da cadeia que chega agora a muitas localidades, e não descobrindo, com a circulação que existe sobretudo para os países vizinhos em termos de fronteiras da Itália, isto acaba por ir parar um pouco a toda a Europa, a uma parte significativa da Europa", disse o Presidente, rejeitando, no entanto, um cenário de fecho de fronteiras. "Isso é impossível, fechar fronteiras. Todos nós sabemos que as pessoas circulam de tal maneira na Europa, que há tantos pontos de passagem por terra - não estou a dizer por mar ou por ar - mas por terra, que é muito difícil fechar fronteiras", sustentou o Presidente da República.

Mas a questão foi abordada nesta terça-feira num encontro ministerial entre os países que têm fronteira com a Itália. Todos "se comprometeram a manter as suas fronteiras abertas", anunciou o ministro da Saúde italiano, Roberto Speranza, considerando que o encerramento das fronteiras "seria um erro e [uma medida] desproporcional".

O encontro juntou a Itália, a França, a Suíça, a Áustria, a Croácia e a Alemanha, bem como representantes da União Europeia. Os ministros presentes decidiram "avaliar caso a caso" o possível cancelamento de grandes eventos, refere um comunicado conjunto emitido após a reunião.

O mundo "não está pronto"

O especialista que liderou a equipa da Organização Mundial de Saúde (OMS) enviada à China disse nesta terça-feira que o mundo "simplesmente não está pronto" para enfrentar uma epidemia do covid-19.

"Devemos estar prontos para gerir isto a uma grande escala, e isso deve ser feito rapidamente", mas o mundo "simplesmente não está pronto", disse Bruce Aylward em conferência de imprensa, em Genebra, referindo-se à possibilidade de se verificar uma pandemia do novo coronavírus. "Não estamos prontos como deveríamos", tanto do ponto de vista "psicológico" quanto "material", acrescentou.

O médico canadiano especialista em emergência que no âmbito da missão da OMS à China visitou várias cidades e províncias, incluindo Wuhan - a cidade-berço do coronavírus -, saudou o trabalho desenvolvido por Pequim para conter a doença. "Se tiver covid-19, quero ser tratado na China", disse Bruce Aylward.

Grandes eventos desportivos em suspenso

Num ano de grandes eventos desportivos - o Euro 2020, entre o final de junho e o início de julho, e os jogos Olímpicos, de 24 de julho a 9 de agosto - os responsáveis começam a dar sinais de preocupação. Michele Uva, membro do Comité Executivo da UEFA, veio sublinhar nesta terça-feira que aquele organismo está a acompanhar o evoluir da situação. "Estamos numa fase de espera. Estamos a monitorizar país a país, e o futebol tem de seguir as ordens de cada país", afirmou, em declarações à televisão pública italiana, RAI, sublinhando que o Europeu só não se realizará se a situação "ficar pior".

Dick Pound, o mais antigo membro da direção do Comité Olímpico Internacional (COI), admite a possibilidade de os Jogos não se realizarem se a situação piorar. "Neste momento as indicações que temos é de que os Jogos vão realizar-se, mas não vamos mandar ninguém para uma pandemia", disse em entrevista à agência Associated Press (AP), sem afastar cenários mais drásticos. "Estaremos provavelmente na iminência de um cancelamento dos Jogos se em maio o coronavírus estiver incontrolável. Esta é uma nova guerra que temos de enfrentar. No espaço de três meses vamos ter de questionar se existem condições suficientes de confiança para as pessoas viajarem para Tóquio", afirmou o responsável do COI, sublinhando que a decisão terá de ser tomada até dois meses antes do início dos Jogos Olímpicos, altura em que é posta em marcha toda a organização do evento.

Mas o coronavírus está já a ter repercussões neste campo: em Itália, jogos de várias modalidades - caso do futebol e do basquetebol, por exemplo - foram suspensos ou serão jogados à porta fechada para evitar o risco de propagação da doença.

Atualizado às 13:30

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