Coreia do Norte assinala fundação com desfile militar de madrugada

Para celebrar o 73º aniversário da fundação do país, a Coreia do Norte realizou um desfile militar em Pyongyang, que contou com a presença do líder norte-coreano Kim Jong-un.
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A Coreia do Norte realizou esta quinta-feira um desfile militar pelo 73.º aniversário da sua fundação, um evento mais discreto em comparação a outras ocasiões, o qual não foram mostrados mísseis ou enviadas mensagens aos seus opositores.

O desfile, realizado na madrugada de quarta para quinta-feira, ocorreu quando o país está a enfrentar a pior crise económica dos últimos 25 anos por conta da pandemia do novo coronavírus.

O líder norte-coreano, Kim Jong-un, presidiu o desfile, embora durante o evento não tenha feito nenhum discurso, segundo noticiaram os meios de comunicação estatais.

Quem discursou foi Ri Il-hwan, membro do comité central do Partido dos Trabalhadores, que insistiu que o país investirá no aumento de seu exército até "transformar todo o país numa fortaleza".

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Como fez no desfile do 75.º aniversário do partido único do país, realizado em outubro passado, Kim optou por um terno claro e gravata em vez de roupas estilo Mao [Tsé-Tung, ex-líder comunista chinês].

Mas essa foi uma das poucas semelhanças com o evento do outono passado, no qual o regime estreou o seu maior míssil balístico intercontinental (ICBM) projetado até agora.

Ladeado pelos outros quatro membros fortes do partido único norte-coreano [incluindo o militar Pak Jong-chon, nomeado nesta semana membro do núcleo duro do partido], Kim viu hoje as tropas desfilarem pela Praça Kim Il-sung, em Pyongyang.

A Coreia do Norte tem no momento propostas de diálogo sobre a mesa - às quais parece não terem respondido até ao momento - por parte da Coreia do Sul e dos Estados Unidos, que propuseram ao regime norte-coreano se reunirem para tentar retomar as negociações de desnuclearização da península coreana, que estão estagnadas desde 2019.

No entanto, pouco se sabe sobre a atual disposição do regime sobre a questão.

Sobre a crise económica, Kim Jong-un reconheceu aos seus cidadãos que o país atravessa tempos difíceis e deve enfrentar uma nova "marcha árdua", termo utilizado pelo regime na terrível fome dos anos 90.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) explicou recentemente que a Coreia do Norte, que já se recusou a receber quase dois milhões de doses da vacina contra a covid-19 da AstraZeneca, acaba de rejeitar mais três milhões de doses do laboratório estatal chinês Sinovac.

Diante deste cenário, o país ainda não imunizou nenhum dos seus cidadãos contra a covid-19.

Desde que a China decidiu isolar a cidade de Wuhan em janeiro de 2020, a Coreia do Norte, que hoje afirma não ter detetado nenhum positivo do SARS-CoV-2 após realizar cerca de 38 000 testes, encerrou fortemente as suas fronteiras e até reforçou a segurança com arame farpado extra e ordens para atirar em quem se aproxima.

A teimosia em manter o território vedado tem impedido a entrada de capitais estrangeiros na forma de investimentos ou receitas do turismo e também de importações vitais para um país que depende fortemente da produção chinesa, cujo setor agrícola foi atingido por tufões e ondas de calor no ano passado.

Nem a KCNA, nem o Rodong publicaram fotografias de mísseis ou fizeram qualquer menção a tais armas no desfile militar.

A Coreia do Norte, que celebra a Fundação da República, escolheu no passado desfiles militares na capital norte-coreana para exibir novo armamento, incluindo mísseis balísticos.

Contudo, alguns analistas consideraram improvável que o regime apresentasse armamento pesado nesta ocasião, dada a curta duração do desfile, apenas uma hora, e depois de imagens de satélite não mostrarem a presença de grandes veículos militares nos ensaios da celebração.

Horas antes de os meios de comunicação social norte-coreanos terem noticiado o desfile, os serviços secretos militares da Coreia do Sul detetaram atividade, indicando que o desfile militar tinha começado em Pyongyang após a meia-noite (16:00 de quarta-feira em Lisboa).

"Os detalhes específicos [do desfile] estão a ser analisados em estreita cooperação entre os serviços secretos sul-coreanos e norte-americanos", disse um porta-voz dos Chefes do Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul.

O desfile realizou-se quando Pyongyang parece ter reativado as instalações que utiliza para produzir combustível nuclear, enquanto as conversações de desnuclearização com os Estados Unidos, que recentemente propuseram um regresso incondicional à mesa de negociações, estão suspensas desde 2019.

Notícia atualizada às 10:16

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