A evolução das contas públicas portuguesas durante a pandemia não sai mal na fotografia quando se compara com as situações vividas noutros países da zona euro e da União Europeia (UE) ao longo do segundo trimestre, indicou nesta quinta-feira o Eurostat..A autoridade estatística europeia mostra que todos os países, sem exceção, registaram aumentos nos respetivos rácios do défice e da dívida, medidos em percentagem do produto interno bruto (PIB), entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano..O estado de pandemia foi declarado em março e as grandes medidas de confinamento foram decretadas em meados desse mês, pelo que todo o segundo trimestre já é afetado na íntegra pelo embate negativo dessas decisões na atividade económica e no emprego, com reflexo imediato nas contas públicas: mais despesa para manter empregos e empresas à tona e muito menos receita, sobretudo impostos e contribuições..No segundo trimestre, Portugal continuava a ter o terceiro maior fardo de endividamento público da Europa (126,1% do PIB), apenas superado neste indicador pela Grécia e pela Itália..No entanto, o Eurostat revela que o peso da dívida portuguesa cresceu mais devagar do que a média da zona euro. Entre o primeiro e o segundo trimestre, Portugal acumulou o equivalente a mais 6,6% do PIB em endividamento; na zona euro, a subida chegou aos 8,8%.Chipre, França e Itália registaram os aumentos mais expressivos na dívida (17,1%, 12,8% e 11,8%, respetivamente). A maior contenção aconteceu no Luxemburgo, onde o rácio subiu apenas o equivalente a 1,6% do PIB..No défice, Portugal ficou em linha com a média da zona euro, mostra o mesmo Eurostat. O saldo orçamental, que era nulo no último trimestre de 2019, passou a défice e chegou aos 9,2% do PIB no segundo trimestre passado. A redução do saldo orçamental de Portugal ascendeu a 8,9% do PIB por causa da pandemia (medição entre os primeiros três meses deste ano e o trimestre seguinte)..DestaquedestaqueChipre, França e Itália registaram os aumentos mais expressivos na dívida..Na zona euro, a redução do saldo orçamental global foi mais ou menos dessa magnitude: o equivalente a cerca de 9% do PIB, segundo informa o Eurostat..A Áustria, que tinha as contas equilibradas e terminou 2019 com um excedente de 1,1% do PIB, foi o país que experimentou a maior degradação do saldo público: este reduziu-se em mais de 16% do PIB, fixando-se nos 17,3% no final do segundo trimestre..O Eurostat ainda não apurou valores para seis países da UE, mas até agora, na zona euro, os que parecem ter aguentado melhor o embate da crise pandémica nas contas são Malta, Lituânia e Letónia..Seja como for, apesar de o Governo ter gerido mais ou menos bem o embate da primeira vaga nas contas, o que resta deste ano é muito incerto porque ainda não se vê com clareza qual a dimensão da segunda vaga de covid-19, nem qual o seu potencial destruidor. Há já quem fale numa recessão em W. Ou seja, a economia vai voltar a afundar para níveis históricos e só depois emergirá. Isso vai determinar e condicionar radicalmente a execução orçamental do ano que vem..Na quinta-feita, a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) criticou duramente o Ministério das Finanças pela pobreza e natureza muito incompleta da informação que consta da proposta de novo Orçamento do Estado para 2021..A unidade parlamentar diz que existem medidas que vão mudando de valor ao longo do documento, existem outras mais contabilizadas..Além disso, "a revisão da UTAO altera significativamente a previsão do impacto direto das antigas medidas permanentes (as que transitam de 2020) de política orçamental no saldo de 2021"..Segundo a mesma equipa de peritos, "na avaliação da UTAO, o contributo direto das novas medidas permanentes para o saldo orçamental de 2021 ascende a -499,3 milhões de euros", isto, é, quatro vezes menos do que diz o ministério liderado por João Leão.."No relatório do Ministério das Finanças, este contributo mede -1947 milhões de euros", recorda a UTAO..Luís Reis Ribeiro é jornalista do Dinheiro Vivo