"Ocuparam de forma ilegal, sem autorização, um espaço comum de 3000 metros quadrados com uma construção que, além de ser ilegal, pois ocupa um espaço comum, é também uma autêntica monstruosidade do ponto de vista estético e arquitetónico. Desfigura completamente esta obra fantástica da arquiteta Olga Quintanilha, recentemente falecida", começa por contestar Artur Redinha, proprietário de um dos apartamentos de habitação, em declarações ao DN. É o rosto da batalha que opõe os habitantes do empreendimento conhecido como Twin Towers à empresa The Edge Group, proprietária das galerias..Trata-se de uma área numa zona de Lisboa cujo valor comercial ultrapassa os 12 milhões de euros, acrescenta Artur Redinha, médico de profissão..Em finais de 2014, o The Edge Group comprou as Galerias Twin Towers, os pisos -1 e 0 das torres. Seria para continuar com a área comercial, mas esta transformou-se em centro empresarial. Os condóminos sublinham que "o título constitutivo [certidão permanente do registo predial] destina o espaço exclusivamente a centro comercial" e que "muitas pessoas, especialmente as mais idosas, compraram ali apartamentos por terem um supermercado e lojas por debaixo da casa"..O DN questionou a Câmara Municipal de Lisboa (CML), que diz ter licenciado a "remodelação do centro comercial mantendo-se a parte comercial e na qual se integram áreas decoworking/serviços". Explica que, em 2014, a Edge International Holdings entregou um pedido de informação prévia para a ampliação e remodelação do centro comercial das Twin Towers, aprovado, por maioria, em reunião de câmara de 9 de julho..Em 2015, deu entrada na CML o projeto de alteração, sendo o requerente Setecampos, Sociedade Imobiliária, S.A. "A acompanhar o processo constava documento com resultado da consulta ao condomínio sobre a intervenção proposta, com a seguinte votação: permilagem que votou favoravelmente: 676,818; votou contra:12,2587 e absteve-se: 6,1747..Artur Redinha argumenta que a Edge apresentou "um projeto de centro comercial excecional, com todas as áreas fundamentais, nomeadamente restauração, comércio e um supermercado. Prometia também uma comunicação à estação de comboios, metro e autocarros de Sete Rios"..Assistiram às obras, iniciadas em 2017, e qual não foi o espanto quando, em novembro, "o administrador da Edge disse, preto no branco, que nunca foi intenção abrir um centro comercial"..O Centro Comercial Twin Towers vai dar lugar ao Espaço 7 Rios, "um centro empresarial", de acordo com o que o The Edge Group anuncia na sua página. E que tem abertura prevista para até final de 2019, disseram ao DN..Processo nos tribunais.Quem vive nos apartamentos por cima das galerias promete tudo fazer para que tal não aconteça. Iniciaram uma ação judicial cível, apresentaram uma queixa à Procuradoria-Geral da República e estão a recolher assinaturas para um abaixo-assinado a enviar à Câmara Municipal de Lisboa..Criticam a autarquia por não responder aos pedidos de informação enviados nos últimos 18 meses, e por diversos meios. Pedem que se investigue o que se passa e que sejam tomadas medidas. O empreendimento é constituído por 327 frações, cerca de mil habitantes..Os condóminos querem ainda promover uma assembleia extraordinária para a destituição do atual administrador do condomínio, que criticam por não defender os seus interesses. É o proprietário de uma fração no condomínio e da Lex Urben, que assegura a gestão do condomínio, e terá recusado "uma reunião de condóminos para discutir o assunto"..A empresa, em resposta enviada ao DN, justifica que o "espaço encontrava-se numa situação de progressivo abandono e degradação face ao encerramento de mais de 90% das lojas", uma consequência da crise que se viveu no país em 2011. "O empreendimento ficou ilhado/isolado no meio de uma zona da cidade sem atividade económica e sem capacidade para competir com os dois centros comerciais de grande envergadura, o Amoreiras Shopping Center [onde têm um centro empresarial] e o El Corte Inglés.".Artur Redinha contesta. "Fizeram tudo para que os lojistas fossem embora, resta um ginásio e uma clínica de estética, esta última cujo contrato de arrendamento acaba no final do ano e eles pedem o triplo da renda. Mas não podem mudar o ramo para escritórios, não estão autorizados, é ilegal. Seria preciso alterar o título constitutivo, o que obriga à adesão de 100% dos condóminos.".O proprietário das galerias, que tem 23% do total do empreendimento, justificou ao DN que "nenhum dos mais de 20 operadores de supermercados contactados manifestaram interesse em se instalar no local, pelo que, dada a falta de âncora alimentar, foi necessário reequacionar o projeto, de modo a garantir a sua viabilidade económico-financeira"..Argumentam que implementaram "um conceito de comércio e serviços viável e atrativo do ponto de vista comercial, que estão concluídas as obras de reabilitação e iniciado o processo de comercialização de acordo com o novo conceito"..Segundo a Edge, encontra-se em funcionamento 50% da área total do rebatizado Espaço 7 Rios, estando 5% afetos a restauração, 10% a serviços de saúde e beleza (a clínica) e 35% a serviços/ escritórios. Artur Redinha diz que mais de 80% do espaço são escritórios e que não existem lojas comerciais, "nada do que a CML diz ter aprovado".