Será o mesmo Conselho Nacional que, no processo das diretas do PSD, foi chumbando sucessivas propostas de Rui Rio, que esta noite, em Évora, discutirá e votará as listas dos candidatos a deputados pelo partido que se apresentarão a votos nas eleições legislativas que o Presidente da República já marcou para 30 de janeiro..O presidente reeleito do PSD provavelmente preferiria que essas listas fossem votadas pelo Conselho Nacional que for eleito no congresso marcado para os próximos dias 17, 18 e 19. Só que não há tempo, visto que prazo limite para entrega nos tribunais de círculo das listas de candidatos termina logo no dia 20. Portanto, há um líder reeleito e com uma legitimidade totalmente refrescada - ainda para mais num combate em que muitos julgaram Rio derrotado à partida - mas o órgão que tomará a decisão sobre os deputados será ainda da "legislatura" interna anterior, a que resultou das diretas de 18 de janeiro de 2020 e do congresso subsequente (7 de fevereiro)..O processo de elaboração das listas começou nas comissões políticas concelhias, que enviaram as suas propostas para as distritais. Depois estas fizeram listas e enviaram para a direção nacional. Uma troika composta por Paulo Mota Pinto (presidente da Mesa do Congresso), José Silvano (secretário-geral) e Salvador Malheiro (um dos vice-presidentes de Rio) ficou de elaborar a síntese final, conjugando as propostas das distritais com as que são vontade da direção nacional - e Rio já avisou que quer "renovação"..Saber como o processo se desenvolverá na reunião do "parlamento" do PSD que é o Conselho Nacional é uma total incógnita. Só se prevê uma votação única, final, da lista global, e não votações parcelares, círculo a círculo. Sabe-se que Rio tem uma prerrogativa: é sua a escolha dos cabeças de lista de todos os círculos. Mas também se sabe que isto é pouco para o líder social-democrata. Está em causa acabar com os últimos resquícios de "passismo" no grupo parlamentar "laranja"..Troca de acusações na formação da lista de deputados do PSD.No início de dezembro - ou seja: já depois de Rio reeleito nas diretas -, vieram à superfície conflitos entre a direção do PSD e algumas distrais..Uma fonte oficial da direção disse à Lusa existir da parte de algumas distritais uma "estratégia de afrontamento" que passou por "manter os mesmos nomes" de há dois anos, e que apoiaram Paulo Rangel nas últimas diretas. A mesma estratégia incluiria, no dizer da mesma fonte, "excluir" das listas apoiantes do presidente reeleito do partido..Como exemplo mais flagrante, foi apontado o caso do Porto, que manteve os nomes dos deputados Alberto Machado (presidente da distrital), e do ex-líder da concelhia de Gaia Cancela Moura, ambos apoiantes de Rangel. Também se salientava a ausência nessa lista de nomes afetos a Rui Rio como do secretário-geral adjunto Hugo Carneiro ou da deputada (e vice presidente da bancada parlamentar) Catarina Rocha Ferreira..Quanto a Lisboa, a direção salientava negativamente não ter sido proposto o nome do médico Ricardo Baptista Leite, repetindo-se nomes de deputados apoiantes de Paulo Rangel como Carlos Silva ou Sandra Pereira ou Rodrigo Gonçalves (que foi apoiante de Rio mas depois o trocou por Luís Montenegro, nas diretas de 2020)..Se Rui Rio quiser - e não se sabe se quer -, o Conselho Nacional do PSD poderá ainda discutir e votar a decisão de o partido se apresentar coligado com o CDS-PP nas eleições legislativas..É um cenário que Rio já alvitrou como possível - só que entretanto começou a desenvolver e a expor argumentos contra. No sábado, reiterou a sua defesa de um "recentramento" do PSD, considerando que é nesse espaço ideológico que as eleições legislativas se decidem, recusando encostar o partido à direita para disputar "meia dúzia de votos" ao CDS, Chega e Iniciativa Liberal. Rio sabe que o histórico das coligações pré-eleitorais com o CDS-PP diz que foi sempre vitoriosa contra o PS (ver texto em rodapé). Porém, sabe ao mesmo tempo que a estrutura dirigente do partido resiste fortemente à ideia, pensando também - como se viu no argumento acima exposto - que os ganhos à direita poderão não compensar perdas ao centro..joao.p.henriques@dn.pt