Conselho Nacional adverso a Rio vota listas de candidatos 

Relegitimado nas eleições diretas do passado dia 27, o presidente do PSD enfrenta hoje mais uma reunião difícil do Conselho Nacional do partido, marcada para aprovar as listas de candidatos a deputados. Poderá estar em cima da mesa também - mas não é provável - decidir se há ou não coligação pré-eleitoral com o CDS.
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Será o mesmo Conselho Nacional que, no processo das diretas do PSD, foi chumbando sucessivas propostas de Rui Rio, que esta noite, em Évora, discutirá e votará as listas dos candidatos a deputados pelo partido que se apresentarão a votos nas eleições legislativas que o Presidente da República já marcou para 30 de janeiro.

O presidente reeleito do PSD provavelmente preferiria que essas listas fossem votadas pelo Conselho Nacional que for eleito no congresso marcado para os próximos dias 17, 18 e 19. Só que não há tempo, visto que prazo limite para entrega nos tribunais de círculo das listas de candidatos termina logo no dia 20. Portanto, há um líder reeleito e com uma legitimidade totalmente refrescada - ainda para mais num combate em que muitos julgaram Rio derrotado à partida - mas o órgão que tomará a decisão sobre os deputados será ainda da "legislatura" interna anterior, a que resultou das diretas de 18 de janeiro de 2020 e do congresso subsequente (7 de fevereiro).

O processo de elaboração das listas começou nas comissões políticas concelhias, que enviaram as suas propostas para as distritais. Depois estas fizeram listas e enviaram para a direção nacional. Uma troika composta por Paulo Mota Pinto (presidente da Mesa do Congresso), José Silvano (secretário-geral) e Salvador Malheiro (um dos vice-presidentes de Rio) ficou de elaborar a síntese final, conjugando as propostas das distritais com as que são vontade da direção nacional - e Rio já avisou que quer "renovação".

Saber como o processo se desenvolverá na reunião do "parlamento" do PSD que é o Conselho Nacional é uma total incógnita. Só se prevê uma votação única, final, da lista global, e não votações parcelares, círculo a círculo. Sabe-se que Rio tem uma prerrogativa: é sua a escolha dos cabeças de lista de todos os círculos. Mas também se sabe que isto é pouco para o líder social-democrata. Está em causa acabar com os últimos resquícios de "passismo" no grupo parlamentar "laranja".

No início de dezembro - ou seja: já depois de Rio reeleito nas diretas -, vieram à superfície conflitos entre a direção do PSD e algumas distrais.

Uma fonte oficial da direção disse à Lusa existir da parte de algumas distritais uma "estratégia de afrontamento" que passou por "manter os mesmos nomes" de há dois anos, e que apoiaram Paulo Rangel nas últimas diretas. A mesma estratégia incluiria, no dizer da mesma fonte, "excluir" das listas apoiantes do presidente reeleito do partido.

Como exemplo mais flagrante, foi apontado o caso do Porto, que manteve os nomes dos deputados Alberto Machado (presidente da distrital), e do ex-líder da concelhia de Gaia Cancela Moura, ambos apoiantes de Rangel. Também se salientava a ausência nessa lista de nomes afetos a Rui Rio como do secretário-geral adjunto Hugo Carneiro ou da deputada (e vice presidente da bancada parlamentar) Catarina Rocha Ferreira.

Quanto a Lisboa, a direção salientava negativamente não ter sido proposto o nome do médico Ricardo Baptista Leite, repetindo-se nomes de deputados apoiantes de Paulo Rangel como Carlos Silva ou Sandra Pereira ou Rodrigo Gonçalves (que foi apoiante de Rio mas depois o trocou por Luís Montenegro, nas diretas de 2020).

Se Rui Rio quiser - e não se sabe se quer -, o Conselho Nacional do PSD poderá ainda discutir e votar a decisão de o partido se apresentar coligado com o CDS-PP nas eleições legislativas.

É um cenário que Rio já alvitrou como possível - só que entretanto começou a desenvolver e a expor argumentos contra. No sábado, reiterou a sua defesa de um "recentramento" do PSD, considerando que é nesse espaço ideológico que as eleições legislativas se decidem, recusando encostar o partido à direita para disputar "meia dúzia de votos" ao CDS, Chega e Iniciativa Liberal. Rio sabe que o histórico das coligações pré-eleitorais com o CDS-PP diz que foi sempre vitoriosa contra o PS (ver texto em rodapé). Porém, sabe ao mesmo tempo que a estrutura dirigente do partido resiste fortemente à ideia, pensando também - como se viu no argumento acima exposto - que os ganhos à direita poderão não compensar perdas ao centro.

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