Espanha vai ter governo antes de acabar o ano, como queria Pedro Sánchez? Não sei se as negociações vão demorar muito mas chegar a um acordo antes do final de ano parece impossível. Vamos ter de esperar, na melhor das hipóteses, até meados de janeiro. Tudo está nas mãos da ERC [Esquerda Republicana da Catalunha] e no que fizer [Quim] Torra [o presidente do governo catalão], se convocar eleições na Catalunha. Está tudo à espera da pressão que a ERC sofra de Torra, que pode ser acusado de traição..Quim Torra vai convocar eleições? É possível, mas vai depender da sua irritação com Sánchez. Torra pode ser inabilitado e, se tal acontecer, uma das opções para não ter de nomear outro presidente [do governo catalão] é ir a eleições. E seria mau para a ERC porque o Junts per Catalunya [de Torra] ia aproveitar a situação. Está tudo no ar. As próximas semanas vão ser decisivas. Já vimos que os políticos catalães presos não vão sair no Natal mas já disseram que se são aplicados alguns artigos alguns deles poderiam ser libertados a partir de meados de janeiro. Também temos de ver o que vai acontecer com Carles Puidgemont [o ex-presidente do governo catalão] e com a sua imunidade. A ERC não tem pressa..Oriol Junqueras, a partir da prisão, já diz que a ERC vai votar "não" à investidura de Sánchez se não houver mesa de diálogo. Está a pressionar ainda mais os socialistas? O PSOE está a dissimular. Estamos a recolher no ABC as declarações que Pedro Sánchez fez há dois meses sobre a ERC, Junqueras, Torra... e com esta negociação está a fazer tudo ao contrário do anunciado na campanha eleitoral. Estão a tentar criar um relato alternativo paralelo. O anúncio de Pedro Sánchez de chamar os presidentes autonómicos [nesta segunda-feira] foi uma forma de camuflar o seu encontro com Quim Torra. Parece que está feito o acordo mas há ainda complicações..Pode não chegar o acordo? Acredito que vamos ter governo, com abstenções da ERC, mas outra coisa vai ser a sua duração. As exigências da ERC não podem ser satisfeitas pelo PSOE que conhecemos até agora..A ERC está a comandar estas negociações? Sem dúvida. O PSOE precisa deles e não quer outra alternativa. Não pondera a opção de formar governo com PP e Ciudadanos. É verdade que para o PP seria muito difícil abster-se porque o Vox está atrás dele e ficaria como líder da oposição. E outra alternativa pode ser o "sim" do Ciudadanos mas não seria fácil apoiar o acordo PSOE-Podemos..Que cedências está a conseguir o Podemos? Dois dias depois das eleições foi uma surpresa o acordo entre PSOE e Podemos. Dois meses antes, Sánchez tinha dito que 95% dos espanhóis não poderiam dormir descansados com o Podemos no governo. E passamos a ter um vice-presidente e vários ministros do Podemos. O partido, e Pablo Iglesias, saíram muito reforçados desta situação mesmo depois de perder alguns deputados Agora estão muito calados porque conseguiram muito poder. Estão a conseguir o que querem..Como é que o PP vai sair desta situação? Como espanhola, penso que o melhor neste momento seria um governo em solitário do PSOE com a abstenção do PP condicionada a que não existam concessões aos independentistas, a não subir os impostos, a determinadas medidas económicas... Não sei se o PP pode oferecer isto mas Pedro Sánchez não o quer. Neste sentido, facilitou as coisas a Pablo Casado. Se não existisse o Vox seria tudo mais fácil para o PP. Não se pode abster perante um governo PSOE-Podemos, seria diferente se fosse só PSOE ou PSOE-Ciudadanos..O PP pode sair reforçado? É complicado. Está melhor do que nas últimas eleições mas um governo PSOE-Podemos com políticas radicais vai beneficiar o Vox, não o PP..Espera uma mudança de rumo do Ciudadanos com Inés Arrimadas como líder? Essa mudança de rumo, em teoria, já se produz. Arrimadas está a oferecer o que não fez Rivera. Mas apoiar um governo PSOE-Podemos quando só tem dez deputados não tem muita força, não pode pedir condições em troca. Nas passadas eleições, Albert Rivera tentou ser líder da oposição e acabou por perder os seus eleitores que queriam que fosse uma força para procurar equilíbrios e travar as políticas mais radicais dos dois lados. Muitos dos seus votantes teriam apoiado um governo com o PSOE, sempre com limitações. Mas agora são quase insignificantes..E o Vox, há o risco de continuar a crescer? O Vox tinha conseguido 24 deputados nas anteriores eleições e depois, nas autonómicas e europeias, baixou muito. Mas meses depois, tiraram Franco do Vale dos Caídos, e fizeram políticas mais extremas que acabaram por fortalecer o Vox. Um governo PSOE-Podemos sem políticas liberais, subidas de impostos e concessões aos independentistas... tudo isto ajuda partidos como o Vox. Como não têm possibilidade de governar, podem dizer barbaridades, para eles é indiferente. Falam de suprimir as autonomias mas sabem que isso não é possível..Está em perigo a economia espanhola? Luis de Guindos [ex-ministro e atual vice-presidente do BCE] disse na sexta-feira que a Europa pode começar a recuperar no segundo semestre do próximo ano. Oxalá, porque Espanha está a resistir mas há quem fale da italianização da economia espanhola. Estamos a entrar em 2020 com o Orçamento do Estado de 2018, mas até é preferível manter estas medidas do que ter outras que aumentem os impostos. Acredito que vamos ver uma desaceleração. Medidas como a que estão já a anunciar de subir o salário mínimo para mil euros, mais de 30% em ano e meio, é uma barbaridade e pode deixar fora do mercado os mais frágeis e com menos preparação e passá-los para a economia paralela. Mas confio na Europa. Penso que algumas medidas propostas no programa do Podemos não se podem executar. Temos o exemplo da Grécia, com os populistas, e também em Portugal, com o PS apoiado pelo BE, onde finalmente tem de fazer muitas políticas de direita porque a Europa está em cima. Confio que a UE possa conter as medidas mais drásticas.