Aluna do 2.º ano do Curso Integrado de Canto, na Escola de Música do Conservatório Nacional, Margarida Mercês, faz parte dos mais de mil estudantes, internos e do ensino supletivo, que no final destas férias de verão viram a sua "casa" transferir-se temporariamente do Bairro Alto para a Secundária Marquês de Pombal, em Belém. Uma mudança que, diz a cantora de 19 anos, presidente da associação de estudantes, está a ser difícil de gerir para todos, e que é agravada pela incerteza em torno do arranque das prometidas obras na escola original, que tardam em tornar-se realidade..A falta de condições de isolamento acústico adequadas para este tipo de ensino é neste momento a queixa número um dos estudantes. "O que eu vejo, e o que a maioria dos alunos vê, é que estamos a estudar numa sala, ou a ter aulas, e a ouvir a maior parte das coisas que se passam nas outras salas, nomeadamente os instrumentos que fazem mais barulho, como a percussão", conta. "No conservatório tínhamos um piso só dedicado à percussão, o que facilitava. Agora temos a percussão no meio dos pavilhões. Os próprios percussionistas não conseguem trabalhar bem porque estão a ouvir-se uns aos outros", lamenta, dando o próprio exemplo para ilustrar o impacto que a situação tem nos restantes estudantes: "Eu sou cantora. Estou a cantar e a ouvir todos os outros barulhos. E isso não permite que oiça as coisas mínimas que podem até prejudicar a minha voz", desabafa..A isto soma-se o problema da falta de salas e outros espaços comuns. "Há um corredor onde se concentram muitos alunos nos intervalos, o que também afeta quem está nas salas a ter aulas [individuais]. E agora no inverno falta, por exemplo, uma área onde os mais novos possam estar.".A frequentar o equivalente ao 11.º ano, a estudante já se conformou com a ideia de que "provavelmente" já não regressará ao conservatório. Mas diz que tanto ela como todos os alunos gostariam de, pelo menos, ter uma certeza em relação à data em que isso acontecerá..Primeiro concurso para obras sem candidatos. Segundo termina no fim do mês.O primeiro concurso público para as obras do conservatório, lançado em junho, com um orçamento de 9,2 milhões de euros, chegou ao fim sem propostas. O segundo, com uma verba reforçada para 10,58 milhões, também acaba em breve. E até agora não há novidades. Questionada pelo DN, a Parque Escolar, entidade adjudicadora, informou que "o prazo para apresentação de propostas (...) termina no final deste mês e que, nesta fase, "não é possível conhecer o número de propostas apresentadas antes de decorrido o referido prazo". Nem sequer, confirmou, se existe alguma.."Estou otimista. Até porque o primeiro-ministro está pessoalmente empenhado nesta obra, mas existe também alguma expectativa", assume a diretora do conservatório, Liliane Kopke. "Ao início, a nossa perspetiva seria passarmos dois anos nesta situação provisória, mas, se atrasar novamente, serão três anos.".Liliane Kopke, segundo a qual o orçamento do primeiro concurso poderá não ter considerado "as especificidades" do conservatório, desde "a localização difícil, no Bairro Alto", ao facto de "ser um edifício histórico, com uma obra quase integralmente de restauro", diz que "o diretor da Secundária Marquês de Pombal tem dado uma grande ajuda", disponibilizando 26 salas no rés-do-chão da escola, que se vieram juntar às três naves - antigas oficinas - inicialmente atribuídas à Escola de Música. O Centro Protocolar de Formação de Jornalistas (Cenjor), ali perto, também cedeu duas salas. Mas as condições não são as ideais. "Nas naves, as paredes são separadas com lã de rocha", ilustra, revelando estar prevista uma obra em dezembro para melhorar a insonorização..Parte do espólio foi cedida ao Museu da Música.Na mudança provisória para as instalações da Secundária Marquês de Pombal, os instrumentos e outros equipamentos necessários às atividades letivas foram transferidos para este local mas, segundo a diretora da Escola de Música, não foi possível manter o espólio histórico de uma instituição cuja fundação remonta a 1835. Obras de arte e parte do arquivo estão guardadas num armazém e instrumentos antigos foram doados ao Museu da Música.