Como salvar o planeta? Debate faz-se este fim de semana em Lisboa
O ponto de partida é o planeta e a desordem que uma única espécie - a nossa - está a provocar no seu equilíbrio ambiental, climático e global. Em poucas décadas, que se contam pelos dedos de uma mão, as atividades humanas conduziram a Terra a um ponto que até recentemente era difícil imaginar, com problemas e crises que se acumulam em todas as frentes.
A biodiversidade terrestre está em queda abrupta, nos oceanos a sobrepesca desertifica as águas e o lixo não degradável afoga os seres vivos, as alterações climáticas desorganizam os ecossistemas e causam fenómenos intensos e destrutivos, a exploração intensiva dos recursos naturais destrói habitats e equilíbrios ecológicos, a agricultura intensiva, com a utilização de herbicidas e pesticidas em excesso, envenena a água potável e, como se não bastasse, o desperdício alimentar a que nos damos ao luxo chega a atingir entre 25 e 30%, ou seja, um terço, dos alimentos produzidos. Mais parece um caminho traçado para o desastre. Mas como impedi-lo? E o que pode cada um de nós fazer?
É para equacionar estas questões e ensaiar respostas possíveis e concretas que a Fundação Francisco Manuel dos Santos e a Fundação Oceano Azul promovem neste fim de semana o encontro O Futuro do Planeta, que traz a Portugal alguns dos mais destacados nomes internacionais na área do ambiente, das alterações climáticas e da geopolítica, incluindo vários especialistas portugueses.
Durante dois dias - hoje (sábado) e amanhã (domingo), no Teatro Camões, no Parque das Nações, em Lisboa -, especialistas como o ecólogo e autor americano Carl Safina, a oceanógrafa e investigadora Sylvia Earle, o antigo secretário de Estado norte-americano John Kerry e cientistas portugueses ligados ao ambiente, oceanos, alterações climáticas, demografia ou consumo, como Viriato Soromenho-Marques, Filipe Duarte Santos, Luísa Schmidt, Iva Pires ou Noberto Serpa, vão debater os problemas que a humanidade e o planeta enfrentam no século XXI e propor caminhos para a sua resolução.
Mas o tempo urge e a janela de oportunidade é curta, acreditam hoje os especialistas. É o caso de Sylvia Earle, que estará no encontro de Lisboa, para quem tudo se jogará nos próximos dez anos, como afirmou em entrevista recente ao site de educação e ciência CoolAustralia. "Os próximos dez anos serão provavelmente os mais importantes dos próximos dez mil anos", porque "há opções que vamos perder durante a próxima década, a menos que passemos já à ação".
Em relação aos oceanos, para Sylvia Earle, um habitat tão natural como o terrestre, pois mergulhar é uma das suas atividades favoritas tanto em trabalho como nos tempos livres, é necessário travar a fundo em várias frentes: nas pescas e na sua utilização como caixote do lixo, mas também no que está a causar as alterações climáticas, porque elas estão a aquecer os mares. E, aí, descarbonizar a economia, reduzir drasticamente o consumo, mudar a produção dos alimentos e mudar a alimentação são os caminhos a trilhar, que estarão certamente em cima da mesa no encontro que hoje começa em Lisboa, e que pode tornar-se um marco na consciência para ação.
John Kerry, outra das figuras em destaque no encontro, deverá sublinhar igualmente em Lisboa a ideia que ainda há dias proferiu na Austrália, no âmbito da Global Table, uma conferência sobre agricultura e alimentação, de que as alterações climáticas são hoje uma emergência e que é preciso agir. Crítico da nova presidência do seu próprio país e de outros que adiam soluções para as alterações climáticas, John Kerry não poupou palavras na conferência na Austrália. "Não podemos permanecer sentados e deixar o processo político para os neandertais que não acreditam no futuro. Temos falta de liderança, mas isso vai mudar."