Muitos abanaram a cabeça de desconfiança ao ver o Chelsea recomprar o avançado Romelu Lukaku por 115 milhões de euros no último mercado de transferências, mas poucos repararam que o clube recuperou esse valor (e com saldo positivo) em saídas. Os blues amealharam 122 milhões entre jogadores que não contavam e jovens da formação sem lugar no plantel de Tuchel..Um deles, Tammy Abraham foi para a Roma de José Mourinho por 40 milhões de euros. Um jovem formado na academia idealizada por Marina Granovskaia, a diretora executiva do clube inglês, fiel escudeira de Roman Abramovich há quase 20 anos e que por estes dias anda na boca do mundo pela estratégia negocial no mercado de transferências..Chegou a Londres em 2003 e hoje manda no futebol do Chelsea. Ganhou a confiança de Abramovich com lealdade e decisões acertadas que valeram milhões, recebendo já o cognome de mulher mais poderosa do futebol mundial. Em 2020, depois de ter estado proibido de fazer contratações no verão de 2019, o Chelsea abriu o cofre e gastou 247 milhões de euros, apostando em jovens abaixo dos 25 anos como Hakim Ziyech, Timo Werner, Ben Chilwell, Kai Havertz e Edouard Mendy. Em contrapartida, vendeu, entre outros, o belga Eden Hazard por 115 milhões de euros ao Real Madrid e Álvaro Morata por 35 milhões à Juventus, somando 216 milhões de euros nos mercados de transferências de 2019-20 e 2020-21..Desportivamente não podia ter corrido melhor. Há dois meses venceu a Champions, o Santo Graal do futebol europeu. Mas só depois de uma revolução interna que levaria à saída do ídolo Frank Lampard e à aposta em Thomas Tuchel, que tinha acabado de ser despedido do PSG. Marina preferiu olhar para o lado bom da coisa, o facto de o treinador alemão ter levado os franceses à final da Champions em 2020. Era isso que ela queria. E não podia sonhar um final melhor do que ver um dos seus meninos, o jovem Kai Havertz, marcar o golo da vitória frente ao Manchester City (1-0). Esse golo simbolizou todo o sucesso da estratégia desportiva de Marina Granovskaia..Competente, discreta e reservada - nunca deu uma entrevista e mesmo aos média do clube só faz declarações curtas e essenciais - é a ela que atribuem a mudança de opinião de Roman Abramovich, que em 2018 pensou em acabar com o investimento nos blues depois de Inglaterra lhe recusar a renovação do visto de permanência..Com o dom de promover o equilíbrio entre o clube e os interesses de Abramovich, Marina Granovskaia humanizou a gestão do clube e ganhou protagonismo no mercado de transferências..Marina é diretora executiva desde 2013, mas só em 2017 viu reforçado o seu papel na gestão desportiva com a saída de Michael Emenalo. Com ela, o Chelsea deixou de ser apenas um clube comprador e por valores astronómicos. As vendas milionárias de Óscar (Shanghai SIPG), David Luiz (PSG) ou Diego Costa (Atlético de Madrid) são alguns exemplos. Não gosta de jogadores superstars e por isso dizem que deixou sair Mohamed Salah (Liverpool), Kevin De Bruyne (City) ou Eden Hazard (Real Madrid), o que lhe valeu comentários menos simpáticos por reforçar os rivais..Nasceu na Rússia há 46 anos, mas tem nacionalidade canadiana. Estudou música e dança, mas formou-se em Línguas na Universidade de Moscovo. Em 1997, começou a trabalhar nas empresas petrolíferas do oligarca russo que viria a comprar o Chelsea em 2003. Mudou-se para Londres a pedido de Abramovich para ser tradutora, assessora e mulher de confiança de Roman Abramovich..A primeira grande missão foi o projeto do Centro de Treinos de Cobham, que demorou três anos a planear e de onde já saíram vários talentos. Só em 2010, Granovskaia ganhou assento no clube como representante do russo e em 2013 foi nomeada diretora executiva, tendo negociado com a Nike o maior contrato de patrocínio de sempre, um acordo válido até 2032, superior a 65 milhões de euros por época..Assim que chegou ao topo da hierarquia do Chelsea mostrou o que podiam esperar dela. Foi Marina que convenceu Abramovich a apostar no regresso de José Mourinho. "Ela é o poder no Chelsea e Roman confia nela implicitamente. Ela não está interessada em ser uma celebridade, mas não há dúvidas de quem está no comando. Foi crucial para trazer José de volta", disse ao jornal Evening Standard uma fonte do clube..Mas nem tudo são rosas. Afinal, também houve alguns espinhos. Segundo a imprensa inglesa, a política de contratações de Marina não era bem vista por alguns treinadores, que queriam jogadores feitos em vez de apostas para o futuro. Por isso, comprou guerras (que ganharia mais tarde) com os treinadores italianos mais conservadores como Antonio Conte e Maurizio Sarri..Por tudo isto, o The Times a descreveu Marina Granovskaia como "a mulher mais poderosa do mundo do futebol"..isaura.almeida@dn.pt