Como explicar a humanidade para o resto do universo?

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Há quase 50 anos, o jornalista Eric Burgess estava a fazer uma visita a uma companhia aeroespacial aquando do lançamento da Pioneer 10, para aquela que seria a primeira expedição exploratória do espaço interestelar, e depara-se com uma ansiedade que se transforma numa ideia genial: e se houver a possibilidade de encontrar vida extraterrestre, como comunicar? Como falar com estes "indivíduos"? Porque não levar uma mensagem da vida na Terra para a vida inteligente fora dela?

Burgess partilhou estas ideias com o seu amigo de longa data, Carl Sagan, na altura diretor do laboratório de estudos planetários da Universidade de Cornell, e convenceu-o de que era boa ideia criar um sistema de comunicação visual que desse a conhecer os humanos e o seu quotidiano... a eventuais espécies extraterrestres que a Pioneer 10 pudesse encontrar na sua expedição.

E assim foi! Os designers Franck Drake e Linda Salzman Sagan criaram aquela que ficou conhecida como a primeira, e talvez única, infografia para alienígenas.

O exercício criativo é delicioso: tentar explicar a humanidade para o resto do universo usando uma linguagem visual, matemática e coletiva que qualquer pessoa, ou neste caso qualquer coisa, possa decifrar usando apenas ilustrações e símbolos gráficos. É isto possível? Explicar o desconhecido?

Uma imagem vale mais do que mil palavras, sempre se ouviu dizer, e este exercício é claramente a assunção disso mesmo. Não se trata de passar informação a alguém, seja ele italiano, inglês, argentino, chinês ou de outra nacionalidade, mas sim de passar a mensagem a um organismo que não sabemos como pensa, como age, como se desenvolve.

Martin Krampen, teórico dos processos de comunicação visual, abordando a temática da comunicação universal, refere que "as línguas nacionais se tornaram a barreira da linguagem". Curioso! Logo se a língua é a barreira da linguagem, não haverá uma propensão para se criarem códigos comuns de modo a construir-se uma cimentação dos significados icónicos? Parece-me óbvio que sim, pois as regras interpretativas não têm a necessidade de uma aprendizagem específica, uma vez que se encontram como que diluídas na cultura dos utilizadores.

Mas este é o problema da comunicação interestelar! Qual será o código dos utilizadores extraterrestres? Enfim... estamos, no entanto, muito mais perto de o descobrir, agora que já temos humanos a fazer turismo no espaço. A minha expectativa é que o Richard Branson na sua próxima viagem leve um kit de design gráfico que explique o que somos e o que fazemos, mas acima de tudo que diga visualmente, nuns cartõezinhos impressos, que precisamos de ajuda para salvar este planeta!

Designer e diretor do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia

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