Comissão Europeia: compras conjuntas de gás na UE são "próximo passo necessário"

A Comissão Europeia defende que as compras de gás conjuntas na União Europeia (UE) são um "próximo passo necessário", quando se teme "cortes abruptos" do fornecimento russo à Europa, que afetariam indústrias, mas sem impedir o acesso das famílias.
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"Avançar para as compras conjuntas no âmbito da Plataforma de Energia é um próximo passo necessário para prosseguir uma coordenação tanto do lado da procura como do lado da oferta e, em paralelo, a compra conjunta de gás poderia, por exemplo, dar às pequenas empresas de gás um papel mais forte e permitir uma melhor alavancagem de compra para a UE, o maior importador mundial de gás natural, inclusive a nível regional, melhorando a nossa resiliência energética e a segurança energética a longo prazo", defende o executivo comunitário no rascunho de um pacote que será publicado na quarta-feira e ao qual a Lusa teve acesso.

Segundo Bruxelas, "as últimas perturbações no fornecimento de gás da Rússia sugerem um risco considerável de que uma paragem unilateral completa do fornecimento de gás russo se concretize já este ano de uma forma abrupta", pelo que "a UE precisa de estar preparada para este cenário e tomar medidas adicionais à altura do desafio que isto implica", que passam desde logo por uma "redução do consumo de gás de uma forma ordenada".

Em causa está um rascunho, a que a Lusa teve acesso, do plano de emergência para a próxima estação fria que a Comissão Europeia divulgará na quarta-feira, sugerindo que se "poupe gás para um inverno seguro", numa altura em que se teme rutura total do fornecimento russo à Europa devido às tensões geopolíticas pela guerra da Ucrânia.

"Cortes abruptos prejudicariam ramos específicos das indústrias que têm pouco espaço para mudar para outros combustíveis - por exemplo, se o gás for utilizado como matéria-prima para processos industriais - ou para reduzir a produção sem danos pesados", admite o executivo comunitário na comunicação.

Ainda assim, Bruxelas ressalva que "clientes protegidos, nomeadamente famílias, que representam menos de 37% do consumo total da UE, não seriam, em princípio, diretamente afetados pelas perturbações russas em grande escala", embora esta estimativa pressuponha "a ausência de outros acontecimentos imprevistos".

A Comissão Europeia pede, assim, aos países da UE para "avançar rapidamente e de uma forma determinada agora", já que, "sem esforços de substituição significativos e redução da procura nas próximas semanas, uma grave perturbação do gás no inverno de 2022/2023 teria efeitos significativos na economia e nos mercados de trabalho europeus e afetaria todos os Estados-membros, direta ou indiretamente".

E, apesar de reconhecer "bons progressos no enchimento" do armazenamento até à data, as simulações realizadas pela Comissão e pela Rede Europeia de Operadores de Sistemas de Transmissão de Gás indicam que, "no caso de uma rutura total a partir de julho até ao inverno de 2023, o preenchimento ficaria aquém do objetivo de 80% fixado para novembro [deste ano] no novo regulamento de armazenamento da UE".

A guerra na Ucrânia, causada pela invasão russa do país no final de fevereiro passado, agravou a situação de crise energética em que a UE já se encontrava, com os receios de redução de abastecimento (nomeadamente por parte do fornecedor russo Gazprom) a levarem a preços de energia historicamente elevados e voláteis, contribuindo para a inflação e criando o risco de uma nova recessão económica na Europa.

As tensões geopolíticas devido à guerra na Ucrânia têm afetado o mercado energético europeu, já que a UE importa 90% do gás que consome, sendo a Rússia responsável por cerca de 45% dessas importações, em níveis variáveis entre os Estados-membros.

Em Portugal, o gás russo representou, em 2021, menos de 10% do total importado.

A procura de gás representa 24% do consumo interno bruto global de energia na Europa.

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