Secretas e Polícia Judiciária estão isoladas no sistema de segurança interna quanto à estratégia para prevenir e combater o terrorismo no nosso país. Ambas, como ponto de contacto privilegiado das autoridades internacionais, defendem que a partilha de informação com as forças e serviços de segurança deve ser limitada "à necessidade de conhecer", resistindo a dividir matéria sensível em investigação, como é a do terrorismo..Do outro lado estão, principalmente, a PSP, a GNR e o SEF, que estão no terreno e entendem que para prevenir o terrorismo - uma vez que não têm competência de investigação - têm de ter acesso a mais informações que só chegam à PJ e aos serviços de informações. "Olhamos para os recentes atentados de Bruxelas e concluímos que se tivesse havido mais cruzamento e partilha de dados entre as polícias, possivelmente não teria acontecido o que aconteceu", salienta um alto dirigente policial, crítico à atitude da PJ e dos Serviços de Informações. "Tem de haver confiança nas instituições. As ameaças e os riscos que corremos não se compaginam com essas guerras", afirmou outra fonte..O debate foi ontem elevado ao mais alto nível, na reunião do Conselho Superior de Segurança Interna (CSSI), presidida pelo primeiro-ministro, António Costa, que juntou os comandantes e diretores das polícias e das secretas, bem como um vasto conjunto de outras entidades, incluindo Forças Armadas, mas o conflito não ficou resolvido. Ainda no rescaldo dos atentados de Bruxelas, a agenda deste Conselho tinha, além da análise e aprovação do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), com os dados da criminalidade de 2015, outros dois pontos nada pacíficos..Um era, precisamente, a reorganização da Unidade de Coordenação Anti-Terrorista (UCAT). Outro a centralização de todos os pontos de contacto policiais internacionais, Europol e Interpol, atualmente da PJ, no Sistema de Segurança Interna (SSI). Este último foi aprovado, embora o diretor-nacional da PJ, Almeida Rodrigues, ainda tenha pedido que esse "ponto único" ficasse nas instalações da sua polícia, confidenciaram ao DN participantes. Contudo, segundo o comunicado oficial da Presidência do Conselho de Ministros, a decisão foi que seria "sob a égide do secretário-geral do Sistema de Segurança Interna", cargo ocupado pela procuradora-geral adjunta Helena Fazenda..A PJ e as secretas viram adiada, no entanto, a reorganização da UCAT que implicaria alguma cedência da sua parte na partilha de informação com as outras forças. A proposta de Helena Fazenda foi chumbada por todos, desde os chefes das polícias a vários ministros que ali têm assento, incluindo a da Justiça e da Administração Interna. Esta reorganização, que antecipa um reforço operacional da UCAT, está previsto desde a aprovação, há um ano, da Estratégia Nacional de Combate ao Terrorismo..A principal razão do chumbo foi a "desadequação" da "mega-estrutura" que a magistrada queria criar, praticamente triplicando o número de pessoas envolvidas nesta unidade operacional. Presentemente a UCAT é composta por um núcleo de nove entidades, entre polícias e secretas e resume-se a ser um ponto de troca de informações. Segundo a proposta de regulamento passaria a ter um "Conselho", um de "Grupo de Execução" e um "Núcleo de Apoio", os quais podiam atingir, em conjunto, 27 pessoas. Um dos deputados que fazem parte do CSSI, o social-democrata Luís Marques Guedes, foi quem fez as mais duras observações, mas teve o apoio do deputado socialista Alberto Martins.."A proposta de regulamento terá de ser revista de forma a aproveitar os órgãos que já existem e evitar novas estruturas e duplicações", sublinhou ao DN um dos conselheiros que participou na reunião.