Com 52 anos, atacante de Londres foge ao perfil típico dos terroristas

Khalid Masood, de Kent, era conhecido da polícia. Estado Islâmico reivindicou ataque que fez quatro vítimas mortais
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Na teoria, o britânico Khalid Masood tinha um percurso muito semelhante a outros indivíduos que, nos últimos anos, foram responsáveis por atos terroristas na Europa. Tinha um passado criminoso, esteve preso e acabou por se radicalizar (alguns fazem-no na prisão). Mas há um pormenor no seu perfil que vai contra o que até agora parecia comum: a idade. O autor do ataque de Westminster, que matou quatro pessoas na quarta-feira, tinha 52 anos. Em atentados passados, os responsáveis foram sempre mais jovens. Nos ataques de Londres de 7 de julho de 2005, por exemplo, o suicida mais velho tinha 30 anos (o mais novo 18), e o autor do ataque de Nice, em julho, tinha 31 anos.

"O elemento surpreendente é a idade do atacante de Londres. Ele tinha 52 anos, o dobro da média", escreveu no Twitter o jornalista do The Guardian Jason Burke, autor de vários livros sobre redes terroristas islamitas, sublinhando que a idade dos autores dos atentados tem vindo a baixar nos últimos anos (a maioria tem entre 18 e 35 anos). "Alguns analistas veem a sua atração ao radicalismo como parte de uma rebelião geracional", acrescentou, lembrando que o facto de Masood ser mais velho apenas confirma a "imprevisibilidade da ameaça".

Masood era bem conhecido das autoridades britânicas, mas não estava atualmente a ser alvo de uma investigação e não havia desconfiança de que tivesse a intenção de perpetrar um atentado terrorista. Para o MI5, que o tinha investigado "há alguns anos" por suspeita de extremismo, era apenas uma "figura periférica", indicou ontem no Parlamento a primeira-ministra britânica, Theresa May. "O seu caso era antigo", acrescentou. A sua idade e o baixo perfil podem tê-lo afastado do radar da polícia - segundo o The Guardian, nem fazia parte das três mil pessoas monitorizadas pela polícia por suspeita de terrorismo.

Nascido em Kent (a leste de Londres) no Natal de 1964, mas a viver em West Midland (centro de Inglaterra), Masood tinha sido condenado no passado por crimes violentos, incluindo agressões e perturbação da ordem pública. Segundo um comunicado da Polícia Metropolitana, a sua primeira condenação remonta a novembro de 1983 por danos e a última a dezembro de 2003, por posse de uma faca. "Nunca tinha sido condenado por crimes ligados ao terrorismo", disse a polícia, revelando que usava várias identidades.

De acordo com a BBC, Masood - que foi abatido a tiro após atropelar dezenas de pessoas e esfaquear um polícia quando tentava entrar no Parlamento - era um professor de Inglês que gostava de fazer culturismo. Não é claro se era de família muçulmana ou se era um convertido. Uma vizinha em Birmingham, onde terá vivido até ao último Natal, disse estar "muito surpreendida" por descobrir que o homem que via a cuidar do jardim, que tinha uma mulher que usava véu islâmico e um filho (outras fontes falam em três filhos) era o terrorista.

O facto de o responsável ser britânico não é surpreendente - a maioria dos ataques tem sido perpetrada por terroristas locais. Por exemplo, os bombistas de 7 de julho de 2005, em Londres, eram dos arredores. Há exceções: os atentados de 11 de setembro de 2001 foram perpetrados por sauditas e egípcios, que se tinham mudado para os EUA para preparar o ataque. Já o responsável pela morte de 12 pessoas em Berlim, em dezembro, era tunisino. Ontem, muitos grupos anti-imigração aproveitaram o ataque para criticar a entrada de estrangeiros.

Ainda antes de a identidade do atacante ser revelada pela polícia britânica, já o Estado Islâmico tinha reivindicado a responsabilidade. "O perpetrador dos ataques de ontem frente ao Parlamento britânico em Londres é um soldado do califado e realizou a operação em resposta aos apelos para atingir cidadãos da coligação", segundo um comunicado revelado pela agência de notícias do grupo terrorista, a Amaq. Mas, ao contrário dos autores de outros atentados nos últimos anos na Europa, ligados ao Estado Islâmico, não há notícia de que terá tentado viajar até à Síria ou ao Iraque, nem a polícia revelou pormenores de eventuais cúmplices com ligações ao califado.

Na realidade, as autoridades britânicas acreditam que terá agido sozinho. Contudo, foram feitas ontem várias detenções pelo país. No total, foram presas três mulheres - uma delas a companheira de Masood, de 39 anos - e cinco homens em Londres e Birmingham. Todos são suspeitos de preparar atos terroristas.

O carro usado por Masood para atropelar dezenas de pessoas terá sido alugado pelo próprio em Birmingham. Ao contrário do que aconteceu nos atentados de Nice e Berlim, quando também foram usados veículos, o atacante de Londres não tinha armas de fogo, apenas facas. "Este tipo de ataque, com lobos solitários, usando coisas do dia-a-dia, um veículo, uma faca, são muito mais difíceis de prevenir", disse o ministro da Defesa, Michael Fallon. "A polícia e as agências que garantem a nossa segurança preveniram um número elevado destes ataques nos últimos anos, mais de uma dúzia no último ano", acrescentou. O nível de alerta continua no "severo", o segundo mais elevado, indicando que um atentado terrorista é altamente provável.

Ontem, o jornal The Telegraph chegou a dizer que teria sido o guarda-costas de Fallon a abater o atacante de Westminster, tendo reagido quando aguardava num carro a sua saída do Parlamento. Mas, num comunicado, a Polícia Metropolitana disse que o autor dos disparos fatais foi um agente e que um inquérito tinha sido aberto, como era normal em qualquer incidente em que é disparada uma arma.

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