Coligação dramatiza para conquistar centro: vem aí a esquerda radical
Perigo: se não houver maioria pode haver um governo sem o partido mais votado e com a esquerda radical. No último dia que passará de forma integral em jornais, rádios e televisões - sem as restrições do dia de reflexão - a coligação apostou tudo em convencer os indecisos ao centro, alertando para os perigos de um governo com Bloco e PCP.
Outra das estratégias é garantir que os militantes votem e levem um amigo também. Ontem, ao final da tarde, Passos Coelho enviou um e-mail aos militantes - ao qual o DN teve acesso - aproveitando a "oportunidade para solicitar a todos um último esforço de mobilização junto dos vossos familiares e amigos para o exercício do direito de voto no ato eleitoral do próximo domingo". Na missiva, admitiu ainda que a campanha foi "muito dura". Mas Passos ainda não tinha visto nada.
É que uma hora depois de o e-mail chegar à caixa de correio eletrónico dos militantes, teve de enfrentar um banho de multidão no Porto. A mobilização na arruada na Baixa da Invicta foi a maior da campanha, mas deu em encontrões, quedas e palavrões (quase sempre amigáveis). Passos esteve sempre protegido por duas bolhas: uma primeira composta por seguranças (que a espaços deixavam militantes ir entrando) e outra por jotas, como escuteiros numa procissão, mas cujos protagonistas voltaram a andar a ritmo de velocista.
Mesmo assim Passos tentou ser mais empático e desta vez até fintou os próprios seguranças, tendo subido para um banco para dizer "obrigado" aos militantes. Portas seguiu-o no número.
Tanta gente acabou por abafar alguns impropérios mais isolados de portuenses que em sotaque do Norte diziam: "Maioria o cara..." Também se evitou problemas maiores com a arruada do PS mesmo ali ao lado, embora antes de Passos chegar um socialista - que seguia de elétrico - tenha lançado uns insultos a um apoiante da coligação que deu outro uso ao pau da bandeira azul e laranja. Pouco depois, tudo sanado.
O mar da coligação desaguou na Praça D. João I, que encheu e onde os discursos políticos não fugiram dos que tinham sido feitos à hora do almoço: abanar o fantasma de um governo de esquerda. O vice-primeiro-ministro Paulo Portas disse mesmo que o PS fez uma "campanha radical inédita" e que os "eleitores socialistas estão perplexos com tanto radicalismo e tanto esquerdismo" do PS de António Costa.
Já à hora de almoço, o vice-primeiro, Paulo Portas, tinha desafiado o PS a revelar o "plano B que tem para depois das eleições" e advertiu: "Se o plano B é governar o país com PCP e Bloco isso é contra o interesse nacional, da classe média e da economia portuguesa."
Para esta tese, Portas teve um precioso apoio de António Lobo Xavier. O histórico do CDS lembrou que "António Costa começou por desdenhar da vitoriazinha de Seguro, mas agora parece contentar-se com uma derrotazinha, e arranjar um saco de gatos no Parlamento para garantir a sua continuidade política". O ex-dirigente do CDS desvalorizou a capacidade de diálogo do secretário-geral do PS, afirmando que "Costa diz que tem experiência de unir a esquerda, mas tem experiência da pracinha de Lisboa. Aqui é Portugal que está em causa e não se pode dialogar com quem não quer o euro, não quer pagar a dívida".
Na última intervenção do dia Passos aproveitou o facto de dizerem que a coligação acena com o medo do regresso ao passado para afirmar que lembrar a governação socialista, "ao contrário do que dizem, não visa meter medo a ninguém. Eu nunca tive medo, os portugueses também não". Passos acrescentou que o que a coligação quer é que "não fiquem sem resposta as ameaças que estão a ser feitas aos portugueses. E essas ameaças partiram de quem tem a ambição de governar. Foi dito com clareza: se a coligação ganhar, mas não tiver maioria no Parlamento, não terá Orçamento e não terá o seu programa aprovado no Parlamento".