O governo francês abandonou os planos de aumento da taxa de carbono sobre os combustíveis em 2019, mas isso não teve qualquer efeito e os coletes amarelos prometem voltar a protestar e a semear o caos em Paris. A capital francesa estará blindada, com lojas e museus fechados, concertos e jogos de futebol adiados, para tentar evitar as cenas de violência e pilhagem..Quatro semanas após o início dos protestos, que nasceram contra o aumento do preço dos combustíveis, os manifestantes não parecem dispostos a recuar. Enquanto isso, surgem sinais de fragilidade e divisão entre o primeiro-ministro Édouard Philippe e o presidente Emmanuel Macron. O primeiro defendia uma simples suspensão do aumento da taxa, mas foi desautorizado umas horas depois pelo segundo..Philippe anunciou uma suspensão de seis meses do aumento da taxa na quarta-feira às 15.00, na Assembleia Nacional. O tempo seria usado para refletir numa forma mais equitativa de introduzir essa taxa (que visa igualar o preço do gasóleo ao da gasolina), com Philippe a dizer que se isso não fosse possível não seria restabelecido o imposto. Contudo, a oposição exigia o cancelamento, em vez da suspensão da medida..Isso mesmo veio dizer o Eliseu, menos de cinco horas depois, anunciando que se anulava o aumento da taxa. Nos estúdios da BFM-TV, o ministro da Transição Ecológica, François de Rugy, explicou: "Assim, não há trafulhice. O presidente, estive a falar com ele há poucos minutos ao telefone, disse-me: 'as pessoas tiveram a impressão de que havia uma trafulhice, que lhes dizíamos que era uma suspensão mas que voltaria depois'.".Por tudo isto, há quem já fale de um mal-estar entre presidente e primeiro-ministro, que poderá levar ao afastamento do ocupante do Palácio do Matignon. Algo que este nega. "A missão é alcançar os objetivos que foram fixados pelo presidente da República. Faço-o com o apoio da maioria e com a confiança do presidente. E é isso que me importa", afirmou Philippe à TF1. Já o Eliseu garante à AFP que existe "harmonia perfeita" entre o presidente e o primeiro-ministro..Macron, cuja popularidade está no valor mais baixo de sempre (18%), vai fazer uma declaração sobre os coletes amarelos no início da próxima semana, revelou o presidente da Assembleia Nacional, Richard Ferrand. O mesmo responsável indicou que o presidente não quis falar antes das manifestações deste sábado para não "lançar mais achas para a fogueira". Já a popularidade do primeiro-ministro chega a 21%..89 mil polícias nas ruas.Nas rede sociais, onde o movimento dos coletes amarelos nasceu e ganhou força, são inúmeros os apelos à calma, com o governo a publicar um vídeo: "As manifestações são um direito. Então vamos exercê-lo." Lembrando que protestar não é destruir o património..No sábado passado, os protestos resultaram em 230 feridos por todo o país, centenas de detenções e vários monumentos danificados em Paris. O Eliseu teme que haja mais danos neste sábado, tendo destacado 89 mil polícias (oito mil só em Paris) para fazer face ao "Ato IV" dos protestos dos coletes amarelos.."Estas três últimas semanas deram origem a um monstro que escapou dos seus pais", disse o ministro do Interior, Christophe Castaner..O governo teme uma aliança entre a extrema-direita, a extrema-esquerda, os coletes amarelos e jovens dos arredores, que estiveram envolvidos em pilhagens na capital francesa. Aponta o dedo a um "grupo de vários milhares de pessoas" que estão determinados a "destruir e matar" - há próximos de Macron que receberam ameaças de morte..O primeiro-ministro recebeu ontem durante uma hora e meia um grupo de "coletes amarelos livres", que defende o diálogo e apela ao fim dos protestos em Paris. "Estamos numa atitude de ouvir", afirmou o porta-voz do governo antes do encontro, dizendo que "os verdadeiros coletes amarelos não podem servir de escudo humano" por "elementos politizados e radicalizados" que querem "derrubar o poder"..Vários países europeus, entre os quais Portugal, pedem aos seus cidadãos para evitar "deslocações desnecessárias" a Paris neste sábado.