Clubes ingleses hesitam, Boris Johnson ameaça com bomba legislativa

Diretores do Chelsea e do Manchester City estarão com dúvidas em prosseguir com a iniciativa, enquanto primeiro-ministro britânico diz que é altura de "largar bomba legislativa" para acabar de imediato com o projeto.
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Perante a condenação geral, dos adeptos aos dirigentes dos outros clubes, dos políticos aos futebolistas, à iniciativa de 12 clubes criarem uma Superliga Europeia à parte de qualquer instituição, as administrações de dois clubes ingleses estarão a reconsiderar a sua participação.

Segundo o The Guardian, um executivo de um outro clube convidado a participar na Superliga avançou que os dirigentes do Chelsea e do Manchester City analisam uma possível inversão de marcha.

Sem explicitar a fonte, o jornal inglês escreve que "os que se opõem à rutura acreditam que menos de metade dos 12 clubes são considerados 'fanáticos'", isto é, "apoiarão a Superliga aconteça o que acontecer". E que os restantes foram atrás pelo apelo financeiro e para não ficar para trás.

Já o The Times, também de Londres, afirma que há um clube inglês a hesitar. "Embora os membros da Superliga insistam que todos os 12 estão empenhados no projeto, o The Times sabe que pelo menos um clube inglês está a ter discussões internas de emergência sobre o melhor caminho a seguir, com alguns dos diretores profundamente preocupados em alienar os seus adeptos", lê-se.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, voltou a assegurar hoje não excluir "nenhuma medida" para travar o projeto, durante um encontro com os responsáveis dos organismos do futebol inglês.

Johnson "renovou o seu apoio incondicional às autoridades do futebol" e confirmou que estas têm "o apoio total do governo para empreenderem todas as medidas necessárias para parar o projeto", indicou Downing Street num comunicado publicado depois da reunião.

"O primeiro-ministro confirmou que o governo não ficará parado enquanto um punhado de proprietários cria o seu clube privado. Foi claro sobre o facto de nenhuma medida estar descartada e que o governo [está a explorar] todas as possibilidades, nomeadamente a via legislativa, para assegurar que esta proposta seja abandonada", acrescenta a nota.

Fora do comunicado, e de acordo com o The Guardian, o governante criticou os moldes "anticompetitivos" da prova e disse ao diretor da Premier League Richard Masters que se "deve largar uma bomba legislativa para parar" a iniciativa o quanto antes.

A Federação inglesa de futebol (FA), a Premier League e grupos de adeptos estiveram reunidos, na presença do ministro do Desporto, Oliver Dowden, dois dias depois do anúncio da criação de uma 'liga europeia privada' na qual vão participar seis clubes ingleses.

"Todos os participantes concordaram que é preciso agir para preservar a competição igualitária e aberta que queremos ver no futebol e para manter o princípio fundamental de que cada clube deve ter uma oportunidade de defrontar e de triunfar frente aos melhores jogadores deste desporto", acrescenta ainda Downing Street.

Na segunda-feira, Boris Johnson já tinha garantido que iria fazer "tudo o que puder" para impedir a criação da Superliga europeia de futebol, anunciada no domingo.

"Vamos analisar tudo o que podemos fazer com as autoridades do futebol para garantir que a Superliga não aconteça como está planeada. Isto não é uma boa notícia para os adeptos nem para o futebol deste país. Não gosto da aparência desta proposta e farei tudo o que puder para que não aconteça", afirmou na segunda-feira aos jornalistas ingleses.

No domingo, AC Milan, Arsenal, Atlético de Madrid, Chelsea, FC Barcelona, Inter Milão, Juventus, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Real Madrid e Tottenham anunciaram a criação da Superliga europeia, à revelia de UEFA, federações nacionais e vários outros clubes.

A competição vai ser disputada por 20 clubes, 15 dos quais fundadores (apesar de só terem sido revelados 12) e outros cinco, que seriam qualificados anualmente.

A UEFA anunciou que vai excluir todos os clubes que integrem a Superliga, assegurando contar com o apoio das federações de Inglaterra, Espanha e Itália, bem como das ligas de futebol destes três países. Entretanto, também a federação alemã, DFB, se juntou, tendo pedido a exclusão de todas as competições dos 12 clubes fundadores da Superliga.

"Os clubes e as suas equipas de jovens devem ser excluídos de todas as competições, até que pensem novamente nos seus muitos adeptos, que os transformaram em gigantes do futebol mundial, e não apenas no porta-moedas", disse em comunicado o presidente da DFB, Fritz Keller.

A Federação Internacional de Futebol Association (FIFA) mostrou-se solidária com a UEFA pela voz do seu presidente, Gianni Infantino. "Na FIFA, só podemos desaprovar veementemente a criação da Superliga, de uma Superliga que é uma entidade fechada, que é uma rutura com as instituições atuais." Ao que concluiu: "É minha tarefa e nossa tarefa proteger o modelo desportivo europeu, as competições de clubes, as equipas nacionais. Se escolherem seguir o seu próprio caminho, devem viver com a sua escolha. Ou estão dentro ou fora. Não podem estar meio dentro e meio fora", advertiu.

As críticas ao projeto também se fizeram ouvir pelo acionista principal do Paris Saint-Germain, Nasser al-Khelaifi. "O Paris Saint-Germain acredita firmemente que o futebol é um desporto para todos. Tenho sido consistente neste ponto desde o início. É preciso lembrar que, como clube de futebol, somos uma família e uma comunidade, cujo coração é feito de nossos adeptos. Devemos lembrar-nos disso", disse o bilionário do Catar.

Al-Khelaifi reconheceu a necessidade de uma reforma nas competições europeias, mas rejeitou liminarmente a ideia de sair das instâncias europeias.

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