É um clássico do futebol português e é também um jogo que pode dar o título ao FC Porto em casa do maior rival, o Benfica. O jogo da 33.ª jornada da I Liga, que se joga sábado no Estádio da Luz, terá assim um lado emocional ainda mais forte. E, por isso mesmo, a psicóloga Ana Bispo Ramires coloca os treinadores como "maestros" de um jogo onde a gestão emocional pode fazer a diferença no resultado final: "Depende da mestria do treinador a definir um propósito comum a toda a equipa, mantê-la mobilizada e motivada para determinada ação. Um bom treinador pega num objetivo e fatia-o de forma a que os atletas possam cumprir a tarefa até chegar ao objetivo final.".Os encarnados recebem os portistas sabendo que se não vencerem permitirão que o rival faça a festa em plena Luz. Como lidar com isso? "Os atletas de topo já têm um conjunto de ferramentas que os ajudam a lidar com situações de stress. Para terem o ego que têm de forma consistente, aprendem a regular do ponto de vista psicoemocional. Isto e válido para ambos os balneários",disse ao DN, a mestre em psicologia desportiva, lembrando que o fator motivacional inerente a um clássico, facilita a tarefa dos técnicos.."Qualquer situação de competição pode ter mais de cinco centenas de possíveis fatores de stress, mas isto não quer dizer que as equipas vão reagir a cinco centenas de fatores de stress. Toda e qualquer ação pode ativar respostas negativas ou positivas, da parte dos treinadores e jogadores, seja em alta performance ou ansiedade. Há atletas a viver a mesma situação que terão respostas diferentes. Nas modalidades coletivas, como o futebol, isso implica maior mestria dos treinadores para gerir os balneários", segundo a psicóloga..Destaquedestaqueesquerda.Ou seja, muito do que se passar no relvado da Luz, depende das ações e palavras de Nélson Veríssimo e Sérgio Conceição. Nesse aspeto, o treinador do FC Porto, sendo mais experiente e tendo em jogo o objetivo de ser campeão leva vantagem? "Não necessariamente. A experiência não traz só coisas boas. A pressão pode estar mais do lado dele porque está em jogo um título", respondeu Ana Bispo Ramires, assegurando que "não é verdade" que do outro lado não haja objetivos em jogo. "Em alta competição nenhum jogador entra em campo sem um objetivo. O Benfica já não pode ser campeão, mas pode evitar que o FC Porto faça a festa na Luz. Além disso, vai querer ganhar. Se me perguntar se o FC Porto está mais pressionado a ganhar, digo que depende de como Sérgio Conceição gerir as expectativas para o clássico, porque todos sabem que, mesmo perdendo, também são campeões se ganharem o jogo seguinte", explicou a psicóloga..É aqui que a tão falada "gestão emocional" entra em jogo e pode determinar o rendimento desportivo. Segundo Ana Bispo Ramires, a reação ao erro "depende da cultura psicoemocional do atleta e se for ou não um dos pilares da equipa". E quanto ao discurso dos treinadores, "o que dizem para fora e o que dizem lá dentro são coisas bastante distintas e assim deve ser". Mas, "quando a tática e a técnica estão bem trabalhadas, a parte psicológica pode ser determinante na obtenção de objetivos". "Esse é um trabalho que deve ser feito de forma precoce e por isso há clubes que já têm gabinetes de psicologia na formação", explica..Os presidentes, Rui Costa (Benfica) e Pinto da Costa (FC Porto), deram mostras de cordialidade institucional em eventos recentes, depois de anos de animosidade na presidência de Luís Filipe Vieira. Assim sendo, até que ponto esta cordialidade se pode refletir no desempenho das equipas? "Depende do maestro. Se o treinador tiver o balneário na mão, está blindado e, se for assim, não influencia, não prejudica, nem ajuda. Tirando isso, o que posso dizer é que o desporto e a sociedade beneficiam com esse tipo de comportamento cordial entre os clubes, pelo exemplo que dão", defendeu Ana Bispo Ramires..Em 129 anos de história, os dragões já festejaram dois títulos no Estádio da Luz, onde amanhã só precisam de um empate para garantir o 30.º campeonato. Os últimos festejos em Lisboa foram em 2010-11 e dessa equipa fazia parte Nicolás Otamendi, que é agora um dos capitães do Benfica. "Não o conhecendo torna-se difícil avaliar como ele e os outros à sua volta lidam com isso. Pode ser um jogador para quem a troca de clube seja natural. Se o jogo fosse no Dragão teria de estar preparado para os habituais assobios, mas neste caso não. É um problema menor para o treinador.".isaura.almeida@dn.pt