Cimeira do clima resvala nas verbas do fundo verde
Sem grande surpresa, foram as negociações sobre os montantes para o fundo de adaptação às alterações climáticas destinado aos países em desenvolvimento que conduziram ontem a cimeira do clima a uma situação de impasse. Com as verbas prometidas muito aquém dos valores já acordados a partir de 2020 (cem mil milhões de euros anualmente), os dirigentes políticos dos quase 200 países presentes na conferência terão hoje, último dia dos trabalhos, a derradeira oportunidade de demonstrar - ou não - a verdadeira dimensão do seu empenho no combate às alterações climáticas.
Com a eleição de Trump sempre a pairar sobre a COP22 e o seu desfecho e sobre o papel que os Estados Unidos vão ter nesta matéria sob a liderança do seu próximo presidente, os apelos voltaram a suceder-se para que os líderes mundiais mostrem um compromisso forte. Mas o próprio secretário de Estado da administração Obama, John Kerry, esteve desta vez na conferência do clima sem certezas quanto à futura política climática do seu país, e mais não pôde fazer do que tentar passar uma mensagem de otimismo (ver fotolegenda).
Enquanto em Marraquexe as decisões sobre as verbas para adaptação às alterações climáticas ficaram ontem adiadas - talvez para hoje, talvez para um futuro posterior e incerto, hoje se saberá -, nos Estados Unidos a comunidade científica, as ONG de ambiente e até representantes da indústria começaram a mobilizar-se para tentar esclarecer o seu próximo presidente sobre a urgência de prosseguir a política climática em que o país tem estado empenhado nos últimos anos.
Ontem, um desses apelos chegou pela voz de Gavin Schmidt, cientista da NASA e diretor de um dos seus centros, o Goddard Institute for Space Studies, que publicou na sua conta de Twitter um gráfico de temperaturas mostrando que o último mês foi o segundo outubro mais quente desde que há registos. Com o gráfico Schmidt publicou o comentário: "Nenhuma surpresa, o aquecimento do planeta não se importa com a eleição."
A preocupação generalizada sobre o que Donald Trump vai fazer nesta área justifica-se. Durante a campanha classificou o aquecimento global como "uma farsa", refutou a ciência das alterações climáticas, classificando-as como "uma invenção da China" e garantiu que vai retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris e revigorar a economia ligada aos combustíveis fósseis.
A sua nomeação há dias de Myron Ebbers, um dos mais notórios negacionistas das alterações climáticas e fervoroso promotor das indústrias do carvão, para chefiar a Agência de Proteção Ambiental americana faz temer que cumpra essas promessas. Mas também é possível que venha a tomar decisões menos lesivas para o clima. Este, de qualquer forma, seguirá o seu curso, com o aquecimento global do planeta, independentemente das crenças do 45.º presidente dos Estados Unidos.