Pelo menos 162 contas de ativistas de extrema-direita, alegados apoiantes do NOS (Nova Ordem Social), movimento de ex-líder neonazi Mário Machado, foram bloqueadas pelo Facebook nos últimos dias. Em resultado de uma ação organizada de denúncias àquela rede social, da parte de várias organizações antifascistas nacionais e internacionais, invocando as ideias extremistas de incitamento ao ódio ali difundidas, também a própria página do NOS foi banida..A ciberguerra está em escalada de tensão, quando já começou a contagem decrescente para duas manifestações de grande potencial de conflito, marcadas quase à mesma hora, em Lisboa: às 19.00, a extrema-direita vai até à Assembleia da República manifestar-se em apoio a Oliveira Salazar, uma iniciativa anunciada por Machado, em dezembro; em resposta, às 18.30, várias organizações antifascistas (sem apoio oficial de nenhum partido) desfilam desde o Rossio ao Largo Camões para gritar que "não existe espaço para fascistas nas nossas ruas"..O bloqueio do Facebook foi assumido por Machado através de um "fórum" e de um "blogue", as únicas plataformas online que utiliza agora. "A extrema-esquerda radical, intolerante e antidemocrática, lançou ontem, de uma forma organizada, um ataque à Nova Ordem Social. Em vários grupos, chats e fóruns e concertadamente, fizeram milhares de denúncias das nossas páginas, grupos e perfis pessoais", lê-se numa publicação por si assinada..O nacionalista, que foi condenado e cumpriu pena por vários crimes violentos - alguns dos quais praticados com o grupo de neonazis que assassinou o cabo-verdiano Alcindo Monteiro, no Bairro Alto, em 1995 -, retaliou e conseguiu também que fosse fechada uma página do grupo "inimigo" que tem estado mais ativo - a Frente Unitária Antifascista de Braga (FUA)..Publicou também dados pessoais (fotos, moradas, locais de trabalho) de alegados antifascistas, entre os quais os de um técnico da Accenture que faz o bloqueio de páginas para o Facebook..O DN tentou contactar este técnico, mas não obteve resposta até ao momento. Na sua página desta rede social faz um apelo aos amigos: "Afinal ser famoso não é tudo o que dizem que é, preferia ficar no anonimato. Amigas e amigos, amigos e amigas, peço algum cuidado com as coisas que contam sobre mim e a quem o fazem mas sobretudo espero que nada disto faça algum de vocês sofrer algum tipo de repercussão."."Há uma guerra invisível a decorrer entre antifascistas e fascistas. Poucos são os que se dão conta que existe e tem vindo a ganhar novos contornos e dimensões, com ambos os lados a aprenderem com os erros e a melhorarem as capacidades. Ao contrário dos clássicos combates de rua, esta nova guerra acontece no espaço virtual, onde, à velocidade de um clique, se sucedem movimentos e contra-movimentos. Mandam-se abaixo páginas de redes sociais, chats e fóruns e, ao mesmo tempo, difundem-se informações e contrainformações, numa eterna disputa pela hegemonia política. Tudo à margem da política tradicional. Este confronto já extravasou o espaço virtual para se consumar numa "tentativa de homicídio" a um antifascista de Braga", é descrito num artigo publicado no Flashback, um auto designado Observatório Antifascista recentemente criado e que tem "como objetivo acompanhar os mais recentes desenvolvimentos no campo da extrema-direita tanto em Portugal como no resto do mundo..A "tentativa de homicídio" refere-se a um caso noticiado nesta semana, em que um elemento da FUA terá sofrido uma tentativa de atropelamento por parte de um grupo de neonazis..Em resposta à criação do Flashback, Mário Machado não perdeu tempo e nesta quarta-feira anunciou o Observatório Anti-Antifa (OAA), justificando a medida "após constatação do crescimento das atividades criminosas de índole terrorista e politicamente motivadas, por parte da célula Antifa-Portugal, que faz parte da Antifa Mundial"..Machado diz que os "antifas" são "apoiados por partidos de extrema-esquerda, e gangues de racistas negros, subvencionados pelo Estado português". O objetivo principal deste antiobservatório, sublinha, "é apresentar junto do Ministério Público um registo das atividades ilegais" daquele movimento "e dos seus membros mais radicais"..Para tal, promete, vai ser recolhida informação para "expor" esses apoiantes, tendo, como "objetivo secundário, alertar os patriotas, para que, um dia, confrontados com esses indivíduos possam saber de antemão que são possíveis atacantes"..Cauteloso, avisa: "Vamos ser rigorosamente zelosos em não permitir aqui qualquer incentivo à violência contra os visados. O modo de seleção é bastante simples - todos os que publicamente cometerem o crime, plasmado no artigo 29.º do Código Penal, de instigação pública à prática de crime, serão denunciados"..Estas dinâmicas cibernéticas estão a ser acompanhadas pelas autoridades que não as estão, por agora, a valorizar o seu efeito no terreno. As manifestações vão ter a segurança da PSP com "o dispositivo adequado". Segundo fonte que está a acompanhar os grupos mais radicais, "a escalada de tensão na internet até pode vir a resultar em violência no terreno em algum momento, mas não serão estas manifestações o local mais apropriado, dado saberem que estão sob estrita vigilância e terão dificuldades em criar incidentes, pois seriam facilmente identificados".