China não fecha a porta a missão da OMS para investigar origem do vírus
Numa altura em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) está a considerar promover uma nova missão na China para investigar a origem do novo coronavírus, estando em conversações com Pequim, cresce a controvérsia sobre a pandemia que matou mais de um quarto de milhão de pessoas com China e Estados Unidos a entrarem num jogo de ataque e resposta permanente.
Ao anúncio da OMS de uma nova investigação científica em Wuhan, a China responde de forma diplomática, sem fechar a porta, afirmando-se disponível para colaborar com a ciência mas também sem deixar claro se apoia e permitirá liberdade total. Esta quinta-feira os chineses voltaram a reagir com indignação a novas acusações da administração Trump.
Pequim classificou como declarações "mentirosas" dos Estados Unidos as críticas do presidente Donald Trump, que reiterou que a China deveria ter contido a epidemia e não é transparente. Trump, que afirmou na quarta-feira que a crise atual é "pior" que o ataque a Pearl Harbor em 1941 e os atentados de 11 de setembro de 2001, voltou a criticar a China e afirmou que "isto não deveria ter acontecido nunca".
Em resposta, a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, afirmou que "vários países e especialistas têm feito comentários positivos sobre a prevenção e controlo do vírus na China". "Apenas os Estados Unidos elevam uma voz discordante, falsa e hipócrita", completou.
"O inimigo que os Estados Unidos enfrentam chama-se novo coronavírus", declarou Hua, que pediu aos americanos que lutem "ao lado da China como sócios, em vez de como inimigos". "É uma pena ver que algumas pessoas nos Estados Unidos atribuem a culpa aos outros, sem assumirem as suas responsabilidades", insistiu.
A mesma responsável reagiu de forma prudente ao anunciado plano da OMS para ir de novo estudar o vírus em Wuhan. "A origem do vírus é um problema científico complexo. A resposta deve ser encontrada pelos cientistas e pelos especialistas através de uma pesquisa rigorosa em vez de ser alvo dos políticos. Pedimos a todos que respeitem a ciência e fiquem longe de teorias da conspiração", disse, sem ficar clara a posição da China, apesar de deixar entreaberta a porta à OMS.
O tem está a ser debatido. Na quarta-feira a OMS disse estar a planear uma nova missão. "Sem saber onde está a origem, é difícil impedir que isto aconteça novamente", disse Maria Van Kerkhove, epidemiologista da OMS, na conferência de imprensa habitual em Genebra, revelando que o tema ainda está a ser analisado com China. "Há uma discussão com os nossos colegas na China para uma missão adicional, que seria mais académica e se focaria em olhar o que aconteceu no início em termos de exposições com diferentes animais", acrescentou.
Van Kerkhove participou numa missão anterior à China, que concluiu que o vírus era de origem zoonótica. Os morcegos parecem ser o "reservatório" do vírus, mas não foi possível determinar um hospedeiro intermediário, segundo o relatório.
A OMS planeava fazer mais trabalhos sobre o tema durante essa missão, mas o confinamento em Wuhan tornou impraticável, de acordo com Peter Ben Embarek, cientista do Departamento de Segurança Alimentar e Zoonoses da OMS.
O especialista diz agora que com a abertura da cidade o trabalho poderá ser realizado. A porta-voz do MNE chinês não afastou a colaboração com a missão da OMS. "O governo chinês e a OMS têm uma boa comunicação. Gostaríamos de continuar a nossa cooperação para lidar com a pandemia."
A OMS tem sido criticada por Trump, que cortou financiamento à agência das Nações Unidas por ser "excessivamente deferente" à China. O secretário de Estado Michael Pompeo tem repetido que a China encobriu as origens do vírus, embora esta semana não tenha sustentado alegações anteriores de haver "enormes evidências" que o vírus escapou de um laboratório de Wuhan.