Chefe dos espiões: a "quebra de segurança" não foi nas secretas
O secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) garantiu ao DN que a fuga de informação de dezenas de documentos classificados, não teve origem nas secretas e que estará a decorrer um processo para averiguar os responsáveis. "No que se refere aos serviços de informações não houve qualquer quebra de segurança documental. Está a tentar apurar-se, através dos elementos de securização dos documentos em causa, onde e quem os terá subtraído ou ilegalmente reproduzido", sublinhou Júlio Pereira.
Segundo conta o Observador entre estes documentos, que apareceram nas mãos de um cidadão de leste - entretanto em paradeiro desconhecido - num país de África Ocidental, estão relatórios do Serviço de Informações de Segurança (SIS), da GNR e da PSP. A descoberta terá acontecido de forma acidental quando o homem em causa apresentou uma série de documentos requisitados por uma empresa. Entre eles estavam os relatórios confidenciais. O Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), dirigido por José Casimiro Morgado, terá sido imediatamente contactado. Elementos do SIED ter-se-ão deslocado de Lisboa a África para apreender os documentos e tentar perceber se tinham sido, de alguma forma, replicados.
A situação terá acontecido em março passado, mas, segundo apurou o DN, os serviços de informações não informaram nem a PSP, nem a GNR, o que pode indiciar a suspeita de que a fuga possa ter vindo de alguma dessas polícias que também tiveram acesso aos documentos.
Segundo o Observador entre os documentos, haverá um relatório do SIS com a estratégia do grupo Hell"s Angels (um grupo de motociclistas que nasceu nos EUA e que as autoridades associam a um movimento de grande violência, com ligações criminosas) em Portugal. O documento, concluído em dezembro de 2011, descreve as relações dos Hell"s Angels com grupos motards em Portugal e traça as ligações de alguns dos seus elementos a alegados crimes de tráfico de droga, armas, extorsão e lenocínio, com fotografias de alguns dos seus elementos. Haverá ainda um relatório, feito seis meses depois, que atualiza essa informação e alegadamente dispõe de uma série de nomes e moradas de cada um dos elementos referenciados no grupo. Da Direção de Informações da GNR haverá uma informação acerca de uma série de furtos a hotéis no Algarve, com referência e fotografias de cidadãos suspeitos.
Alguns documentos parecem ter sido digitalizados a partir dos documentos originais, outros parecem cópias digitais dos originais. O sistema de segurança documental das secretas tem mecanismos, com números, marcas de água e outros códigos discretos, que permitem saber de que entidade foram extraídos ou copiados os documentos.
Não foi possível saber que o SIRP comunicou o incidente, que já ocorreu há seis meses, à Procuradoria-Geral da República. Em causa, entre outros, estão crimes de violação de segredo, de Estado e de funcionário, bem como de corrupção.