Charlie Hebdo. O único condenado a prisão perpétua está em parte incerta

O tribunal especial de Paris decidiu condenar Mohamed Belhoucine por não haver certezas de que estará morto, ao contrário do irmão Mehdi, que não resistiu a um ferimento de guerra de acordo com os serviços secretos franceses.
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O tribunal especial de Paris, que condenou todos os 14 acusados dos atentados terroristas às instalações do jornal satírico Charlie Hebdo e ao supermercado judaico, ambos na capital francesa, em janeiro de 2015, foi obrigado a julgar três suspeitos à revelia.

Foram eles os irmãos Mohamed Belhoucine e Mehdi Belhoucine, bem como Hayat Boumeddiene - a namorada de Amedy Coulibaly, o principal responsável do ataque ao supermercado que foi morto após o atentado, que fugiram para a Síria a 2 de janeiro de 2015, depois de planearem os ataques de Paris que viriam a ocorrer alguns dias depois.
Os juízes acabaram por não julgar Mehdi Belhoucine por estar comprovadamente morto, de acordo com os serviços de informação franceses, devido a um ferimento de guerra que não foi devidamente tratado.

Já no que diz respeito a Mohamed, o irmão mais velho, ele está formalmente em parte incerta. Indícios apontam igualmente no sentido de que estará morto, na sequência de uma luta em território sírio. Contudo, como não existem provas fiáveis, o tribunal decidiu condená-lo a prisão perpétua. Afinal, além da participação no planeamento dos atentados, Mohamed terá editado e publicado nas redes sociais um vídeo de glorificação de Amedy Coulibaly, morto nos atentados de Paris, em nome do Daesh, além de ter criado os endereços eletrónicos utilizados por Amedy Coulibaly para que fosse dada a ordem dos ataques.

Em parte incerta está igualmente Hayat Boumeddiene, sobre quem havia informações que apontavam para o facto de ter morrido num ataque aéreo a uma célula do Estado Islâmico no Iraque, em março de 2019, mas um ano depois uma jihadista francesa disse em tribunal ter conhecido Hayat em outubro de 2019, garantindo que ela estaria a utilizar uma identidade falsa. Os serviços secretos franceses consideraram esta informação plausível, razão pela qual o tribunal condenou-a a 30 anos de prisão.

Ali Riza Polat, o braço direito de Coulibaly e principal cúmplice do ataque, que esteve presente no julgamento foi condenado igualmente a 30 anos de prisão. Os restantes condenados foram Amar Ramdani (20 anos de prisão), Nezar Pastor Alwatik (18), Willy Prévost (13), Saïd Makhlouf (8), Abdelaziz Abbad (10), Mohamed Amine-Farès (8), Metin Karasular (8), Mohamed Amine-Farès (8), Miguel Martinez (7), Michel Catino (5) e Christophe Raumel (quatro anos de prisão, dos quais já cumpriu três).

O acórdão foi conhecido nesta quarta-feira após quase três meses e meio de processo judicial e mais de 150 testemunhas e especialistas que tentaram reconstituir os atentados de janeiro de 2015.

Este veredito diz respeito não só ao ataque à redação do jornal satírico Charlie Hebdo, levado a cabo pelos irmãos Kouachi e no qual morreram 12 pessoas, mas também aos ataques perpetrados nos dias seguintes por Amedy Coulibaly, com a morte de uma polícia em Montrouge, nos arredores da capital, e a morte de quatro pessoas num supermercado judeu.

Apesar de nenhum dos réus ter participado diretamente nos atentados - já que os autores foram mortos no local dos diferentes ataques -, foram condenados por terem ajudado na logística dos crimes, e alguns deles por cumplicidade.

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