A coordenação distrital de Aveiro do BE acusou hoje a Caixa Geral de Depósitos (CGD) de instalar no exterior da sua agência de Vale de Cambra "picos anti-sem abrigo", numa medida que diz ser reveladora de discriminação social. No entanto, o banco diz que a decisão visa impedir "atos de atentado ao pudor" que já foram participados à GNR..Em causa estão faixas de metal, das quais se elevam vários cilindros com cerca de 10 centímetros de altura, todos espaçados entre si e rematados por extremidades pontiagudas.."Aquele local sempre foi usado para algumas pessoas se sentarem e só depois de um sem-abrigo começar a sentar-se lá é que colocaram os pinos", refere o Bloco de Esquerda em comunicado..A colocação destes picos "é reveladora de um total desprezo e falta de solidariedade para com as pessoas mais desprotegidas da nossa sociedade", defende a distrital do BE, que exige a "rápida retirada desse instrumento de tortura social" das instalações da CGD..Fonte oficial do banco explica que "fez estas obras de modo a proteger os seus clientes, que têm o direito de frequentar a agência sem serem incomodados por atos de atentado ao pudor praticados por uma pessoa que passou a fazer da montra do banco o seu local de vida, com tudo o que decorre de uma situação destas em termos de higiene do espaço público"..Referindo que a situação foi participada "no início do ano" aos serviços de Ação Social da Câmara Municipal de Vale de Cambra, a mesma fonte lamenta que "as autoridades competentes não tenham conseguido resolver este problema, que afeta e preocupa os clientes que têm contacto com a agência"..A CGD realça ainda que a situação já motivou "em maio uma participação formal de denúncia de atentado ao pudor à GNR", pelo que o banco "reitera o pedido de auxílio às autoridades públicas competentes, de modo a encontrar-se uma solução que seja digna para todos"..O Bloco de Esquerda afirma que a agência de Vale de Cambra está a "copiar o que os especuladores imobiliários andaram a fazer em Londres" e reflete assim uma postura de "discriminação social que é impensável numa sociedade que se diz moderna e democrática"..Para o BE, "a colocação destes picos anti-sem abrigo é reveladora de um total desprezo e falta de solidariedade para com as pessoas mais desprotegidas" da sociedade portuguesa - vítimas, aliás, "de um modelo social falhado e de uma crise provocada em grande medida pela própria banca"..O comunicado acrescenta que "esta atitude anti-solidária e violenta" é agravada pelo facto de ser protagonizada por uma instituição cujo setor de atividade "tem beneficiado de resgates sucessivos por parte dos portugueses, incluindo dos mais pobres"..A gerência da CGD de Vale de Cambra remeteu para a sede do banco em Lisboa os esclarecimentos sobre o assunto, admitindo que a instalação dos contestados pinos metálicos resultou de "uma decisão que não é da agência, mas central"..A Câmara de Vale de Cambra, por seu lado, explica que em causa está "um cidadão reformado, que não é sem-abrigo, mas sofre de alcoolismo"..A situação do indivíduo vem sendo acompanhada "há anos" e, ainda em 2016, os serviços da autarquia o encaminharam para tratamento de reabilitação numa instituição especializada, o que não impediu a sua recaída mais tarde.."A Câmara já fez tudo o que lhe cabia no âmbito das suas competências", garante fonte da autarquia. "Nesta fase, e uma vez que o senhor em causa se recusa a sujeitar-se a novo tratamento, a eventual solução seria o seu internamento compulsivo, mas essa decisão já dependerá sempre do Ministério Público e das autoridades da área da Saúde - neste caso concreto, da Saúde Mental", conclui.