As centrais sindicais mexem-se. Os dois líderes, Arménio Carlos (CGTP) e Carlos Silva (UGT), estão de saída. O DN foi ver quem serão os senhores que se seguem. Ou senhoras. Sim, há a hipótese de uma mulher substituir Arménio Carlos na liderança da CGTP - que conquistou em janeiro de 2012 sucedendo a Manuel Carvalho da Silva. Têm sido três os nomes referidos: Ana Pires, Isabel Camarinha e Fátima Messias..As três integram a comissão executiva da central - e todas são, evidentemente, militantes do PCP (mas só uma no Comité Central)..Ana Pires vem do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), que tem uma greve marcada para os trabalhadores de supermercados, hipermercados, armazéns, logísticas e lojas especializadas da grande distribuição no dia 31 deste mês). Terá o handicap de ser muito jovem (40 anos)..Já Isabel Camarinha vem também do CESP - mas não terá o problema da falta de experiência sindical (tem 59 anos). Contudo, diz-se entre os sindicalistas que faz falta na liderança da Federação Portuguesa dos Sindicatos do Comércio e Serviços..Por último, Fátima Messias, 58 anos, que foi dirigente da Federação Portuguesa dos Sindicatos da Construção, Cerâmica e Vidro, da União dos Sindicatos de Lisboa, integra o conselho nacional da CGTP e já lá tinha estado no mandato 1999-2003. Chegou pela primeira vez à comissão executiva em 2004, cumprindo um mandato (até 2008), e voltou em 2016. Das três, é a única que integra um órgão nacional de direção política no PCP, o Comité Central. Mas também tem um problema, porventura inultrapassável: é casada com Arménio Carlos..O XIV Congresso da CGTP-In está marcado para os dias 14 e 15 de fevereiro, no Seixal. A mecânica da organização diz que no primeiro dia (uma sexta-feira), os congressistas elegerão o conselho nacional. Este órgão elegerá a comissão executiva. Daqui sairá, na mesma sexta-feira, uma proposta de novo secretário-geral para o novo conselho nacional deliberar. E, feita a votação, no sábado já só será tempo de discutir política, com a eleição dos órgãos nacionais resolvida..Arménio Carlos, 64 anos, forjado como sindicalista na Carris (onde é eletricista), decidiu que ao fim de dois mandatos (oito anos ao todo) estava na altura de sair. Dentro da central há uma norma segundo a qual os dirigentes cessam funções no caso de atingirem o limite de idade da reforma durante o mandato futuro..Sendo membro do Comité Central do PCP, Arménio Carlos já se excluiu, no entanto, do problema da liderança do partido (a sucessão de Jerónimo de Sousa será resolvida no congresso que o partido convocou para novembro deste ano): "Isso está definitivamente posto de parte. Quer a liderança quer outros cargos de liderança política." Arménio promete que assim que cessar funções se apresentará de novo na Carris..O nome do futuro líder será decidido pela todo-poderosa corrente comunista na central, fortemente maioritária em todos os órgãos nacionais. Dos vários nomes referidos, aquele que, segundo as fontes do DN, parece reunir mais condições é Rogério Silva, coordenador da vasta Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Elétricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas Fiequimetal (Fiequimetal). É novo (ainda não tem 50 anos), liderou a Interjovem (organização de juventude da CGTP) e integra órgãos nacionais da CGTP desde 1993. E, claro, é militante do PCP..Segundo a Lusa, outro nome com destaque é o de José Correia, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL), o maior sindicato português, com cerca de 70 mil sócios. O sindicato tem peso na CGTP - até pelo peso que o poder local tem no PCP - e Correia tem um percurso sindical visto por muitos como "robusto": é dirigente desde 1995 e está na comissão executiva da CGTP desde 2012. Já Mário Nogueira, líder da Fenprof - provavelmente o líder sindical mais conhecido da central, até mais do que Arménio Carlos -, prefere ficar no sítio onde está, a dirigir as lutas dos professores..Desgosto com o PS.Na UGT, Carlos Silva, o secretário-geral, surpreendeu há dias anunciando que não será recandidato à liderança. A surpresa não foi tanto pelo conteúdo da decisão mas antes pela antecedência: o congresso da UGT será apenas em abril do próximo ano..Contudo, os socialistas da central sindical já preparam a sucessão - e a respetiva Tendência Sindical escolherá o candidato em julho próximo. Será então um militante do PS a suceder a um militante do PS, como na CGTP será um (ou uma) do PCP a suceder a um do PCP..Carlos Silva fez o anúncio há dias numa entrevista ao Porto Canal, deixando no ar queixas diretas em relação ao PS (e em particular a António Costa): "O desgaste tem sido tremendo. Sinto que hoje, mesmo a nível do PS, não tenho o necessário apoio nem a necessária compreensão para poder recandidatar-me. Não vale a pena continuar a chover no molhado", afirmou, queixando-se de ser visto como uma "força de bloqueio"..Agora prepara-se a sucessão. Um dos nomes mais falados é o de Sérgio Monte, um dos secretários-gerais adjuntos de Carlos Silva, com origem no Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes Rodoviários e Afins (Sitra). Mas a idade não o ajuda: quando o congresso da UGT se realizar terá 65 anos..Quem parece mesmo mais indicado, segundo as fontes da central ouvidas pelo DN, é José Abraão, líder do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos (Sintap) e membro do secretariado nacional da central - além de membro da comissão política nacional do PS. Experiência sindical não lhe falta e o setor que representa é forte - porventura o mais forte no sindicalismo dos dias de hoje, a função pública..De fora da corrida parecem estar Rui Riso e Mário Mourão, do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas e dos Bancários do Norte, respetivamente. As duas estruturas estão em conflito, o que desaconselha a escolha de qualquer um para liderar a central - e sabe-se como os bancários foram importantes na afirmação da UGT. Tanto um como outro são vice-presidentes da UGT e, é claro, militantes do PS.