Em Loikaw, no estado de Kayah, cerca de 30 mosteiros estão abandonados e os seus ocupantes deixaram a cidade, a bordo de dezenas de camiões, disse à agência francesa de notícias AFP uma testemunha, pedindo anonimato..Não longe de Loikaw, vários monges deixaram a povoação de Demoso, acrescentou..As duas localidades situam-se a 200 quilómetros a leste de Naypyidaw, onde há vários dias decorrem violentos combates entre os grupos rebeldes e as forças do exército, que têm recorrido a ataques aéreos e tiros de artilharia.."É difícil tomar a decisão de partir, mas temos de o fazer. É impossível ficar", contou um monge, que se juntou a uma comunidade isolada do estado de Shan (leste)..As Nações Unidas estimam que metade da população de Loikaw tenha sido forçada a partir e que perto de 90 mil pessoas do estado de Kayah tenham fugido..Segundo os media locais, existem mais de 170 mil deslocados na região..Em Loikaw, os combatentes rebeldes ocuparam igrejas e casas abandonadas e forçaram a entrada numa prisão para incitar os reclusos a juntarem-se a eles, segundo um polícia local. "A cidade está deserta. A situação é muito complicada", relatou..A Birmânia está mergulhada no caos desde o golpe de Estado militar de 1 de fevereiro do ano passado, que derrubou Aung San Suu Kyi e pôs fim a uma década de transição democrática..Numa altura em que a situação sanitária e humanitária é crítica, os militares estão, segundo a Human Rights Watch, a bloquear a chegada de ajuda e medicamentos às zonas onde a resistência é mais forte..O relator especial das Nações Unidas para a Birmânia, Tom Andrews, já instou o chefe da junta militar, Min Aung Hlaing, a "acabar com os ataques aéreos e terrestres" contra Loikaw e a "deixar passar a ajuda humanitária"..Mas a comunidade internacional não tem muita margem de manobra para resolver a crise, já que a junta militar não responde aos apelos das Nações Unidas e da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN)..Desde o golpe de Estado, mais de 1.400 civis foram mortos pelas forças da ordem e mais de 11 mil foram detidos, segundo uma organização não-governamental local..Condenada a seis anos de prisão, Aung San Suu Kyi, com 76 anos, está detida em local secreto há um ano..Hoje, o chefe da diplomacia das Filipinas escreveu, na rede social Twitter, que Aung San Suu Kyi é "indispensável" ao restabelecimento da democracia na Birmânia..Teodoro Locsin reagiu assim à nova condenação de Suu Kyi por um tribunal militar..No dia 10, a Nobel da Paz foi considerada culpada de três acusações e condenada a quatro anos de prisão. Ao mesmo tempo, o tribunal da junta acrescentou cinco novas acusações de corrupção aos muitos processos que já pendem contra a ex-dirigente..A condenação foi criticada por países ocidentais, como Estados Unidos e Noruega, mas as nações asiáticas mantiveram-se, na maioria, em silêncio, agora interrompido pelo chefe da diplomacia filipina..Em abril, a ASEAN negociou com a junta militar um acordo para restaurar o diálogo na Birmânia, mas este produziu poucos resultados..Em outubro, a organização excluiu de uma cimeira o chefe da junta militar, o general Min Aung Hlaing, em resposta à recusa para que um enviado internacional se encontrasse com Suu Kyi.