O partido está a reestruturar-se, estranho seria se não o fizesse." É assim que o secretário-geral do CDS, Pedro Morais Soares, reage às notícias de que estão em curso violentos cortes nas despesas e na redução de funcionários do partido e ao pedido de contas do candidato anunciado à liderança do partido Abel Matos Santos. "É preciso conhecer o buraco financeiro do partido e não temos acesso a esses dados", garante. E relembra que vieram a público notícias que apontavam para uma dívida de dois milhões de euros.."Uma dívida de dois milhões de euros? É totalmente falso", garante o secretário-geral centrista, embora sem revelar qual o verdadeiro montante de encargos que CDS tem sobre os ombros, desde que viu a sua bancada parlamentar reduzida de 18 para cinco deputados. Frisa que as contas dos partidos "são aprovadas em cada ano civil", pelo que as de 2019 - que tiveram dois atos eleitorais e respetivas campanhas - "estão a ser fechadas"..Pedro Morais Soares também não quer revelar a profundidade da reestruturação em curso - que sedes serão fechadas, que funcionários despedidos, que despesas cortadas - porque diz que"é um processo em curso". Argumenta que "tem de se perceber que o CDS ficou muito aquém do que trabalhou para obter nas eleições europeias e legislativas". Os resultados são um imperativo que determina o montante da subvenção pública aos partidos e que é a principal fonte de financiamento. No caso do CDS, o corte foi de 57% do que o partido de Assunção Cristas recebeu na legislatura passada.."A reestruturação está a ser articulada com as distritais e concelhias. Estamos a renegociar os contratos das sedes e a baixar os custos com as estruturas", diz Pedro Morais Soares. "É duro, mas tem de ser feito." Não diz quão duro é, mas não negou as notícias que vieram a público e que apontam para despedimento de assessores, secretárias e até um motorista a trabalhar para o partido há muitos anos, bem como eventuais cortes salariais dos funcionários do grupo parlamentar. O CDS deverá sobreviver com cerca de 53 mil euros por mês para todas as despesas, apurou o DN..O secretário-geral do CDS nega, no entanto, que o encerramento das sedes de Matosinhos e de Valongo tenha que ver com este processo. "Já estava previsto porque não tinham utilização", frisa..Partido feudal?.Quem veio exigir a clarificação das contas do partido foi o candidato anunciado à liderança do CDS Abel Matos Santos. "Ninguém tem acesso às contas", garante, e diz que essa exigência foi feita no último Conselho Nacional do partido, sem resposta por parte da direção..O também líder da Tendência Esperança e Movimento (TEM), a ala mais conservadora do partido, sublinha que "andamos há mais de dois anos a pedir transparência nas contas". E, mesmo sem as conhecer, atira: "Quando se andou a acusar o governo de José Sócrates de levar o país à bancarrota, o que dizer agora do CDS tecnicamente falido?".Abel Matos Santos quer saber a dimensão do "buraco" financeiro do partido e exige contas sobre a venda de terrenos da sede do CDS do Porto. "Para onde foi o dinheiro?", questiona. "É muito importante que o partido deixe de ser um feudo e de funcionar de forma oligárquica", insiste..O candidato à liderança do CDS insiste que "a secretaria-geral e a presidente do partido têm a obrigação de prestar contas ao partido". E garante que não vai desistir de confrontar a direção com o assunto, num momento em que o partido ainda vive na indefinição sobre os candidatos que se perfilarão na corrida ao lugar de Assunção Cristas..Segundo contas feitas pelo Jornal de Notícias, no que diz respeito ao financiamento da campanha eleitoral das legislativas, o CDS gastou 700 mil euros e só irá receber 644 mil euros..E pelo facto de só ter conseguido 221 774 votos e cinco mandatos no Parlamento, o CDS receberá do Estado durante a próxima legislatura, por ano, 628 mil euros para o partido e oito mil euros para os deputados eleitos. É com estas verbas, a que se somam as quotas dos militantes, que o partido tem de fazer face às despesas..Nas legislativas de 2015, a Coligação Portugal à Frente, entre o PSD de Pedro Passos Coelho e o CDS de Assunção Cristas, elegeu 99 deputados, sendo 18 da bancada centrista, e recebeu 5,6 milhões de euros. Dinheiro que foi repartido proporcionalmente pelos dois partidos..Manuel Monteiro na gaveta?.Abel Matos Santos também encontra esses "tiques" de partido feudal no processo de refiliação de Manuel Monteiro. "Já questionei o secretário-geral sobre se a filiação está na gaveta, porque ainda não lhe deram nem cartão nem número de militante", apesar de ter apresentado a sua ficha há mais de um mês na concelhia da Póvoa de Varzim. A revista Sábado revelou na semana passada que já houve tentativas de inscrição entregues após a de Monteiro a serem oficializadas..Abel Matos Santos explica que Manuel Monteiro - o antigo presidente do partido que deixou a liderança em 1998 e acabou a fundar um novo partido, a Nova Democracia, em 2003 - é legalmente militante a partir do momento em que a sua refiliação no partido foi aprovada, e por unanimidade, na concelhia da Póvoa de Varzim.