Católicos e protestantes formam Governo na Irlanda do Norte
É talvez o ponto alto da carreira de Tony Blair. Ian Paisley, o clérigo radical que lidera o Partido Democrático Unionista (DUP), e Martin McGuinness, do Sinn Féin, tomaram ontem posse na Assembleia de Stormont, em Belfast, como primeiro-ministro e vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte , consumando a devolução de poder e a constituição de um executivo partilhado por protestantes e católicos.
O momento histórico foi apadrinhado por Blair e pelo primeiro-ministro irlandês, Bertie Ahern. Um final feliz que culmina décadas de violência e é uma cereja no bolo para Blair, que iniciou as negociações há dez anos e esta semana deverá anunciar a data da resignação como primeiro-ministro. Para trás ficam cinco anos de administração provisória de Londres marcada por divergências constantes entre os dois principais partidos norte -irlandeses.
Ian Paisley, reverendo protestante de 81 anos, lutou toda a vida para manter a província no Reino Unido e sempre disse que "jamais" se sentaria à mesa com terroristas, referindo-se aos dirigentes do Sinn Féin. Surpreendentemente, o "Dr. Não", como era conhecido, acedeu a formar um governo conjunto, decisão que surpreendeu muitos membros do seu partido e lhe trouxe inimigos, que o acusam de ser um "traidor".
Ontem, no primeiro dia como líder do novo executivo da Irlanda do Norte , Pasley apresentou-se com um discurso conciliador e virado para o futuro, afirmando: "Iniciamos um caminho que nos conduzirá à paz e prosperidade". Palavras em sintonia com McGuinness, ex-comandante do IRA , que frisou: "A partir de hoje damos o passo mais importante deste processo em 15 anos".
O executivo será responsável pela administração das questões do quotidiano, com ajuda financeira de Londres. Fica completo o ciclo iniciado pelos Acordos de Sexta-Feira Santa, em 1998, que se espera vir a pôr ponto final num conflito com mais de 30 anos e 3500 vítimas.