Castanheira de Pera: homicida do Seixal foi matar-se à porta de casa dos pais
Na pequena vila de Castanheira de Pera, a comunidade está ainda incrédula. Quando nesta manhã um funcionário municipal se cruzou com Pedro Henriques, junto aos depósitos de água, não podia imaginar que, minutos depois, haveria de o descobrir já morto, ao lado de uma caçadeira. O local fica próximo da casa dos pais do ex-segurança, a mesma onde cresceu e morou até à juventude. E até ao início desta manhã - quando foi descoberto o cadáver - ninguém podia imaginar que o alegado homicida (da sogra, Helena Cabrita, e da filha, Lara, de 2 anos) andava por ali.
Há muitos anos que Pedro Henriques - o mais novo de três irmãos - deixara Castanheira de Pera. Como é comum naquele concelho do interior norte do distrito de Leiria, em que escasseia o emprego, a maioria dos jovens saem cedo da terra. Mas, ao contrário de muitos, Pedro não mantinha relações de amizade por ali. Fonte próxima da família - que prefere não ser identificada - contou ao DN que "até com os pais ele mantinha uma relação conflituosa". O pai, contabilista aposentado, foi funcionário da Fiandeira Castanheirense por muitos anos, enquanto a mãe era doméstica. "Ainda nesta manhã me cruzei com o pai, quando vinha de comprar o jornal", conta a mesma fonte, segura de que "o pai não saberia de nada, de que o filho cá estava".
Os vizinhos acreditam que Pedro Henriques terá entrado em casa dos pais "à socapa", e sabendo onde o pai - caçador nas horas vagas - guardava a arma, a terá ido buscar já com o objetivo de se suicidar, à hora em que o progenitor comprava o jornal na vila. Pedro Josué, o funcionário municipal que encontrou o corpo, pouco depois das nove da manhã, recusou prestar declarações sobre o sucedido. De resto, a maioria dos habitantes da vila seguem-lhe o exemplo. Mas terá relatado aos colegas e às autoridades o momento em que se cruzou com Pedro Henriques, sem saber que estava perante um foragido.
Contactada pelo DN, a presidente da Câmara de Castanheira de Pera, Alda Correia, mostrou-se desolada com a notícia. "Isto foi mais do que uma surpresa para toda a gente, foi uma tragédia", disse a autarca, que conhecia bem a família do homicida. Também o presidente da junta de freguesia, José Lourenço, secunda esse estado de alma. "A terra é pequena e todos nos conhecemos. É normal que esteja tudo consternado", concluiu.
À medida que o tempo passa permanece a dúvida sobre como terá Pedro Henriques chegado a Castanheira de Pera, a mais de 200 quilómetros do Seixal. Quando às 08.30 ligou para as autoridades a avisar que o corpo da pequena Lara estaria na bagageira do carro, num parque de estacionamento em Corroios, Pedro Henriques já estaria na terra dos pais.
A investigação, a cargo da Polícia Judiciária de Coimbra, com o apoio do destacamento de Pombal da GNR, terá de seguir o rasto do ex-segurança, desde que deixou o seu próprio carro, na margem sul do Tejo, até ao momento em que terá cometido suicídio, algumas horas depois, perto da casa dos pais. Levantam-se agora várias dúvidas: terá sido ajudado por alguém? Terá apanhado o comboio em Corroios até Lisboa e daí seguido até à estação mais próxima (Pombal ou Coimbra), viajando na linha do norte?