Caso dos e-mails: "É a prova de que João Meneses não tinha lugar neste governo"
"Não posso contornar que o Dr. João Meneses foi meu secretário de Estado. O que tem acontecido é a prova de que o Dr. João Meneses não tinha lugar neste governo." Foi esta a reação do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, quando confrontado pelos jornalistas sobre a eventual revelação de e-mails trocados com o ex-secretário de Estado da Juventude e Desporto, relativos ao chefe de gabinete Nuno Félix, que se demitiu há uma semana após a polémica das falsas licenciaturas.
À margem da conferência "A voz dos alunos", o ministro disse que a "sucessão de factos têm-se confirmado em si mesma". E especificou: "Primeiro tinha conhecimento de alguns factos que eram menos lícitos, depois já não tinha. Tinha pedido a exoneração de um chefe de gabinete, depois já só tinha adiado. Basicamente, isto tem sido uma sucessão de não sentidos que fazem que os factos deixem de ser factos por si próprios." Tiago Brandão Rodrigues assegurou não se sentir "de todo" beliscado e diz que trabalha com "serenidade e tranquilidade".
"Excesso de interferência"
As declarações do ministro foram feitas depois de gravada a entrevista de Wengorovius Meneses, que passou esta sexta-feira no Jornal da Noite da SIC, e na qual o ex-secretário de Estado criticou o "excesso de interferência" da parte do ministro. "Não respeitou a minha autonomia e soberania como membro do governo", indicou, garantindo que o ministro "com muita frequência tinha de consultar terceiros" quando era preciso fazer nomeações - dando depois um exemplo que envolvia a Juventude Socialista.
Sobre se o ministro tinha ou não conhecimento das alegadas licenciaturas falsas de Nuno Félix, explica que nunca disse que ele sabia. "Não especulo em público se sabia ou não", indicou, sempre repetindo que os dois eram amigos, tinham uma relação quotidiana com reuniões quase diárias e que só o tinha aceitado como seu chefe de gabinete por achar que o ministro queria ter "um elo de ligação entre nós que fosse alguém que conhecesse bem".
Em relação à alegada pressão para que não demitisse Nuno Félix, a SIC revelou excertos dos e-mails do ministro e do então secretário de Estado. Num deles, a 30 de março, Wengorovius Meneses revela que quer nomear Inês Vasconcelos Proença como sua chefe de gabinete. A 4 de abril insiste que "é muito complicado ter um chefe de gabinete de baixa". No dia seguinte, o ministro responde que "a cônjuge de Nuno Félix se encontra internada (...) com uma situação clínica complexa e preocupante" e que espera toda "a ajuda, apoio, consideração e flexibilidade do gabinete" para este tema. Em nenhum e-mail, segundo a SIC, há uma ordem clara do ministro para travar a exoneração.
Na entrevista, Wengorovius Meneses diz que não está a fazer nenhum "ajuste de contas". Contudo, não poupou as críticas ao ministro: "Tinha a expectativa que fosse um refrescamento da política portuguesa, é alguém jovem e que fez uma carreira na área da ciência com todo o mérito, presumo, e com algum carácter independente face ao que são as dinâmicas próprias dos partidos", afirmou. "Nesse ponto de vista, desiludiu-me por não ter confirmado a sua independência de espírito, a sua lealdade a um conjunto de valores que eu considero essenciais quando se exerce um cargo público." Com S.S.