O único carteiro do Corvo levou dois meses a memorizar o nome dos 400 habitantes da mais pequena ilha dos Açores, onde as portas não têm número e o correio chega por vezes apenas com o nome do destinatário.."Neste momento conheço toda a gente, mas quando para cá vim levei cerca de dois meses a aprender o nome de todas as pessoas", disse à agência Lusa Orlando Rosa, de 45 anos, carteiro e chefe da estação dos Correios da Vila do Corvo..Nascido no Pico e com uma breve passagem pela ilha do Faial, foi no Corvo, em 1997, que Orlando Rosa se fez carteiro, função acumulada agora com a chefia da loja dos CTT.."Tive de decorar o nome das pessoas todas e conheço toda a gente", garantiu Orlando Rosa, explicando que nos 17 quilómetros quadrados da ilha as casas "não têm número de porta"..Não raras vezes, o correio tem como destinatário apenas o nome da pessoa e Corvocom o respetivo código postal e "praticamente mais nada".."Quando não tem alguém em casa e preciso de apanhar uma assinatura eu sei onde é que as pessoas trabalham, porque conheço o dia-a-dia e sei onde estão naquele momento. Praticamente não passo um aviso", adiantou..O antigo presidente da Câmara do Corvo Manuel Rita esclareceu que, depois de ter comprado os números para as portas, acabou por mantê-los no armazém do município.."É mais rústico, é mais natural as casas sem número de porta", afirmou Manuel Rita, referindo que depois de "pensar bem" acabou por arrumá-los, pois, afinal, "toda a gente se conhece" no Corvo..Orlando Rosa explicou que os seus dias se dividem entre a distribuição do correio e o atendimento na estação..Antes, porém, vai ao aeródromo ou ao porto buscar o correio. Duas vezes por mês, o correio chega via marítima; três vezes por semana, no inverno, é por via aérea.."Os idosos recebem as cartinhas com as suas contas e com a sua pensão, o que é o normal que recebiam há 20 anos", afirmou Orlando Rosa, explicando que os jovens "utilizam muito a Internet" e são os destinatários das encomendas adquiridas 'online', porque no Corvo "não há muitas lojas para comprar"..Para Orlando Rosa, o "correio é muito importante para a vila": "Além de ser uma ilha isolada, é uma ilha pequenina"..A diretora comercial e operacional dos Açores dos CTT, Fátima Albergaria, disse à Lusa que em 2015 o tráfego de encomendas rececionadas no Corvo cresceu 43%, os registos 17% e o correio urgente ('express mail') 20%.."É um sinal de que, de facto, o correio, sobretudo as compras via eletrónica, registaram um crescimento substancial nesta ilha, provando a importância deste serviço para os ilhéus no acesso a bens que de outro modo não era possível", acrescentou Fátima Albergaria.